Editorial
No ápice
do programa nacional de privatizações, nos anos 1990, houve quem alardeasse que
o país caminhava para um modelo de Estado mínimo. Os fatos desmentiriam
cabalmente tais temores.
Não
apenas as despesas e as receitas governamentais mantiveram-se em expansão
contínua, só agora freada, como o poder público conservou em suas mãos uma
ainda formidável coleção de empresas dos mais diversos perfis.
Apenas a
administração federal dispõe hoje de 48 estatais sob seu controle direto –entre
elas, a maior companhia do país em patrimônio, a Petrobras, e a maior
instituição financeira, o Banco do Brasil.
O número
chega a 154 se somadas as empresas subsidiárias dos grupos mais portentosos,
como o petroleiro, o elétrico e o financeiro.
Com as
privatizações retiradas da pauta política, o aparato estatal expandiu-se, em
quantidade e peso na economia, ao longo dos governos petistas –em ensaio de
emulação, com nova roupagem ideológica, do Estado empresário cujo auge se deu
no regime militar.
Verifica-se
agora, em detalhes mais precisos, a ruína vertiginosa de tal projeto. Conforme
dados recém-divulgados, os investimentos das companhias federais caíram a R$
56,5 bilhões no ano passado, num recuo de 60% ante o volume de 2013 (o maior deste
século).
Devastada
pela corrupção, posta às claras em dimensões inauditas, e pela queda dos preços
do óleo, a Petrobras encabeça com ampla dianteira o colapso. Empresas como
Eletrobras e Correios ainda buscam remendos para suas contas.
De
positivo, registre-se que o expansionismo desgovernado das estatais acabou
coibido pelas instituições da democracia e do mercado. Na era petista, o peso
de seus investimentos mal passou dos 2% do Produto Interno Bruto, contra
recorde de 7% durante a ditadura.
No entanto,
constata-se que o Estado delineado pela Constituição de 1988 –cuja prioridade
inequívoca é o bem-estar social– não dispõe de padrões duradouros e
satisfatórios para gerir a vasta rede de empresas que herdou.
Quando
estão à míngua, como agora, fala-se em austeridade, gestão profissional ou até
venda; ao menor sinal de bonança, assanha-se o mundo político por nomeações e
negócios que escapam ao controle dos orçamentos regulares.
Folha de São Paulo
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