O Estado de São Paulo
Coalizão. Sinal verde de Berlusconi, nove
semanas após eleição, permite aliança do Movimento 5 Estrelas, fundado pelo
comediante Beppe Grillo, com a Liga, de extrema direita; movimentos antagônicos
têm em comum a aversão à União Europeia e a imigrantes
Após
nove semanas de impasse, o ex-premiê Silvio Berlusconi deu ontem sua ‘bênção’
para uma aliança entre o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e o partido
ultranacionalista Liga. O aval do líder conservador era o principal entrave para
a coligação inédita de alas políticas opostas. A negociação foi iniciada ontem
para impedir que o presidente italiano, Sergio Mattarella, nomeasse um
primeiro-ministro apartidário.
A Liga
tem uma linha ideológica clara e se beneficiou do crescimento das ideias de
extrema direita e ultranacionalistas na Itália. Já o M5S cresceu graças a um
difuso sentimento antipolítica no país e é ideologicamente bastante
heterogêneo.
Os dois
partidos se mobilizaram para encerrar o impasse político provocado por eleições
inconclusivas e tentar formar um novo governo na Itália. Eles pediram um prazo
de 24 horas para tentar estabelecer aquela que seria a primeira coalizão de
forças antissistema no país.
Mattarella
deu um prazo até amanhã. Um premiê apartidário, como o que seria indicado por
ele, comandaria um governo “neutro” para preparar o país para eleições
antecipadas, possivelmente em julho.
Construção. O
Movimento 5 Estrelas propôs várias vezes formar um governo com a Liga, mas com
a condição de que ela rompa com sua aliada Força Itália (FI), partido liderado
por Berlusconi.
O líder
da Liga, Matteo Salvini, vinha rejeitando se desvencilhar do ex-premiê por
lealdade à aliança de centro-direita. O M5S considera Berlusconi, de 81 anos,
condenado por evasão fiscal, um símbolo da corrupção na política italiana.
Berlusconi,
um dos pilares da coalizão de direita, que venceu as eleições de 4 de março,
estava sendo pressionado a dar sinal verde para a aliança entre M5S e Liga, que
deve resultar em um governo populista na Itália.
Nos
últimos dois meses, Berlusconi insistiu na unidade da aliança conservadora,
frente à posição intransigente do M5S, que se recusava a incluir seu partido
nas negociações. Por sua vez, a Liga, cortejada pelo M5S, não quis romper a
coalizão de direita unilateralmente, uma vez que governa três regiões do norte
italiano – Lombardia, Vêneto e Friuli-Venezia Giulia –, com apoio do FI.
“O
governo Liga-M5S não marca o fim da aliança de centro-direita. Permanecem as
colaborações nos governos regionais e locais, permanece uma história em comum,
permanece o compromisso assumido com os eleitores”, disse Berlusconi, por meio
de nota.
De
acordo com a Ansa, um possível gabinete entre M5S e Liga teria 55% dos assentos
na Câmara dos Deputados e 53% no Senado, uma maioria estreita, mas suficiente
para governar e aprovar leis.
Divergências. A
“bênção” de Berlusconi joga toda a responsabilidade para os líderes do M5S,
Luigi Di Maio, e Matteo Salvini, da Liga, dois jovens que simbolizam a ascensão
do sentimento populista na Itália. Os dois partidos possuem diversos pontos em
comum, como a posição eurocética, o desejo de abolir a reforma previdenciária
italiana e as críticas à imigração em massa no Mar Mediterrâneo.
No
entanto, os principais projetos de seus respectivos programas ainda não
receberam apoio claro de ambos os lados. A criação de uma alíquota única no
imposto de renda, bandeira da Liga, não convence o M5S, enquanto a “renda de
cidadania”, defendida pelo movimento antissistema, só será aceita por Salvini
se tiver uma “porta de saída” bem definida.
Tanto a
Liga quanto o M5S também defendiam a retirada da Itália da zona do euro – no
caso dos ultranacionalistas, até da União Europeia –, mas ambos mudaram de ideia
nas últimas eleições e agora pedem “reformas” em Bruxelas para reforçar o papel
de Roma.
Premiê. Outro
impasse na negociação é a definição do novo primeiro-ministro da Itália. Uma
das condições do secretário da Liga para negociar com o M5S era que o partido
recuasse da exigência de reservar o comando do governo a Di Maio, algo que ele
já fez. No entanto, as duas legendas ainda não encontraram um nome de consenso
para ocupar o cargo de premiê.
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