Notícia - Euronews
É comum
dizer que a tecnologia nos torna a vida mais fácil. O processo de automatização do setor industrial permite-nos comprar
produtos mais baratos. Mas também levanta a grande questão: será que, no
futuro, os robôs vão tirar os postos de trabalho aos humanos? Que lugar teremos
na sociedade e na economia?
Os
métodos de trabalho conheceram uma evolução drástica desde a Revolução
Industrial do início do século 19, um fenómeno que lançou as bases do mercado
laboral. Passámos para a produção em massa, assistimos ao aumento da procura
global, a vagas de criação de emprego e ao surgimento da classe média. Hoje em
dia, vivemos a Quarta Revolução Industrial e chegou a altura detomar decisões sobre o caminho que vamos realmente
seguir.
Breve retrato de uma Europa em
metamorfose
Sete em
cada dez trabalhadores europeus precisam de ter competências digitais. Um em cada três
não tem qualquer conhecimento na área e metade das pessoas em atividades pouco
qualificadas não trabalha com tecnologia.
Estima-se
que 9% do emprego no mundo desenvolvido esteja prestes a tornar-se
automatizado. Um em cada quatro postos de trabalho está a transitar para o mundo digital, numa lógica de
obter cada vez mais produtividade.
No
entanto, quatro em cada dez empresas dizem não conseguir encontrar
trabalhadores com as competências necessárias. Isto numa Europa onde existem 4
milhões de jovens desempregados e as funções em part-time aumentam, o que
implica um acesso à formação específica mais reduzido.
A
ausência de competências digitais reflete-se em remunerações 8% mais baixas. Os
países que não investiram no setor digital no passado são os que mais riscos correm de perder postos de trabalho para a
automatização.
“Vamos continuar a precisar de todos
os nossos empregados”
O
desdobramento das possibilidades implica fazer escolhas. A Alemanha está a
delinear o futuro com o programa Indústria 4.0, que debate temas como a duração dos horários
de trabalho e a concertação social, tudo sob o prisma do avanço inexorável da
tecnologia. O jornalista Damon Embling foi conhecer as instalações da Audi e
ver como a marca alemã se está a preparar para o futuro.
Todos os
anos são produzidos cerca de 600 mil veículos na fábrica da Audi, em Ingolstadt. Cada um deles é
construído por perto de mil robôs diferentes. E no horizonte está prevista mais
automatização, realidade virtual, impressão de metal a 3D… No entanto, o
construtor garante que não estão em causa os 44 mil postos de trabalho desta
unidade. “Vai haver grandes mudanças, mas vamos continuar a precisar de
todos os nossos empregados”, diz-nos Jochen Haberland, vice-presidente.
A
verdade é que há uma rutura evidente em relação aos métodos tradicionais: uma
startup, a Arculus, está a desenvolver para a Audi plataformas de montagem de
módulos totalmente autónomas, por exemplo. O diretor-executivo da Arculus,
Fabian Rusitschka, resume o conceito: “Imagine um centro comercial com 50
lojas. Numa linha de montagem normal, teríamos de passar por todas elas. Agora,
só entramos nas lojas de que realmente necessitamos. Por isso, terminamos mais
cedo”.
A
estratégia Indústria 4.0 reflete sobre novas formas de articulação entre a vida
profissional e a vida pessoal, que possam ser satisfatórias para os
trabalhadores. Segundo Jochen Haberland, “há muitas funções que já são
digitalizadas, sobretudo nos escritórios. Já implementámos o trabalho à
distância. Agora temos um projeto-piloto com horários flexíveis”.
“Será
que estamos preparados para lidar com um abrandamento do ritmo?”, perguntámos.
Patrick Heitmeyer, consultor de empresas: “Não creio que toda a gente
esteja preparada. A transição é lenta. Mas à medida que a tecnologia avança, e
as mentalidades mudam, o processo pode acelerar. Tudo vai mudar”.
A visão de Marianne Thyssen,
comissária europeia para o Emprego e Assuntos Sociais
Maithreyi Seetharaman, euronews: Quais são as atividades e
setores mais impactados por esta realidade? O que vai acontecer aos
trabalhadores mais velhos?
Marianne Thyssen: Hoje em dia, há 232 milhões de
pessoas na Europa que têm um emprego. Nunca atingimos um número tão elevado.
90% do trabalho tanto do presente, como do futuro, vai exigir um certo grau de
competências digitais. E, no entanto, mais de 40% da força de trabalho europeia
não as possui. Por isso, temos muito por fazer. As pessoas são levadas a ficar
mais tempo no mercado laboral e nós temos de tornar isso possível. Primeiro, é
preciso apurar que competências têm. Segundo, qual é o melhor caminho a nível
individual para que consigam progredir. Depois, é necessário atestar as suas
novas capacidades. Tudo isto é possível para pessoas, digamos, da minha idade…
euronews: Muitos receiam que a robótica
agrave as desigualdades económicas. Como evitar que isso aconteça?
MT: Nesta era digital também temos
de garantir boas condições de trabalho. Quem é que protege as pessoas que
trabalham para as novas plataformas? Ainda não é claro. Também é necessário
assegurar que toda a gente está integrada num sistema de segurança social, para
o qual contribuam para depois poderem usufruir dos seus benefícios, de acordo
com as condições pressupostas.
euronews: Quais são as mudanças
estruturais necessárias?
MT: Estamos a preparar o
lançamento de uma espécie de pilar dos direitos sociais, com princípios que
sirvam como um quadro de referência que permita atestar o comportamento das
políticas sociais e laborais a nível nacional e europeu.
euronews: Quais são os obstáculos que
têm pela frente?
MT: Uns são empregadores, outros
trabalhadores. Sabemos onde estamos e onde pertencemos. Mas há novas formas de
trabalho que temos de definir e dar um lugar no sistema de proteção social, no
sistema económico. Isso exige a reorganização das estruturas existentes nos
Estados-membros e a Europa pode ajudá-los.
euronews: Quem tem a responsabilidade de
preparar o futuro? São os cidadãos, são os governos, os políticos, o patronato?
MT: Todos são responsáveis. Temos
de nos adaptar e assumir a nossa própria responsabilidade. Mas os legisladores
têm obviamente a responsabilidade política de criar um contexto que torne isso
possível.
Euronews
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