Editorial
Com a volta do deputado cassado José Dirceu à prisão, agora toda a
cúpula do primeiro governo de Lula da Silva, exercido de 2003 a 2006,
encontra-se na cadeia. Dirceu, Lula e o ex-ministro Antonio Palocci estão condenados
por corrupção. Nada há a celebrar nesse desfecho, a não ser o auspicioso fato
de que a Justiça, no Brasil, finalmente alcançou gente tão poderosa e com tanta
influência política. No mais, é triste que a República tenha sido entregue, por
meio de eleições livres, a indivíduos tão acintosamente despreparados para o
exercício minimamente ético do poder, gente que agiu à margem da lei de forma
sistêmica e profissional, usando como desculpa a fajuta promessa de “justiça
social”.
A coincidência - chamemos assim - da prisão dos três homens mais
importantes do primeiro mandato petista na Presidência dá àquela gestão ares de
organização criminosa - coisa que, aliás, já havia ficado razoavelmente clara,
até para o mais inocente observador, desde que estourou o escândalo do
mensalão, em 2005.
Recorde-se que a campanha eleitoral que levou esse pessoal ao poder
incluiu ferozes ataques aos políticos governistas de então, comparados, em uma
peça publicitária, a ratos que estavam a roer a bandeira do Brasil. A peça,
concebida pelo marqueteiro Duda Mendonça, veio acompanhada de um chamamento
dramático aos eleitores: “Ou a gente acaba com eles, ou eles acabam com o
Brasil. Xô, corrupção. Uma campanha do PT e do povo brasileiro”. Como se sabe,
Duda Mendonça confessou mais tarde que o PT pagou por esse e outros serviços
com transferências milionárias para contas secretas em paraísos fiscais, coisa
típica de quem tem muito a esconder. Era apenas um fiapo do mensalão, que se
revelaria um dos maiores escândalos de corrupção da história - só não foi o
maior porque, em seguida, viria o petrolão, que dificilmente será destronado.
O PT nunca admitiu a corrupção de seus próceres. Ao contrário,
tratou-os como “guerreiros do povo brasileiro”, como se tudo o que se comprovou
a respeito dos crimes por eles cometidos fosse mentira. Segundo os petistas, as
evidências colhidas contra Lula, Dirceu, Palocci e tantos outros - nada menos
que três ex-tesoureiros do partido foram encarcerados - integram uma imensa
conspiração das elites para impedir que os pobres tenham uma vida decente -
algo que, conforme o evangelho petista, só é possível com a turma de Lula da
Silva no poder.
Se resolvesse seguir à risca seus estatutos, o PT teria de expulsar
todos os que foram condenados por receber propinas, casos de Lula da Silva e de
seus parceiros. Mas é evidente que essa ameaça não vale o papel em que está
escrita. A expulsão está reservada aos que ousam mostrar que o rei Lula está
nu, como aconteceu com um dos fundadores do PT, Paulo de Tarso Venceslau, que
em 1997 denunciou um esquema de corrupção engendrado por um compadre do
demiurgo de Garanhuns em prefeituras administradas por petistas. A Paulo de
Tarso foi reservado o estigma dos traidores; já o esquema por ele denunciado
revelou-se um aperitivo do que viria a ser o petrolão.
Do PT não é possível esperar regeneração. Enquanto estiver sob o
domínio de Lula da Silva - e nada parece capaz de diminuir esse domínio, nem
mesmo sua condição de presidiário -, o partido será a expressão do cinismo dos
que se dizem campeões da “ética na política”, mas exercem o poder como se
nenhum limite moral lhes dissesse respeito, ademais de se considerarem
proprietários do governo, e não inquilinos temporários. É isso o que explica
por que razão Lula da Silva, José Dirceu e Antonio Palocci, esteios do primeiro
governo petista, estão presos.
Em um país civilizado, não se admite que um grupo político com esse
comportamento tão explicitamente criminoso, que fez da corrupção um método de
governo, com o objetivo de permanecer para sempre no poder, escape impune.
Ainda há um longo caminho a percorrer para que a influência deletéria dessa
turma seja inteiramente neutralizada, mas a prisão da poderosa troica petista é
um excelente começo.
O
Estado de São Paulo
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