Editorial
Travado
pela ineficiência, o Brasil tem sido incapaz de correr no pelotão dianteiro dos
emergentes e, na última década, até nos pelotões intermediários, como o dos
países latino-americanos. Segundo as projeções mais sérias, o desempenho
medíocre, ou abaixo disso, será repetido no médio e no longo prazos, se a
política nacional continuar rejeitando a agenda modernizadora. A pauta inclui
mudanças fundamentais na gestão fiscal, na tributação, no investimento em
infraestrutura e em capital humano e na relação com o mercado global.
O
diagnóstico, já conhecido e sempre negligenciado no jogo político, acaba de ser
reafirmado e enriquecido num estudo de economistas do Insper, da consultoria
Oliver Wyman e da Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O trabalho
fornece um conjunto realista de referências para qualquer governo interessado
em pôr o Brasil nos trilhos de uma expansão mais veloz e de longa duração.
Intitulado
Renda e Produtividade nas Duas Últimas Décadas, o estudo compara o desempenho
brasileiro a partir dos anos 1990 com o de outras economias, com destaque para
as emergentes. O confronto é uma injeção de realismo.
Nas
fases de maior crescimento, o desempenho brasileiro foi muito parecido com o
dos países mais dinâmicos da região, mas inferior ao dos outros emergentes. Nas
piores, o Brasil ficou atrás de quase todos. Uma das mais sombrias advertências
aparece na apresentação do texto.
Mantido
o crescimento médio das últimas duas décadas, o País levará 31 anos para
alcançar o nível de renda por habitante do Uruguai, 38 para atingir o do Chile
e mais de um século para chegar ao dos Estados Unidos.
Mesmo
quando se comparam os detalhes mais positivos, como a redução da porcentagem de
pessoas em extrema pobreza, o avanço brasileiro pouco se diferencia do
observado em outros países. No Brasil, essa parcela diminuiu de 16,5% para 4,3%
entre 1994 e 2015. No conjunto dos emergentes, de 33% em 1997 para 3,4% em
2013. Não houve, no País, uma façanha extraordinária. Essa melhora foi uma
tendência internacional.
Em
alguns pontos o progresso foi maior nas estatísticas do que nos efeitos
práticos das mudanças. A formação de capital humano, isto é, de capacidade
produtiva dos trabalhadores, talvez seja o exemplo mais alarmante. A média da
escolaridade aumentou no Brasil de 4,7 anos em 1990 para 7,9 em 2010. Nos
países emergentes a mudança foi de 5,3 para 7,5 anos. Na América Latina e no
Caribe, de 6,6 para 8,5. Nos países da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 9,3 para 11,3.
O
resultado foi pífio, como têm comprovado os exames do Programa Internacional de
Avaliação Escolar (Pisa), da OCDE, realizados a cada três anos com
adolescentes. Em 2000, o Brasil ficou em último lugar entre 43 países. Em 2015,
em 60.º, numa lista de 67. Excluído o trabalho de algumas escolas, de peso
muito limitado num país como o Brasil, o ensino continua muito ruim e se pode
até falar de retrocesso num período recente.
A baixa
capacidade produtiva e de crescimento está associada, claramente, a um grande
conjunto de deficiências, com destaque para o escasso investimento em capital
físico, a baixa qualidade da educação e da formação de mão de obra, a
tributação complicada e com grande peso sobre a produção e o ambiente pouco
propício aos negócios. As altas barreiras comerciais e a insuficiente
integração na economia global limitam a competição e dificultam a absorção de
tecnologia.
O
trabalho apresentado pelos economistas Marcos Lisboa (Insper), Ana Carla Abrão
(Wyman) e Vinicius Carrasco (PUC-Rio) confirma claramente, e numa perspectiva
internacional, a baixa produtividade e o escasso potencial de crescimento do
Brasil. A isso se adicionam, advertem os economistas, os desafios derivados do
envelhecimento populacional. Não há como enfrentá-los sem a reforma da
Previdência, entre outras mudanças.
Não há
como falar seriamente em programa de governo sem reconhecer a importância
crucial desses problemas. O custo de negligenciar essas questões cresce a cada
ano.
O Estado de São Paulo
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