Silvia
Amorim e Sérgio Roxo
(*)
As forças partidárias tradicionais ignoraram a demanda popular por
renovação na política e vão oferecer aos eleitores este ano os candidatos de
sempre a governador. A exemplo da disputa presidencial, os outsiders — nomes de
fora do mundo político profissional e tradicional — serão minoria nas disputais
estaduais e vocacionados a figurantes pelo baixo potencial competitivo. No
pelotão dos favoritos sobram os políticos com mandato e, como sempre,
representantes de oligarquias no poder há meio século.
Nos 26 estados e no Distrito Federal, somente 15 outsiders
sobreviveram, até agora, à peneira do jogo político-eleitoral e estão cotados
para disputar uma cadeira de governador em meio a mais de uma centena de
adversários. Eles podem até fazer algum barulho na campanha, mas a
probabilidade de vitória é baixa pela falta de estrutura dos partidos que
representam — em sua maioria, pequenos ou recém-criados, como a Rede ou o Novo.
Enquanto isso, o status quo se impõe nesta eleição, com velhos
candidatos conhecidos do eleitorado. São, em sua maioria, deputados, senadores
e ex-governadores. No Maranhão, por exemplo, a família Sarney voltará a
disputar o governo com Roseana Sarney (PMDB), que já foi quatro vezes
governadora. O mesmo fará o clã dos Barbalhos, no Pará, com a candidatura do
ex-ministro da Integração Nacional Hélder Barbalho, filho do senador Jáder
Barbalho. Em Alagoas, os Calheiros vão para a reeleição com Renan Filho, filho do
senador Renan Calheiros, candidato à reeleição ao Senado.
CONTINUIDADE
EM FAMÍLIA
Em alguns casos, a continuidade supera o parentesco e chega aos
mínimos detalhes. Em Sergipe, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB), que
está na política há 51 anos, apresenta o filho, que tem o mesmo nome do pai e é
deputado federal, para tentar a vaga de governador este ano. O pai começou a
carreira como prefeito, em 1967, foi governador e hoje cumpre seu quarto
mandato consecutivo no Senado. Valadares Filho também não é novato: exerce o
terceiro mandato de deputado federal. Na Paraíba, será o irmão gêmeo do
prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que tentará se eleger
governador. Lucélio Cartaxo já foi superintendente da Companhia Brasileira de
Transportes Urbanos (CBTU) e da Companhia Docas na Paraíba, além de ter
disputado sem sucesso o Senado em 2014. Luciano e Lucélio são gêmeos idênticos,
e é difícil distinguir um do outro.
Há casos de políticos que tentarão voltar ao cargo que já ocuparam. Em
Roraima, José de Anchieta Júnior tentará retomar o comando do estado, que
administrou entre 2007 e 2014. Vai disputar com Teresa Surita, prefeita de Boa
Vista e ex-mulher do senador Romero Jucá, do PMDB, comandante da política no
estado e candidato à reeleição no Senado.
Esse quadro, reunido pelo GLOBO na última semana, expõe a dificuldade
de renovação da política estadual. A desistência do ex-ministro do Supremo
Tribunal Federal Joaquim Barbosa de disputar a Presidência pelo PSB na terça feira
passada é apenas o caso mais evidente, mas não o único, do impasse a que chegou
o sistema representativo no Brasil. A Operação Lava-Jato implodiu a
credibilidade da classe política e revelou a falência do sistema vigente, mas
nada disso foi suficiente para levar ao passo seguinte, o da renovação. Não
apareceu até agora nenhum modelo capaz de minar a resistência dos que ainda se
seguram no poder.
Para o cientista político do Insper Carlos Melo, esse é o principal
empecilho, hoje, à renovação política:
— Há demanda por renovação, mas a questão é que as regras do nosso
sistema político não foram renovadas. Isso afasta quem não é ligado à política,
porque sabe que, se eleito, a probabilidade de ficar de mãos amarradas é
grande.
Em efeito cascata, essa resistência desemboca na eleição presidencial,
com candidatos como Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva
(Rede), Álvaro Dias (Podemos) e Jair Bolsonaro (PSL), todos na vida política há
muito tempo.
Outsiders com potencial de competição até ensaiaram entrar na disputa,
como Barbosa e o apresentador Luciano Huck, mas recuaram.
Nos estados, juízes e militares estão em peso nesse grupo minoritário
dos não políticos que disputarão a cadeira de governador, ao lado de
empresários patrocinados pelo partido Novo.
