Editorial-DW
Após
Trump afirmar estar preparado para agir sozinho contra Pyongyang, governo
norte-coreano ataca discurso agressivo de Washington e adverte comunidade
internacional que responderá a eventuais medidas punitivas.
A Coreia
do Norte advertiu, nesta terça-feira (04/04), que retaliará se a comunidade
mundial aumentar as sanções econômicas em represália aos recentes testes
militares de Pyongyang. A advertência do governo norte-coreano veio após o
presidente dos EUA, Donald Trump,
ter afirmado estar preparado para lidar sozinho com a Coreia do Norte caso
a China não intervir.
O
isolado Estado norte-coreano acelerou seu programa de mísseis nos últimos
meses, com uma série de testes. Analistas americanos afirmaram que a Coreia do
Norte parece estar preparando um novo teste atômico.
Pyongyang
já realizou cinco testes nucleares – dois deles no ano passado. Especialistas
estimam que a Coreia do Norte esteja adquirindo a capacidade de atingir os EUA
com uma arma nuclear.
Na
segunda-feira, o Ministério do Exterior da Coreia do Norte atacou
Washington por seu discurso agressivo e pelo exercício militar conjunto com a
Coreia do Sul e o Japão, visto por Pyongyang como um ensaio geral para uma
invasão.
As
"ações imprudentes" estão deixando a situação tensa na península
coreana "à beira de uma guerra", disse um porta-voz do ministério
norte-coreano, segundo a agência estatal de notícias KCNA. A ideia de que os
EUA poderiam privar Pyongyang de sua "dissuasão nuclear" por meio de
sanções é "o sonho mais selvagem".
"Agora
que os EUA não conseguem enfrentar a tendência dos tempos, mas incentivam o
confronto para estrangular a RPDC [República Popular Democrática da Coreia], a
RPDC não tem outra opção senão adotar a resposta necessária. O mundo logo
testemunhará os passos que a Coreia do Norte dará para frustrar a hedionda e
temerária batalha das sanções", disse o porta-voz sem elaborar detalhes. A
Coreia do Norte frequentemente faz ameaças inespecíficas por meio de sua mídia
estatal.
A
declaração norte-coreana foi emitida em resposta às ameaças de Trump e às
vésperas da primeira reunião entre o presidente americano e seu homólogo
chinês, Xi Jinping, que será realizada nesta semana no resort Mar-a-Lago na
Flórida.
Os
comentários do porta-voz do Ministério do Exterior da Coreia do Norte
foram proferidos horas antes de a Câmara dos Deputados dos EUA aprovar uma lei
que recoloca a Coreia do Norte na lista de países patrocinadores do terror,
além de passar uma resolução que denuncia o desenvolvimento nuclear e de
mísseis no país asiático.
O
Departamento do Tesouro dos EUA estabeleceu sanções a 11 representantes
empresariais norte-coreanos e uma empresa industrial na semana passada,
buscando isolar ainda mais a economia da Coreia do Norte.
Deutsche Welle: Trump disse que se a China não
cooperar para acabar com a ameaça nuclear e de mísseis da Coreia do Norte, os
EUA tomarão uma atitude sozinhos. Qual é a sua opinião sobre isso?
Hanns Günther Hilpert: A declaração é uma clara
contradição. Se os EUA pudessem resolver o problema da Coreia do Norte sem a
ajuda chinesa, Trump não precisaria de modo algum discutir a questão com Xi.
Basicamente, os EUA têm várias opções para enfrentar a questão da Coreia do
Norte. Mas todas essas alternativas representariam riscos elevados, seriam ineficazes
ou não produziriam os resultados desejados.
DW: Quais opções Trump teria caso
escolha agir unilateralmente?
HGH: Trump poderia estar pensando
em realizar ataques preventivos para destruir o arsenal nuclear e convencional
da Coreia do Norte. Mas essa estratégia traz consigo riscos militares e
políticos consideráveis. Outra possibilidade é obstruir o enriquecimento de
urânio do país, embora não esteja claro se isso pode ser feito ou não. Há
também outras opções como a imposição de um bloqueio marítimo, abater um
foguete norte-coreano quando estiver no ar ou um aperto adicional do já
rigoroso regime de sanções.
DW: Até agora, a Coreia do Norte
permaneceu inabalada com as ameaças de Washington. Quais cartas Pyongyang
tem para impedir uma intervenção militar liderada pelos EUA?
HGH: Se os EUA intervierem
militarmente, há o risco de a Coreia do Norte revidar. Não precisa ser um
ataque nuclear, mas pode ser convencional. A fronteira entre o Norte e o Sul
está muito próxima da área metropolitana de Seul. O poder de fogo do Norte
teria um impacto devastador na capital sul-coreana, levando a um nível elevado
e inaceitável de vítimas humanas e destruição material.
DW: Por que os EUA não querem
negociar com a Coreia do Norte?
HGH: Em minha opinião, negociar não
é uma questão para os EUA. Houve experiências ruins no passado negociando com a
Coreia do Norte. E se um acordo fosse feito, ele não seria confiável, porque os
norte-coreanos são conhecidos por não respeitar os tratados. Há um série de
incentivos para a Coreia do Norte continuar com seu comportamento atual. Na
melhor das hipóteses, as negociações podem atrasar o desenvolvimento de armas.
É por isso que o governo Trump fala mais sobre sanções do que negociações. Com
isso em mente, um retorno às chamadas "negociações entre seis partes"
também não ofereceria soluções.
DW: Qual poder tem a China?
HGH: A Coreia do Norte e a China
compartilham uma longa fronteira terrestre. O comércio com a China representa
90% das trocas comerciais de Pyongyang. Sem as importações chinesas e sem o uso
da fronteira terrestre para a circulação de produtos, a Coreia do Norte
enfrentaria problemas econômicos críticos. Assim, vemos como a China pode
exercer pressão no médio prazo. O que a China não pode fazer é controlar os
eventos que acontecem na Coreia do Norte. Portanto, os chineses também devem
lidar com o risco de instabilidade e agitação na Coreia do Norte.
DW: Você espera algum avanço
nessas questões durante o encontro entre Xi e Trump?
HGH: Eu estou curioso sobre o que
virá dessas conversas, mas agora não é o momento certo para especular.
Deutsche Welle
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