MARIANA
KAIPPER CERATTI
Nas últimas
décadas, os investimentos no país ficaram abaixo do necessário para substituir
ou reparar a infraestrutura existente
Você consegue imaginar quanto se poderia economizar em dinheiro e recursos naturais caso
o Brasil adotasse a eficiência energética como prioridade em setores como
iluminação pública ou indústria?
Esse é um conceito essencial para o futuro da infraestrutura e, no entanto,
ainda pouco difundido em um país cujo setor carece de investimentos e
inovações.
Nas duas últimas décadas, os investimentos no país ficaram bem abaixo
do necessário (pelo menos 3% do PIB) para substituir ou reparar a
infraestrutura já existente. Só no setor de energia, eles caíram de 2,13% do PIB na década de 1970 para
0,7% em 2016, segundo um relatório
recente do Banco Mundial.
Diante desse cenário, uma nova iniciativa – combinando inovações
financeiras e tecnológicas –
pode representar um passo importante na formação de um setor energético mais
eficiente e sustentável. O Projeto de Instrumentos Financeiros para Cidades com
Eficiência Energética do Brasil (FinBRAZEEC), que une o Banco Mundial e a
Caixa, tem o objetivo de alavancar capital do setor privado para investimentos
nas áreas de indústria e iluminação pública urbana nos próximos 15 anos.
Por meio dele, os centros urbanos brasileiros poderão criar
subprojetos para substituir completamente as atuais lâmpadas de vapor de sódio
por LED, por exemplo. Já as indústrias poderão modernizar sistemas de
bombeamento, motores, fornos e outros tipos de equipamentos.
O foco nas cidades se justifica porque 86% dos brasileiros vivem nelas.
Portanto, ao substituir tecnologias ineficientes, reduzindo o consumo
energético, a poluiçãoe
as emissões de gases causadores de efeito estufa, as iniciativas de eficiência
energética urbana têm potencial benéfico para uma parcela significativa da
população.
E a busca por mais participação do setor privado em infraestrutura é
essencial num momento de poucos recursos governamentais. Hoje, a grande maioria
dos investimentos (cerca de 70%) ainda vem de fontes públicas, incluindo bancos
estatais.
Reduzindo
riscos
O novo projeto prevê um empréstimo de 200 milhões de dólares do Banco
Mundial, combinado com 195 milhões de dólares do Fundo Verde para o
Clima(GCF, na sigla em inglês) e 20 milhões do Fundo de
Tecnologia Limpa (CTF). A Caixa, por sua vez, receberá o empréstimo,
comandará a formação de um consórcio de credores comerciais e criará um
mecanismo para proporcionar garantias parciais de crédito. As garantias
servirão para diminuir o risco relativo aos projetos de iluminação urbana e
eficiência energética industrial.
Ao todo, espera-se que o FinBRAZEEC mobilize mais de 1 bilhão de
dólares para projetos de eficiência energética urbana. Com isso, o projeto será
um exemplo de como os recursos do setor público no Brasil, particularmente os
dos três maiores bancos estatais, podem ser usados para alavancar o capital do
setor privado para investimentos em infraestrutura.
O FinBRAZEEC também contemplará assistência técnica na área de
preparação de projetos. A atividade será feita com apoio do GCF, do Fundo
Global de Infraestrutura e do Programa de Assistência para o Gerenciamento do Setor de
Energia (ESMAP), do Banco Mundial.
“Esse modelo de financiamento inovador nos ajudará a desbloquear o
potencial de investimento nos setores de iluminação pública e eficiência
energética industrial, que já haviam sido identificados como particularmente
promissores para soluções baseadas no mercado. Mas esperamos que o exemplo
incentive abordagens semelhantes também em outras áreas”, diz Martin Raiser, diretor
do Banco Mundial para o Brasil.
De fato, mobilizar investimentos do setor privado será importante não
só para a infraestrutura do Brasil, mas para cumprir os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações
Unidas para 2030. A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento
(UNCTAD) estima que, só nos países em desenvolvimento, seriam
necessários investimentos anuais entre 3,3 trilhões e 4,5 trilhões de dólares.
Faltam em torno de 2,5 trilhões ao ano para suprir essa necessidade.
Contribuição
climática
Com o FinBRAZEEC, o Brasil poderá deixar de emitir 12,5 milhões de
toneladas de CO2 durante a vida do projeto. O projeto também busca ajudar o
país a cumprir uma de suas metas determinadas no Acordo de Paris contra
as mudanças climáticas: melhorar a eficiência do setor elétrico em 10% até
2030.
Ao combinar inovações financeiras e climáticas, o projeto pode servir
de modelo para investimentos tanto em energia limpa quanto em outros setores,
no Brasil e em todo o mundo em desenvolvimento, onde as necessidades de
infraestrutura são muitas, e os recursos públicos, limitados. Além disso,
contribuir para um futuro com cidades mais sustentáveis, nas quais iluminação
pública e indústria cumprem suas funções sociais e econômicas sem danificar os
recursos naturais.
EL
PAÍS
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