Integrantes da reserva do Exército, por exemplo, são pré-candidatos no
Distrito Federal, no Ceará e no Maranhão. No Mato Grosso do Sul e em Tocantins,
são dois ex-juízes os outsiders previstos na corrida. No Acre, um policial
tenta se viabilizar.
Entretanto, apenas dois são apoiados por partidos tradicionais. É o
caso do general do Exército Guilherme Cals Theophilo, pré-candidato a
governador no Ceará pelo PSDB e ex-integrante do comando que planejou a
intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, e do ex-juiz Odilon de
Oliveira (PDT), que ganhou notoriedade pelo combate ao narcotráfico em Mato
Grosso do Sul.
Cientista político da FGV-Rio, Sérgio Praça vê o financiamento de
campanha como outro importante entrave ao surgimento de outsiders. Para ele, a
eleição de 2016, ao eleger alguns outsiders como prefeitos, criou a expectativa
de que essa onda pudesse crescer em 2018, mas a questão financeira estaria
freando essas iniciativas.
— Um fator limitador para os outsiders interessados em disputar algum
cargo nesta eleição é o custo das campanhas. Uma campanha para governador é
muito mais cara do que para prefeito. Então, para o outsider sair candidato
este ano, ou ele é milionário para bancar a própria campanha ou tenta entrar
para um partido grande, que tem mais recursos — avaliou Praça.
O problema é que nas legendas maiores a resistência aos novatos é
grande, e isso explica, segundo Carlos Melo, a concentração dessas candidaturas
em siglas pequenas, com poucos recursos e viabilidade eleitoral.
— Veja que as tentativas de outsiders que tivemos para essa eleição
foram protagonizadas por partidos que estavam sem candidatos para apresentar.
Não vi nenhum político profissional de um grande partido abrindo mão de uma
candidatura em nome de algum outsider. Nas oligarquias partidárias, política
tem fila — afirma o professor do Insper.
FUNDO
PARTIDÁRIO BARRA NOVATOS
Essa será a primeira eleição geral sem o financiamento empresarial das
campanhas — a estreia do modelo foi em 2016, nas disputas municipais. A
previsão é que a maior parte dos gastos seja bancada com dinheiro público do
fundo eleitoral, criado no ano passado e orçado em R$ 1,7 bilhão. Os partidos
decidem como distribuir o dinheiro aos candidatos. Para o professor da FGV, o
fundo acabou se tornando um dos maiores impeditivos para o lançamento de
outsiders:
— A tendência é que a divisão desses recursos, que é feita pela cúpula
dos partidos, beneficie quem já é político. Existe um paradoxo nesta eleição:
há uma força muito contrária à renovação, que é o fundo eleitoral, e uma força
muito forte a favor da renovação, que é a insatisfação popular. Se tivesse que
dar um chute, eu diria que a força do dinheiro na campanha é bem significativa.
A renovação política, na opinião dos especialistas, leva tempo e
depende de condições mínimas. A demanda popular pelo “novo” é uma delas, mas
não é capaz de mudar o quadro sozinha.
— Precisamos entender que a renovação política não é automática pelo
fato de a classe política estar desacreditada. Ainda não colocamos a política
velha para fora. A política velha não está na cadeia. Vai levar tempo — diz
Melo.
A eleição deste ano para o Legislativo poderá dar um passo nessa
direção, embora tímido, na opinião de Praça.
— A tentativa de renovação no Legislativo vai ser mais forte do que
para cargos do Executivo este ano. Agora, se ela vai se concretizar, ainda não
dá para dizer — afirma o cientista político da FGV-Rio.
O
Globo
(*) Comentário do editor do blog: este mesmo artigo poderia ser apresentado
novamente daqui 2 ou 4 anos. Nada vai mudar enquanto forem os donos dos
partidos políticos e seus “intere$$es” a imporem os candidatos, assim como não
tem mudado desde 15/11/1889.
Até a queda
da Monarquia na França (1789), não havia partidos políticos, pois do povo a
Corte só queria os impostos que a sustentavam.
Quando a
idéia de sufrágio universal começou engatinhar, a elite francesa, dividida em
diversos grupos, criou os partidos (repartir por interesses e/ou ideologias) e
reservou para si a escolha de quem representaria cada grupo (partido).
Esta
malandragem continua até hoje e só vai acabar quando acabarmos com os partidos
(grupos de intere$$e) e entregarmos aos eleitores a tarefa de escolher os
candidatos.
Só então
começaremos a exercer a verdadeira democracia, que é o governo/poder do povo,
sem mais estarmos obrigados a escolher o menos pior entre àqueles que nos são
impostos.
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