JAN MARTÍNEZ AHRENS
Presidente diz que a mediação da
China corre o risco de fracassar e que espera que Kim Jong-un seja “racional”
Mísseis balísticos da Coréia do Norte
Continua
a escalada. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disparou
os alertas globais ao sugerir que um confronto armado com a Coreia do Norteestá
sobre a mesa. “Há uma possibilidade de que possamos acabar tendo um grande,
grande conflito com a Coreia do Norte. Com certeza”, disse em uma entrevista à
agência Reuters. Embora o presidente tenha apostado na via diplomática, a
declaração, longe de acalmar as agitadas águas bilaterais, significa um novo
passo em direção a um confronto sobre o qual ronda o espectro nuclear.
Esquenta
a disputa com a Coreia do Norte. O claustrofóbico regime de Pyongyang tem uma
disputa histórica com os Estados Unidos. Seu
objetivo é ter um míssil intercontinental e durante 20 anos esteve
refinando seu armamento rudimentar até desenvolver uma bomba atômica de 30
quilotons (o dobro da usada em Hiroshima) e potência balística suficiente para
ameaçar a Coreia do Sul e o Japão.
Os
Estados Unidos tentaram parar esta escalada. Após o fracasso das sanções, optou
por aumentar a pressão militare até mostrou sua disposição de realizar um
ataque preventivo. Nesta coreografia enviou o poderoso porta-aviões nuclear
Carl Vinson e seu grupo de combate para as águas da península coreana. Ao mesmo
tempo, desenvolveu seu escudo de mísseis na Coreia do Sul. “A melhor maneira de
reduzir a tensão na península coreana é proporcionar um poder de combate crível
24 horas por dia, sete dias por semana”, disse o responsável militar no
Pacífico, almirante Harry Harris.
Essa
demonstração de poder serviu para fortalecer ainda mais a retórica de
Pyongyang. Por trás da cortina comunista se esconde uma tirania hereditária e
venenosa que fez da ameaça de guerra seu principal sinal de identidade. Uma
máquina de poder pessoal nas mãos do líder supremo Kim Jong-un que desafia
Washington, uma economia 1.600 vezes mais poderosa, com uma abordagem suicida:
a disposição de receber um bombardeio do maior exército do planeta, em troca de
atacar com uma arma nuclear, mesmo que seja apenas uma vez, seu inimigo ou
alguns dos aliados dele. Esse cenário aterrorizante conseguiu manter o regime à
tona e evitou que as pressões se transformem em ação militar até agora.
Neste
horizonte, Trump apostou por uma política de mão dura e, após o sucesso dos
bombardeios na Síria e no Afeganistão, já mostrou os dentes. A possibilidade de
que essa disputa termine em um confronto armado é vista pelos especialistas
como muito distante, mas a narrativa de Trump parece indicar o contrário.
“Gostaríamos de resolver essas coisas diplomaticamente, mas é muito difícil”,
disse na entrevista.
Consciente
do poder de suas próprias palavras, o presidente quis enfatizar a importância
das pressões políticas. Para isso insistiu no papel da China. O gigante
asiático que, na cosmogonia de Trump cumpria até recentemente o papel de grande
adversário dos Estados Unidos, passou a ser um aliado na questão norte-coreana.
“Acho que eles estão tentando. O presidente Xi Jinping não quer ver turbulência
ou mortes. É um bom homem, eu o conheço muito bem”, afirma Trump, que se reuniu
no início deste mês com o presidente chinês em sua mansão na Flórida. “Ele ama
a China e seu povo. Sei que gostaria de fazer algo, está tentando tudo que está
em suas mãos, mas é possível que não consiga”, acrescenta. Nesse panorama, com
um possível fracasso da mediação chinesa e a escalada nuclear em expansão,
Trump aproveita para enviar uma mensagem direta a Kim Jong-un: “Tem 27 anos. O
pai morreu e ele tomou o poder. E não é fácil nessa idade. Não dou nem tiro seu
crédito. Apenas digo que é difícil. E não sei se é racional ou não. Só espero
que seja.”
EL PAÍS
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