Editorial
A compra
pelo órgão de programa de computador milionário em firma de distribuição de
bebidas é reflexo do tamanho da máquina e do descaso com a meritocracia
A enorme máquina do Estado brasileiro continua a gerar casos de
corrupção impensáveis em qualquer país minimamente organizado, com leis e
instituições eficazes. A compra pelo gigantesco INSS, gestor da aposentadoria
dos assalariados da iniciativa privada, de software junto a uma pequena empresa
cujas instalações eram de uma firma distribuidora de bebidas é um caso exemplar
do ponto a que chega a desfaçatez quando se trata de roubar o contribuinte.
Relatada pelo GLOBO, a história envolve a RSX Informática Ltda., de
Lawrence Barbosa, e o próprio presidente do INSS, Francisco Lopes — retirado do
cargo, o mínimo que o Planalto podia fazer —, responsável direto por forçar o
fechamento de um contrato de R$ 8,8 milhões com a firma, para a compra de um
programa de computador e treinamento de funcionários do órgão. Sugestivamente,
com presteza foram liberados R$ 4 milhões para a empresa de softwares (ou de
bebidas).
Publicada a reportagem no site do jornal, Francisco Lopes emitiu nota
informando a suspensão do contrato feito com a RSX. Era tarde. O golpe reúne
ingredientes cinematográficos: repórteres do jornal visitaram, em 9 de maio, o
endereço da firma, em um prédio em Brasília, e lá se depararam com garrafas de
água mineral e de vinho etc. Retornaram na terça-feira, e o espaço havia sido
remodelado com a decoração de um escritório do ramo de informática.
Francisco Lopes sequer abriu concorrência para contratar a RSX, embora
alertado pela área técnica do INSS, por meio de um relatório de 25 páginas,
sobre a falta de base técnica para a operação, da possível inutilidade do
programa e o consequente desperdício do dinheiro do contribuinte.
Não adiantou, a compra foi feita, os R$ 4 milhões, pagos, e resta a
órgãos públicos irem em busca do prejuízo por via judicial, sem deixar de
vasculhar o amplo universo do Estado para saber se a RSX deu o mesmo golpe em
outros cantos da burocracia.
A venda de programa de computador, em troca de milhões, por uma firma,
até segunda ordem, distribuidora de bebidas, mostra bem os absurdos que ocorrem
nas entranhas do Estado, que custa 40% do PIB, um índice elevado e que supera a
arrecadação dos impostos.
Há desde o petrolão, o assalto feito na Petrobras, a este golpe de
estelionatários. Convivem neste mesmo mundo a vigarice de comédia italiana e o
saque bilionário feito na Petrobras, numa aliança entre o lulopetismo,
empreiteiras e diretores da estatal. Um escândalo de repercussão mundial.
Mesmo que existam formalmente organismos de controle, como a
Controladoria-Geral da União, o tamanho da máquina e a falta da cultura da
eficiência e da meritocracia permitem esses absurdos.
O
Globo
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