Hélio Schwartsman
15% dos assassinatos são
esclarecidos no Brasil; no Reino Unido, a taxa é de 90%
No
Brasil, apenas 15% dos assassinatos são esclarecidos pela polícia. Para outros
ilícitos, as taxas são ainda mais acanhadas.
Isso
significa que, se o lucro esperado com a materialização do crime for alto,
cometê-lo é uma decisão perfeitamente racional. A chance de ser identificado,
afinal, é pequena, e a de ser condenado e cumprir pena, ainda menor. A título
de comparação, no Reino Unido e na França, os índices de solução de homicídios
são de 90% e 80%, respectivamente.
Com
números assim, não surpreende que as taxas de criminalidade sejam altas no
Brasil. Não vejo como mudar isso sem dar um banho de ciência nas nossas
polícias. Numa era marcada pelo “big data” e numa sociedade em que se tornou
quase impossível fazer algo sem deixar vestígios materiais ou virtuais, novos
métodos para a detecção e a elucidação de delitos é o que não falta.
Usando
um pouco de estatística, a Folha mostrou em reportagempublicada na semana
passada que as fraudes no Enem devem ser em número bem maior do que se
imaginava e ainda conseguiu apontar as provas que demandariam uma investigação
mais detalhada.
Nos EUA,
a polícia acaba de prender um “serial killer” que atuou na Califórnia mais de
40 anos atrás comparando amostras de DNA colhido na cena de um dos crimes com
dados de um site que traça a genealogia de pessoas. Os investigadores
encontraram parentes distantes do assassino e depois foram fechando o cerco.
Não é
que nada das novas tecnologias anticrime tenha chegado por aqui. A própria
operação Lava Jato é, se quisermos, a aplicação da teoria dos jogos, um ramo da
matemática, no combate à corrupção.
O que
incorporamos, porém, ainda é insuficiente. Quem entrar numa delegacia
brasileira encontrará poucos investigadores analisando dados e provas, mas verá
muitos escrivães tomando depoimentos de pouca utilidade da forma mais
burocrática que se pode conceber.
Folha de São Paulo
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