JUAN ARIAS
Este pode ser o momento de fazer as
reformas que os últimos cinco presidentes da República, todos eles sob
investigação, não quiseram ou não conseguiram fazer
Morreu
hoje o Brasil da velha República, o
da corrupção sistêmica que pôs a nu toda a classe política, sem distinção
de credos ou ideologias. Eles morrem juntos e abraçados. Surgirá, agora, um
Brasil novo e renovado? “Dependerá de nós, da sociedade. Precisamos estar
unidos para não voltarmos a ser enganados”, afirmam atropeladamente em sua
análise algumas pessoas que estão comprando o jornal na pequena banca do meu bairro.
Parecem convencidas de que, dos escombros dessa classe política, poderá nascer
um Brasil melhor, vigiado de perto pela sociedade.
Há um
consenso de que este pode ser o momento de fazer as reformas que os últimos
cinco presidentes da República, todos
eles sob investigação, não quiseram ou não conseguiram fazer. “É hora de
avançar para uma nova República”, diz-se na rua, em apoio a uma reforma
política e eleitoral que dificulte o assalto ao Estado com a finalidade de se
continuar reelegendo com campanhas milionárias. As pessoas querem que se acabe
com essa situação de tantos partidos, que, em vez de multiplicar a democracia,
criam o grande banquete da corrupção. Que se coloque um ponto final nessa
loucura que significa haver 33.000 pessoas gozando de foro privilegiado,
quando, nos Estados
Unidos, nem mesmo o presidente do país goza de tal regalia. Que se acabe
com as reeleições, que perpetuam os políticos no poder. E com os privilégios de
que eles gozam,para
que ninguém entre na política a fim de enriquecer, como disse uma vez José
Mujica a seu amigo Lula.
O lado
positivo do terremoto político que explode hoje em todas as manchetes dos
jornais impressos e online é que o Brasil está tomando consciência de que já
chegou a um beco sem saída. Ou se muda tudo ou tudo --e não só a classe
política-- irá por água abaixo. É preciso mudar de rumo e recomeçar com uma
democracia mais forte, robustecida com a experiência do passado. Daí porque se
fale até mesmo, neste momento, em uma nova Constituição. Quando a atual foi aprovada,
o país era outro.
Tinha acabado de sair de uma
ditadura.
Hoje,
apesar de todos os pesares, o Brasil não é uma Venezuela. A democracia continua
de pé. E uma demonstração disso é o fato de que a Justiça
mantém sob sua mira nada menos do que cinco ex-presidentes da República e que
também serão investigados os presidentes da Câmara e do Senado. Uma coisa é
inquestionável: a sociedade sai dessa situação mais consciente de seu papel
imprescindível e mais vigilante. Faz-se necessário apenas que também consiga se
unir, deixando para trás as velhas divisões. O castelo desmoronou por inteiro.
Não ficaram de pé quaisquer pilares privilegiados. Será preciso reconstruir o
país juntos.
Sonhar
não é pecado, especialmente em momentos como este, em que parece se reacender a
esperança de um Brasil mais livre e mais limpo. Mais de todos.
EL PAÍS
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