Fausto Macedo
(*)
Em delação premiada, empreiteiro
revela o dia a dia com ex-ministro da Fazenda
Em sua
delação premiada, o empreiteiro Marcelo Odebrecht reconheceu que era “errada” a
sua relação com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. A convivência entre os
dois funcionava como uma via de mão dupla: de um lado, Marcelo tinha acesso direto
a Mantega, recorrendo ao ministro para resolver questões que atingiam os
negócios da Odebrecht; de outro, Mantega pedia que a empreiteira, uma das
maiores doadoras de campanhas eleitorais, destinasse dinheiro ao PT.
É aquela
história: você cria uma relação que é errada, uma relação que não deveria
precisar. A maior parte das empresas que não tem esse acesso (direto ao
ministro) não consegue nem resolver seus problemas. Na verdade, de certo modo
ele (Mantega) me escutava, me dava acesso à agenda, eu podia ter reuniões com
ele duas vezes por semana. É óbvio que eu também tinha essa facilidade porque
eu era um grande doador”, disse Marcelo.
“As
coisas que a gente levava (a Mantega) eram até coisas legítimas, pra destravar
um financiamento, é o orçamento do Prosub (Programa de Desenvolvimento de
Submarino). Eu não pedia nada a ele que não fosse correto, agora o errado está
em que eu tinha o acesso a ele baseado em eu ser um grande doador. A grande
ilicitude está aí. A gente acaba racionalizando de uma maneira errada. Mas não
é normal, não se pode considerar normal um negócio desses”, reconheceu o
empreiteiro.
Segundo
Marcelo Odebrecht, quando Mantega o chamava para alguma reunião, já se sabia
que “era para fazer o pedido de alguma coisa”.
“Ele
(Mantega) me chamava pra dizer ‘Preciso que você autorize cinco pro Vaccari
(João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT), ou não sei quanto’ e eu aí eu
aproveitava que ele tinha me chamado e já metia uma pendência que eu tinha na
época”, detalhou o executivo.
“Por
exemplo, muitas vezes eu ia lá fazer pedido, e no final da reunião, (Mantega
dizia) ‘Mas tem aquele nosso amigo, o Vaccari, o João Santana, precisa de 10 a
20’. Não era um vínculo direto, mas era como se fosse uma relação de mão dupla
que ele tinha em mim um grande doador e eu tinha uma agenda e um acesso a ele”,
comentou Marcelo.
Os
vídeos das delações de executivos da empreiteira Odebrecht foram liberados pelo
Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira, 12.
Estadão – blog Fausto
Macedo
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: é até difícil de acreditar que
a administração pública do nosso país tenha baixado a este nível. Que propinas
sempre houve - para quem conhece as relações entre políticos financiados e
eleitos pelo caixa 2 de empresas que prosperam em função dessas relações - é
sabido. O que não se sabia é que se tornou regra em vez de exceção, ao ponto de
ser discutida formalmente entre alguns empresários e os principais Ministros de
Estado, indicados para esta tarefa pelo próprio Presidente da República.
E pensar que o PT chegou ao Poder em grande parte
em função do seu discurso sobre ética na política e na gestão dos recursos públicos.
PS.: a “ética” do PMDB já era conhecida
antes da era PT.
Pelo menos desde 1986.
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