Vicente Nunes
É no mínimo
estarrecedor o que o Brasil está assistindo em relação à organização criminosa
que se instalou no governo. Está mais do que claro que nada, absolutamente
nada, que tem a mão do Estado vai adiante se a corrupção não estiver presente.
Qualquer que seja o contrato fechado, qualquer que seja a obra em andamento,
qualquer que seja a medida aprovada pelo Congresso, tudo tem como único
objetivo engordar o patrimônio das quadrilhas que assaltam o país. A
roubalheira não tem ideologia, vai da extrema direita à extrema esquerda.
Fico me
perguntando o quanto, nesses anos todos, se roubou de dinheiro público. Tenho
absoluta certeza de que o que foi desviado seria suficiente para resolver todas
as mazelas que a população enfrenta. Teríamos escolas de melhor qualidade,
hospitais em condições de atender todos os que precisam, segurança pública
próxima de países de Primeiro Mundo, estradas adequadas e não um convite à
morte. Arrisco-me a dizer que, talvez, não teríamos deficit na Previdência, ou,
no mínimo, haveria recursos de sobra no caixa do Tesouro Nacional para financiar
o rombo do sistema.
A frase
do presidente do Conselho de Administração da Odebrecht, Emílio Odebrecht, para
o ex-presidente Lula é um resumo da ganância dos grupos que tomam o governo de
assalto: “Seu pessoal está com a goela muito aberta”. Basta assumir um cargo
com um pouquinho de poder para que o sujeito transforme o Estado em um balcão
de negócios. Nada anda se não houver propina no meio do caminho. É por isso que
ninguém quer largar o osso. O governo, para essas quadrilhas, não foi feito
para servir o povo, mas para atender interesses pessoais e de grupos
específicos. Que se dane a população.
Sistema nefasto
A forma
de se fazer política no Brasil é nefasta. O PT, como todos sabemos, não só se
adequou ao esquema criminoso, como o multiplicou a níveis alarmantes. O partido
que vendia o discurso da ética, que pregava uma revolução na forma de governar,
que prometia varrer do cenário político corruptos e modelos ultrapassados,
assumiu o comando da organização que saqueou o país. Aliou-se ao que de pior
havia na vida pública. Não por acaso estão todos, petistas, peemedebistas,
peessedebistas, na lista de denunciados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Na hora
de roubar, não havia divergências ideológicas; no máximo, questionava-se os
valores das propinas a serem rateadas. Nas entranhas do poder, os integrantes
da organização criminosa zombavam da população. Em público, trocavam farpas.
Nos bastidores, prevaleciam os afagos e os acordos fechados para saquear o
Estado. Bobos daqueles que compraram o discurso de um lado ou de outro, como se
houvesse o lado do bem e o do mal. As delações da Odebrecht, simbolizadas pela
lista liberada pelo ministro Edson Fachin, do STF, explicitam que todos os
denunciados sempre estiveram na mesma vala, a do crime organizado.
Resta
saber se, ao tomar conhecimento de todo o esquema de corrupção no governo,
reforçado pelos depoimentos registrados em vídeos, a população vai se revoltar
e tomar as ruas. É muito pouco ficar criticando aqueles que saquearam o país em
filas de supermercado ou em mesas de bar. É preciso se indignar de verdade. Até
porque a Justiça levará anos para punir todos os que foram pegos pelas
delações. Se nos contentarmos com um lamento ali, outro acolá, os mesmos
políticos continuarão a dar as cartas no país, quando, na verdade, devem ser
varridos da vida pública.
País de santos
É
importante ter em mente que os políticos que saquearam o país foram os mesmos
que o empurraram para a maior recessão da história. Foram as medidas
mal-intencionadas da organização criminosa que levaram 13,5 milhões de pessoas
para as filas do desemprego. Ex-ministros da Fazenda dos governos petistas,
Antonio Palocci, o “italiano”, e Guido Mantega, o “pós-italiano”, estavam mais
preocupados em atender os pleitos da Odebrecht e em administrar o dinheiro da
propina do que em adotar as medidas concretas para manter o país no
crescimento.
Agora,
entende-se por que os dois foram os ministros mais fortes da Esplanada. Eram os
homens do dinheiro sujo que irrigava boa parte da organização criminosa.
Palocci e Mantega, como todos os denunciados, se apresentam como santos,
vítimas de perseguição política. Os delatados pela Odebrecht dizem que confiam
na Justiça e que toda a verdade será esclarecida. Descaradamente, continuam
debochando da população. Apostam que, apesar da comoção atual, tudo cairá no
esquecimento e eles continuarão usufruindo de um projeto de poder baseado na
corrupção. Infelizmente, o risco de eles estarem certos é enorme.
Aos
pobres mortais resta o poder do voto. E torcer para que o que sobrou de toda a
bandalheira consiga levar o país até o fim de 2018, quando teremos eleições.
Ninguém aguenta mais tanto descalabro e sofrimento. Pode ser que, num primeiro
momento, o terremoto provocado pelas delações da Odebrecht afete a recuperação
da economia. Mas, no fim das contas, deveremos ter um país melhor. Pensar que
toda a corrupção será extirpada é utopia. A boa notícia é que estamos mais
atentos. E que políticos travestidos de bons moços e afeitos a discursos
messiânicos estão com os dias contados. Pelo menos é isso o que desejamos.
Blog do Vicente –
Correio Braziliense
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