CARLOS SALINAS
Tribunal Eleitoral, controlado pelo
presidente, tira os cargos da oposição. Ortega impõe na Nicarágua um regime de
partido único
O
Tribunal Eleitoral da Nicarágua entregou ao presidente Daniel Ortega o
controle total do Parlamento, ao retirar os cargos dos deputados da oposição,
de modo que o mandatário nicaraguense consolida todo o poder em sua figura e
impõe ao país centro-americano um regime de partido hegemônico.
A
sentença do tribunal ordena à diretoria da Assembleia Nacional que retire os
cargos dos deputados que foram eleitos em 2011 pelo Partido Liberal
Independente (PLI), liderado pelo líder da oposição Eduardo Montealegre.
Em 8 de
junho, a Suprema Corte retirou de Montealegre a representação legal do partido,
o que fez com que a oposição ficasse sem opções para participar das eleições
presidenciais de novembro, nas quais Ortega concorrerá como único candidato
importante, pelo seu partido Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).
A Corte
entregou a representação do PLI a um político que até então era desconhecido na
Nicarágua, Pedro Reyes, que exigiu a obediência dos 20 deputados que foram
eleitos pelo PLI e seu aliado, o Movimento Renovador Sandinista.
Esses
deputados de oposição – que desde sua eleição denunciavam no Parlamento as
arbitrariedades de Ortega, se transformando em uma voz incômoda para o
Presidente – se negaram a obedecer a Reyes, considerado um “aliado silencioso”
de Ortega, de modo que este pediu ao Tribunal Eleitoral que os retirasse de
seus cargos.
Dessa
forma Reyes passa às páginas da história da Nicarágua como o político que
entregou todo o poder a Ortega, considerado pela oposição como um mandatário
autoritário que quis impor uma nova dinastia familiar no país centro-americano,
que não consegue se livrar de um passado de opressão, ditaduras e guerras.
Dirigentes
do Movimento Renovador Sandinista (MRS), fundado em 1994 pelo
ex-vice-presidente e escritor Sergio Ramírez e formado por dissidentes da
Frente Sandinista, disseram em um comunicado publicado em suas redes sociais
que o presidente “acabou com a Assembleia Nacional retirando deputados da oposição”.
Por sua vez, o movimento Cidadãos pela Liberdade – que reúne os simpatizantes
de Montealegre e os deputados opositores que perderam seus cargos – emitiu um
comunicado no qual informou que “podem destituir todos nós e acabar com nosso
partido, mas nunca o farão com nossa dignidade e princípios”.
Até
agora não ficou claro qual será a estratégia da oposição ao ficar fora da
disputa eleitoral e sem sua principal força: a representação parlamentar.
Dentro do movimento de oposição existem vozes que pedem uma mudança de
estratégia e uma nova liderança.
“Precisamos
de uma liderança, mas de alguém que entenda que é temporário e que precise de
ideias, de uma plataforma ideológica, não de um líder que vire o dono do
partido e continue assim eternamente. O que aconteceu a nós liberais, e a
muitos outros partidos da América Latina,
é que não temos teoria de sucessão. Então, quando se trata de substituir um
líder, ocorre uma guerra interna que termina nos despedaçando”, admitiu o
político de oposição Eliseo Núñez.
Sem
oposição e com todo os poderes sob seu controle, só falta agora a Ortega
resolver um problema: encontrar uma fórmula mais ou menos legítima para
garantir a sucessão familiar no poder e fundar uma nova dinastia.
O
mandatário já colocou seus filhos em cargos públicos e na administração de
empresas que enriqueceram sua família com a ajuda da enorme cooperação
petrolífera da Venezuela, mas ainda não designou um de seus familiares para que
o suceda.
Na
Nicarágua os rumores indicam sua mulher, Rosario Murillo, uma poderosa
primeira-dama que controla toda a administração pública e governa junto com
Ortega. O mandatário tem, de acordo com a lei eleitoral, até 2 de novembro para
nomear seu candidato à vice-presidência. E em Manágua se acredita que a linha
de sucessão passa por Murillo.
EL PAÍS
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