Alexandre Schossler
Socialistas e direita quase fora do
páreo, outsiders na liderança das pesquisas, eleitores apáticos e indecisos: a
eleição presidencial francesa nunca foi tão imprevisível e inusitada.
Além de
sua importância crucial para o futuro da União Europeia, a eleição presidencial
francesa de 2017 chama a atenção por uma série de aspectos inusitados na
história da Quinta República.
Esta é,
por exemplo, a primeira eleição em que o atual ocupante do cargo não busca a
reeleição. O presidente François Hollande é tão impopular que abriu mão da
candidatura.
Os dois
principais partidos do país, o PS (socialistas) e Os Republicanos (direita)
optaram em suas primárias por deixar de lado os seus rostos mais conhecidos: o
premiê do governo Hollande, Manuel Valls, pelos socialistas, e o ex-presidente
Nicolas Sarkozy, do lado da direita.
A apatia
dos eleitores bate recorde. Pesquisas indicam que em torno de 35% não devem ir
às urnas. Se o percentual se confirmar, será a maior abstenção da história. Na
eleição anterior, em 2012, em torno de 20% não compareceram.
Tão
sintomática quanto a apatia é a indecisão de quem vai votar. No início desta
semana, cerca de um em cada quatro dizia que ainda pode mudar o voto. O número
é ainda mais impressionante se forem consideradas as enormes diferenças
ideológicas e programáticas entre os cinco principais candidatos.
Marine
Le Pen representa a extrema direita. Emmanuel Macron é um ex-socialista que
fundou um partido político há um ano, nunca concorreu a um cargo político,
mistura posições de esquerda e direita e é percebido principalmente como o
anti-Le Pen e pró-UE. Jean-Luc Mélenchon é da extrema esquerda, também ameaça
deixar a União Europeia (como Le Pen) e promete taxar os mais ricos.
As
pesquisas colocam Le Pen e Macron – dois outsiders – na liderança, o que também
é inédito, já que tradicionalmente a direita e os socialistas lideram a
corrida. Dependendo da pesquisa, o terceiro colocado também é um outsider:
Mélenchon.
Completam
a lista François Fillon, o candidato da direita, que oscila entre a terceira e
a quarta colocação, e o socialista Benoît Hamon, quinto colocado. Os dois
sofrem com a desconfiança de boa parte dos eleitores com os partidos tradicionais.
Se
Macron confirmar o favoritismo que as pesquisas lhe dão no segundo turno, a
França será pela primeira vez governada por um presidente que se apresenta
acima da esquerda e da direita, algo notável num país onde a política é
extremamente marcada pela dicotomia esquerda-direita.
Mas esta
é também a primeira vez que o resultado segue totalmente imprevisível às
vésperas do primeiro turno, com quatro candidatos mantendo boas chances de
seguir adiante. Se as pesquisas estiverem certas, e Le Pen e Macron forem para
o duelo final, será ainda a primeira vez que tanto a direita como os
socialistas estarão de fora do segundo turno.
Mas o
forte crescimento de Mélenchon nas últimas semanas e o grande número de
eleitores que ainda podem optar pelo voto útil na última hora fazem desta a
eleição presidencial mais imprevisível e inusitada na França em décadas. Além
de ser a mais importante, pelos reflexos que pode ter na relação do país com a
União Europeia.
Coluna Zeitgeist
DW – Deutsche Welle
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