Mikhail Bushuev
Mais impostos, menos aposentadoria:
com cortes drásticos na proteção social, a população russa já está pagando por
sediar o Mundial mais caro da história. Depois do sonho futebolístico, a
realidade no país de Putin.
O
interesse dos russos pelo futebol parece ofuscar tudo atualmente, até a
preocupação com uma polêmica e drástica reforma da Previdência. É o que mostra
um estudo recente do centro de análises Levada, uma ONG russa independente de
pesquisas sociológicas e de opinião.
O
entusiasmo é compreensível: inesperadamente, a seleção russa conseguiu chegar
às quartas d -final da Copa do Mundo. Só então foi eliminada pela Croácia. Mas
até mesmo a eliminação da chamada "Sbornaia" não acabou com a
empolgação dos torcedores russos. Em vez de frustração, o país se mostra grato
aos jogadores que deram tudo para fazer do torneio um conto de fadas.
Porém, a
Copa acabará no domingo (15/07). Os torcedores estrangeiros voltarão para casa,
e os russos retornarão ao cotidiano, priorizando novamente as odiadas reformas
do próprio governo, que ameaçam reduzir ainda mais o já decrescente bem-estar
dos cidadãos.
Ninguém
espera um crescimento especial da economia russa em 2018. A previsão do
ministério russo da Economia para o período foi reduzida de 2,2% para 1,9% do
Produto Interno Bruto (PIB).
Em 2019,
a economia deverá crescer ainda mais lentamente: o prognóstico oficial prevê
apenas cerca de 1,4%. Um dos motivos mais evidentes para isso é o aumento do
IVA (Imposto sobre o Valor Agregado, uma tributação sobre o consumo).
A alta
deverá valer a partir de 1º de janeiro de 2019. O Parlamento russo aprovou o
projeto de lei do governo na primeira sessão. De acordo com o projeto, o
imposto deverá subir de 18% para 20% sobre o preço de mercadorias e serviços.
Mas a
conta da Copa será ainda mais longa. Exatamente no dia da abertura do torneio,
o governo russo anunciou mais encargos financeiros para os cidadãos e que
aumentaria a idade da aposentadoria de 60 para 65 anos para homens e de 55 para
63 anos para as mulheres. O plano é pouco detalhado: esse aumento deverá ser
gradual e acontecerá entre 2019 e 2028 para os homens e até 2034 para as
mulheres.
Tido
como liberal, o presidente do Tribunal de Contas russo, Alexei Kudrin, é um dos
defensores dos planos de reforma. Segundo seus cálculos, o aumento da idade
para a aposentadoria poderia inundar os cofres do governo com 100 bilhões de
rublos (1,3 bilhão de euros) por ano até 2024.
O
ministro do Trabalho, Maksim Topilin, promete que parte desse dinheiro deverá
ser convertido para aumentar as remunerações da aposentadoria. Atualmente, a
aposentadoria média na Rússia é de cerca de 200 euros mensais.
Os
planos do governo não foram recebidos com entusiasmo e fizeram com que as taxas
de aprovação do presidente Vladimir Putin e de outros políticos na liderança do
país caíssem. Também por isso espera-se que a reforma previdenciária seja
amenizada durante a avaliação pelos legisladores.
Provavelmente,
o aumento da aposentadoria e do imposto sobre o consumo também teriam sido
aprovados sem a realização da Copa. Mas, na situação atual, a população russa
deverá sentir os efeitos dos encargos financeiros adicionais a partir de já.
É que
eles já precisam pagar bem mais pela obtenção de documentos federais. Em vez de
50 euros, um passaporte passou a custar cerca de 70 euros. Há pouco tempo, a
carteira de motorista custava menos de 30 euros. Agora, custa mais de 40.
No país,
as despesas como água, eletricidade e administração do lixo, que são
cobradas de forma central pelas grandes empresas (antigamente estatais), também
aumentaram, em média, 4%.
Talvez
uma forma de compensar os custos da Copa do Mundo mais cara da histórica:
segundo o próprio governo, gastou-se mais de 680 bilhões de rublos (quase
10 bilhões de euros). O valor está relacionado a gastos diretos com o evento –
como a construção de dez estádios – e não leva em conta muitos dos gastos com
infraestrutura, como linhas de transporte expresso que beneficiaram mais os
turistas do que os próprios russos.
DW-Deutsche Welle
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