Peritos e Médicos
Na
madrugada de hoje o edifício Wilton Paes de Almeida, tombado pelo patrimônio
histórico, desabou após uma hora e meia de um incêndio de grandes proporções.
Inaugurado em 1966 para uma companhia privada de indústria de vidros, era um
marco da modernidade e da arquitetura paulistana. Com a falência da empresa,
passou para as mãos da União na década de 80 e foi sede da Polícia Federal de
SP até 2001, quando foi esvaziado e abandonado.
Entre
2009 e 2012, funcionou no térreo a APS Paissandu, da GEx SP Centro, que fazia
apenas atendimento administrativo.Esse edifício ficava a poucos passos da sede
da Superintendência do INSS em SP e ao lado dele fica um hotel muito usado por
servidores do INSS quando vão trabalhar por convocação na capital. Apesar das
notórias faltas de condições de trabalho, quando do fechamento, em 2012, os
sindicatos pelegos paulistas (Sinsprev e Sinssp) protestaram contra o fechamento da APS Paissandu.
A APS
Paissandu chegou a ser oferecida em 2006 aos ingressos do concurso de Perito
Médico daquele ano, mas as obras atrasaram demais e o projeto de ter perícia
ali foi abandonado. Devolvido pelo INSS para a SPU (Secretaria de Patrimônio da
União), tentaram fazer ali um instituto da Unifesp, mas em 2015 ele foi
invadido por um dito movimento social chamado MLSM (Movimento de Luta Social
pela Moradia), uma dissidência do MTST, de Guilherme Boulos e uma das diversas
siglas de "movimentos sociais" que há quase 20 anos promovem invasões
sucessivas de edifícios, terrenos e moradias na cidade de São Paulo.
A
indústria das invasões de edifícios em São Paulo teve início na gestão de Marta
Suplicy (PT-SP à época, 2001-2004). Com a conivência da prefeitura, grupos de
esquerda organizados em "movimentos sociais" começaram a organizar e
estruturar invasões a edifícios ou terrenos vazios, sempre em áreas nobres de
São Paulo, em especial no centro da cidade, onde ficava o edifício que colapsou
hoje.
Os
líderes desses movimentos cooptam famílias de pobres, em especial estrangeiros,
e cobram deles uma "mensalidade" para entrarem nas listas de
invasões. Na data combinada, invadem a propriedade e largam as famílias nos
locais em condições desumanas, sem nenhuma segurança, com ausência de higiene
básica ou dignidade. Promovem ligações clandestinas de água e luz e passam a
cobrar "taxa de manutenção", ou aluguel da invasão, dessas famílias.
No local, mantem um "coordenador da invasão", que controla as cobranças,
entradas de pessoas etc, nenhuma diferença com a prática de milícias. No
edifício que caiu, a taxa variava entre 160 a 400 reais por mês, senão a
família era expulsa do local. Denúncias dão conta de que em vários locais o
narcotráfico se associa a essas invasões, transformando os locais em centros de
distribuição de drogas, como era o caso do edifício que caiu, segundo o ex-prefeito João Dória.
A
indústria alimenta os líderes hipócritas e demagogos que organizam as invasões
apenas para que eles saiam mediante pagamento da prefeitura, e voltem a invadir
outros, perpetuando o ciclo. Eles ganham com a extorsão às famílias cooptadas,
com liberação de verbas da prefeitura para promover realocações e até mesmo ganhando dinheiro do Minha Casa Minha Vida para construir
habitações. Tamanho poder catapulta politicamente esses líderes, que
passam a ter espaço na mídia, em partidos políticos e se lançam candidatos até mesmo à presidência, como estamos vendo
em 2018.
Não são
apenas os líderes dos "movimentos sociais" que ganham com taxas,
mensalidades, aluguéis e verbas públicas. Essa indústria também enche os bolsos
dos proprietários de imóveis degradados ocupados: a maior parte desses prédios
abandonados são de particulyares, que forçam a desapropriação para ganhar do
Estado o dinheiro que jamais ganhariam vendendo o imóvel no mercado
imobiliário.
