terça-feira, 4 de abril de 2017

Coréia do Norte ameaça retaliar EUA por sanções

Editorial-DW

Após Trump afirmar estar preparado para agir sozinho contra Pyongyang, governo norte-coreano ataca discurso agressivo de Washington e adverte comunidade internacional que responderá a eventuais medidas punitivas.
A Coreia do Norte advertiu, nesta terça-feira (04/04), que retaliará se a comunidade mundial aumentar as sanções econômicas em represália aos recentes testes militares de Pyongyang. A advertência do governo norte-coreano veio após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter afirmado estar preparado para lidar sozinho com a Coreia do Norte caso a China não intervir.

O isolado Estado norte-coreano acelerou seu programa de mísseis nos últimos meses, com uma série de testes. Analistas americanos afirmaram que a Coreia do Norte parece estar preparando um novo teste atômico.
Pyongyang já realizou cinco testes nucleares – dois deles no ano passado. Especialistas estimam que a Coreia do Norte esteja adquirindo a capacidade de atingir os EUA com uma arma nuclear.

Na segunda-feira, o Ministério do Exterior da Coreia do Norte atacou Washington por seu discurso agressivo e pelo exercício militar conjunto com a Coreia do Sul e o Japão, visto por Pyongyang como um ensaio geral para uma invasão.

As "ações imprudentes" estão deixando a situação tensa na península coreana "à beira de uma guerra", disse um porta-voz do ministério norte-coreano, segundo a agência estatal de notícias KCNA. A ideia de que os EUA poderiam privar Pyongyang de sua "dissuasão nuclear" por meio de sanções é "o sonho mais selvagem".

"Agora que os EUA não conseguem enfrentar a tendência dos tempos, mas incentivam o confronto para estrangular a RPDC [República Popular Democrática da Coreia], a RPDC não tem outra opção senão adotar a resposta necessária. O mundo logo testemunhará os passos que a Coreia do Norte dará para frustrar a hedionda e temerária batalha das sanções", disse o porta-voz sem elaborar detalhes. A Coreia do Norte frequentemente faz ameaças inespecíficas por meio de sua mídia estatal.  

A declaração norte-coreana foi emitida em resposta às ameaças de Trump e às vésperas da primeira reunião entre o presidente americano e seu homólogo chinês, Xi Jinping, que será realizada nesta semana no resort Mar-a-Lago na Flórida.

Os comentários do porta-voz do Ministério do Exterior da Coreia do Norte foram proferidos horas antes de a Câmara dos Deputados dos EUA aprovar uma lei que recoloca a Coreia do Norte na lista de países patrocinadores do terror, além de passar uma resolução que denuncia o desenvolvimento nuclear e de mísseis no país asiático.

O Departamento do Tesouro dos EUA estabeleceu sanções a 11 representantes empresariais norte-coreanos e uma empresa industrial na semana passada, buscando isolar ainda mais a economia da Coreia do Norte. 

Deutsche Welle: Trump disse que se a China não cooperar para acabar com a ameaça nuclear e de mísseis da Coreia do Norte, os EUA tomarão uma atitude sozinhos. Qual é a sua opinião sobre isso?

Hanns Günther Hilpert: A declaração é uma clara contradição. Se os EUA pudessem resolver o problema da Coreia do Norte sem a ajuda chinesa, Trump não precisaria de modo algum discutir a questão com Xi. Basicamente, os EUA têm várias opções para enfrentar a questão da Coreia do Norte. Mas todas essas alternativas representariam riscos elevados, seriam ineficazes ou não produziriam os resultados desejados.

DW: Quais opções Trump teria caso escolha agir unilateralmente?

HGH: Trump poderia estar pensando em realizar ataques preventivos para destruir o arsenal nuclear e convencional da Coreia do Norte. Mas essa estratégia traz consigo riscos militares e políticos consideráveis. Outra possibilidade é obstruir o enriquecimento de urânio do país, embora não esteja claro se isso pode ser feito ou não. Há também outras opções como a imposição de um bloqueio marítimo, abater um foguete norte-coreano quando estiver no ar ou um aperto adicional do já rigoroso regime de sanções.

DW: Até agora, a Coreia do Norte permaneceu inabalada com as ameaças de Washington. Quais cartas Pyongyang tem para impedir uma intervenção militar liderada pelos EUA?

HGH: Se os EUA intervierem militarmente, há o risco de a Coreia do Norte revidar. Não precisa ser um ataque nuclear, mas pode ser convencional. A fronteira entre o Norte e o Sul está muito próxima da área metropolitana de Seul. O poder de fogo do Norte teria um impacto devastador na capital sul-coreana, levando a um nível elevado e inaceitável de vítimas humanas e destruição material.

DW: Por que os EUA não querem negociar com a Coreia do Norte?

HGH: Em minha opinião, negociar não é uma questão para os EUA. Houve experiências ruins no passado negociando com a Coreia do Norte. E se um acordo fosse feito, ele não seria confiável, porque os norte-coreanos são conhecidos por não respeitar os tratados. Há um série de incentivos para a Coreia do Norte continuar com seu comportamento atual. Na melhor das hipóteses, as negociações podem atrasar o desenvolvimento de armas. É por isso que o governo Trump fala mais sobre sanções do que negociações. Com isso em mente, um retorno às chamadas "negociações entre seis partes" também não ofereceria soluções.

DW: Qual poder tem a China?

HGH: A Coreia do Norte e a China compartilham uma longa fronteira terrestre. O comércio com a China representa 90% das trocas comerciais de Pyongyang. Sem as importações chinesas e sem o uso da fronteira terrestre para a circulação de produtos, a Coreia do Norte enfrentaria problemas econômicos críticos. Assim, vemos como a China pode exercer pressão no médio prazo. O que a China não pode fazer é controlar os eventos que acontecem na Coreia do Norte. Portanto, os chineses também devem lidar com o risco de instabilidade e agitação na Coreia do Norte.

DW: Você espera algum avanço nessas questões durante o encontro entre Xi e Trump?

HGH: Eu estou curioso sobre o que virá dessas conversas, mas agora não é o momento certo para especular.

Deutsche Welle

Nenhum comentário: