AFP-Agence
France-Presse
O Peru
assiste incrédulo a um novo escândalo de corrupção, no qual juízes foram
gravados acertando sentenças e propinas, o que motivou o presidente Martín
Vizcarra a propor, nesta quarta-feira, uma ampla reforma na Justiça.
Nos
áudios que chocaram o país - divulgados entre domingo e quarta-feira pela
imprensa - juízes e membros do Conselho Nacional da Magistratura, órgão
encarregado de designar os magistrados peruanos, oferecem redução de penas,
trocam favores e fixam preços por sentenças.
"Os
graves fatos conhecidos nos últimos dias, onde se escuta membros do Conselho
Nacional da Magistratura e do Poder Judiciário negociando favores e acertando
sentenças com total descaramento, é uma mostra do problema estrutural que
envolve nosso sistema judicial", disse Vizcarra em mensagem à Nação.
O
presidente advertiu ao Congresso, controlado pela oposição, para a urgência de
se trabalhar diante da "situação de podridão" revelada nos áudios.
"Não há tempo a perder".
O
projeto de reforma judicial será elaborado por uma comissão que deverá ter uma
lista de propostas até 28 de julho, aniversário da independência do Peru,
quando Vizcarra fará um discurso à Nação do Congresso.
A
proposta do governo deverá ser revisada e debatida pelo Parlamento, reduto da
Força Popular, o partido da direita populista liderado por Keiko Fujimori.
"O
sistema judiciário não pode estar a serviço de poderes obscuros", declarou
Vizcarra, destacando que "sem um bom sistema de justiça não há
investimentos nem desenvolvimento econômico".
Negociando sentenças
Em um
novo áudio divulgado nesta quarta-feira pela TV peruana, o presidente da Corte
Superior (de apelações) de Callao, Walter Ríos, pede dinheiro em troca de
sentenças favoráveis.
"Estou
pensando em 10 sentenças. Como garantia lhe dou minha palavra (...) e se não
saírem, devolvo (o dinheiro)", diz Ríos a um interlocutor.
Segundo
Vizcarra, os áudios revelam "não apenas o enorme grau de imoralidade com
que atuam os que estão convocados para fazer justiça, mas também a existência
de mecanismos, de vícios, que pervertem a administração judicial e precisam ser
erradicados".
Em outro
áudio se escuta o juíz César Hinostroza, da Suprema Corte, falar de um processo
envolvendo o estupro de uma menina de onze anos.
"Foi
deflorada? (...) O que vocês querem que eu faça? Que reduza a pena ou o declare
inocente?"
O
escândalo levou à Procuradoria a abrir várias investigações.
Zero Hora - RS
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