Hélio
Duque
A corrupção organizada adonou-se da atividade pública em todos os
níveis de governabilidade. É chocante assistir pela mídia os tentáculos da ação
de ladrões do dinheiro público. Travestidos de políticos, agentes públicos e
empresários espertos. Presentes no saque ao poder público em todas as regiões
brasileiras: prefeituras, governos de Estado e a partir de Brasília, no poder
federal. Os fatos que vem sendo documentados são de fazer a indignação e a
vergonha invadir a alma dos cidadãos honestos.
A corrupção passou a ser política de Estado. O contubérnio entre
agentes públicos e privados, na logística de assaltar os recursos públicos,
ultrapassou o limite do imaginário. E o mais grave: o desenvolvimento é
atingido mortalmente, ampliando a pobreza e afrontando a dignidade humana. Os
corruptores e corruptos são verdadeiros genocidas na vida da nação e quando
flagrados se declaram inocentes, subestimando a inteligência da sociedade.
Governadores denunciados aos magotes, alguns sendo presos e a
multiplicação de delitos nas administrações se expandindo. Prefeitos afastados
e condenados, ministros e ocupantes de funções públicas sendo apontados como
desvairados corruptos. No poder legislativo, o elenco é vastíssimo nas Câmaras
municipais, Congresso Nacional e Assembléias Legislativas. No epicentro estão
empresários e grupos econômicos levando vantagens no assalto aos recursos
públicos. Fortunas feitas e multiplicadas por estes delinquentes de luxo, pela
obtenção de vantagens estatais ao largo do território nacional.
Na República da propina, o dinheiro sujo prevalece e a trapaça
econômica e financeira, no âmbito do Estado, atingiu nível escandaloso. Não
fica uma área da administração pública que não seja vítima da corrupção. Ainda
agora os fundos de pensão de empresas públicas (Funcef, Portalis, Serpro) e de
sociedades de economia mista (Previ e Petros) são atingidos por fraudes
milionárias. No caso da Petros, da Petrobrás, o rombo no seu patrimônio é de R$
27 bilhões. A situação geral é tão grave que levou a Receita Federal a criar
uma “tropa de elite” para investigar 800 agentes públicos.
Nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário a investigação se
ocupará dos crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e acréscimo
patrimonial incompatível com a renda. O fisco possui um banco de dados onde pode
mapear as movimentações bancárias, vendas de imóveis, contratação de autônomos,
movimentação de cartão de crédito e todo tipo de dados sobre pessoas físicas e
jurídicas.
É um avanço indiscutível, já que esses poderes sempre foram
privilegiados em termos de fiscalização tributária. Exemplificado no fato de
existirem 200 mil casos de integrantes dos três poderes cujos dados fiscais
remetem a indícios de fraudes.
É uma avalanche imoral na arte de roubar o Tesouro Nacional. O cardume
de tubarões corruptos construiu no Brasil um “propinoduto transoceânico”. A
“propina” institucionalizada edificou na captura do Estado um duto que liga os
oceanos Atlântico e Pacífico. É de se louvar as várias operações envolvendo
Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal, marcando pontos
positivos.
O que tem forçado e levado bancos, corretoras de valores e seguradoras
e o Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) a identificar os
grupos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Fornecendo aos órgãos de
investigação elementos comprovadores de ilegalidades nas suas, até então
passivas, movimentações financeiras. O Banco do Brasil vem de firmar acordos de
cooperação internacional com a Interpol relacionado a crimes financeiros.
Estas investigações vêm demonstrando a existência de uma elite de
políticos, agentes públicos e grupos econômicos que só tinham um objetivo:
assaltar o dinheiro público com velocidade de fórmula 1. O caminho
será longo, mas extirpar “partes do câncer da corrupção sistêmica” é grande
esperança dos brasileiros. Oxalá essa cruzada pela moralidade pública não seja
interrompida pela mobilização das corporações.
Os valores republicanos não podem admitir, nem aceitar, essa prática
de roubo impunido. O nome verdadeiro desse triste momento da vida nacional é
capitalismo de quadrilha.
catve.com
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