Quando o
imóvel é público, como esse que desabou, quem ganham são os políticos
envolvidos nessas operações de desapropriações, que fazem uso político da
situação. O INSS é o alvo principal dessa indústria em São Paulo. Calcula-se
que, apenas em SP, o INSS tenha mais de 500 imóveis fechados, sem uso.
Em 2016,
o então Ministro da Previdência Social, Carlos Gabas, quis negociar os prédios do INSS no centro de São Paulo
com o então prefeito paulistano, o petista Fernando Haddad. A ação
claramente visava a promoção política de ambos. Subitamente vários prédios
foram invadidos por movimentos sociais.
A lei
dizia que o INSS só poderia se desfazer dos imóveis mediante venda direta com
pagamento em dinheiro por parte do comprador. Sem dinheiro, o INSS, com a benção
de Gabas, ia quitar com os imóveis através do Comprev (Compensação
Previdenciária), sua dívida com a PMSP.
,
O
Comprev é um mecanismo previsto na Lei nº 9.796 de 05 de maio de 1999 que,
em breve síntese, prevê a compensação financeira entre o Regime Geral de
Previdência Social e os regimes de previdência dos servidores da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos casos de contagem recíproca
de tempo de contribuição para efeito de aposentadoria. Na prática, o INSS tem
que compensar a prefeitura de São Paulo quando um servidor de lá se aposenta
pela PMSP usando tempo do RGPS.
Gabas e
Haddad queriam fazer um acordo onde a dívida que o INSS tinha com a Prefeitura
relativa ao repasse do Comprev fosse perdoada no valor dos prédios. Haddad
pegaria os edifícios e faria campanha em cima deles.
Ou seja,
um prédio que foi dado em pagamento por alguma empresa para ressarcir dívidas
trabalhistas junto ao INSS que, ao ser vendido, deveria devolver o dinheiro aos
cofres da União e ser revertido ao Fundo do RGPS, seriam "vendidos"
bem abaixo do preço apurado pela Caixa Econômica Federal como imóvel de
"destinação social" e pago pelo Comprev, que é justamente a devolução
dos valores pagos pela prefeitura aos servidores que se aposentaram por lá. Na
prática, a prefeitura "quitaria" o INSS e receberia prédios que valem
centenas de milhões de reais. Que beleza, não?
A
prefeitura destinaria o imóvel a venda pelo Minha Casa Minha Vida, usando os
movimentos sociais como atravessadores, e o cidadão teria sido engando porque a
unidade municipal (Prefeitura) não teria desembolsado nenhum centavo para
comprar algo que seria revertido ao próprio povo, mesmo que em suave
prestações.
E a
unidade federal (INSS) não repassaria esse valor ao Fundo do RGPS pois além da
falta de controle que existe nesse fluxo, permitindo irregularidades, como o
dinheiro da prefeitura ao INSS viria via Comprev, as chances do dinheiro
"se perder" em desvios para, por exemplo, campanhas eleitorais, era
enorme. Ou seja, a operação faria a Prefeitura pagar uma vez por duas
aquisições (perdão de dívida e compra de imóveis) e o caminho desse dinheiro
ficaria perdido numa conta corrente da Prefeitura, não vinculada diretamente ao
Fundo do RGPS. Isso em 2016, ano eleitoral, Imaginem...
Esse era
o plano, segundo fontes. O Ministério chegou a avocar para si a gestão dos
imóveis, que sempre foi das Gerências Executivas. Porém a operação não deu
certo, graças a resistência de servidores honestos e comprometidos com o
serviço público, pois o uso do Comprev para aquisição de imóveis era
absolutamente ilegal, por si só.
Portanto
temos Poder Público omisso que instrumentaliza movimentos sociais a promover
invasões. Esses movimentos lucram com cobranças de taxas diversas e com verbas
públicas, atendendo a demanda política do grupo político que o coordena. Os
proprietários privados faturam pois conseguem se livrar do imóvel com dinheiro
público a preços muito superiores praticados no mercado imobiliário. E gestores
públicos também usam imóveis da União para promover políticas sociais,
dispensações de licitações e gasto de verbas sem controle, criando um curral
eleitoral para si.
A vida
humana, nesse jogo, é um mero detalhe. Não se enganem.
blog perito.med
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