domingo, 22 de julho de 2018

Daniel Ortega dá um golpe no Parlamento e toma todo o poder na Nicarágua

CARLOS SALINAS

Tribunal Eleitoral, controlado pelo presidente, tira os cargos da oposição. Ortega impõe na Nicarágua um regime de partido único

O Tribunal Eleitoral da Nicarágua entregou ao presidente Daniel Ortega o controle total do Parlamento, ao retirar os cargos dos deputados da oposição, de modo que o mandatário nicaraguense consolida todo o poder em sua figura e impõe ao país centro-americano um regime de partido hegemônico.

A sentença do tribunal ordena à diretoria da Assembleia Nacional que retire os cargos dos deputados que foram eleitos em 2011 pelo Partido Liberal Independente (PLI), liderado pelo líder da oposição Eduardo Montealegre.
Em 8 de junho, a Suprema Corte retirou de Montealegre a representação legal do partido, o que fez com que a oposição ficasse sem opções para participar das eleições presidenciais de novembro, nas quais Ortega concorrerá como único candidato importante, pelo seu partido Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).

A Corte entregou a representação do PLI a um político que até então era desconhecido na Nicarágua, Pedro Reyes, que exigiu a obediência dos 20 deputados que foram eleitos pelo PLI e seu aliado, o Movimento Renovador Sandinista.

Esses deputados de oposição – que desde sua eleição denunciavam no Parlamento as arbitrariedades de Ortega, se transformando em uma voz incômoda para o Presidente – se negaram a obedecer a Reyes, considerado um “aliado silencioso” de Ortega, de modo que este pediu ao Tribunal Eleitoral que os retirasse de seus cargos.

Dessa forma Reyes passa às páginas da história da Nicarágua como o político que entregou todo o poder a Ortega, considerado pela oposição como um mandatário autoritário que quis impor uma nova dinastia familiar no país centro-americano, que não consegue se livrar de um passado de opressão, ditaduras e guerras.

Dirigentes do Movimento Renovador Sandinista (MRS), fundado em 1994 pelo ex-vice-presidente e escritor Sergio Ramírez e formado por dissidentes da Frente Sandinista, disseram em um comunicado publicado em suas redes sociais que o presidente “acabou com a Assembleia Nacional retirando deputados da oposição”. Por sua vez, o movimento Cidadãos pela Liberdade – que reúne os simpatizantes de Montealegre e os deputados opositores que perderam seus cargos – emitiu um comunicado no qual informou que “podem destituir todos nós e acabar com nosso partido, mas nunca o farão com nossa dignidade e princípios”.

Até agora não ficou claro qual será a estratégia da oposição ao ficar fora da disputa eleitoral e sem sua principal força: a representação parlamentar. Dentro do movimento de oposição existem vozes que pedem uma mudança de estratégia e uma nova liderança.

“Precisamos de uma liderança, mas de alguém que entenda que é temporário e que precise de ideias, de uma plataforma ideológica, não de um líder que vire o dono do partido e continue assim eternamente. O que aconteceu a nós liberais, e a muitos outros partidos da América Latina, é que não temos teoria de sucessão. Então, quando se trata de substituir um líder, ocorre uma guerra interna que termina nos despedaçando”, admitiu o político de oposição Eliseo Núñez.

Sem oposição e com todo os poderes sob seu controle, só falta agora a Ortega resolver um problema: encontrar uma fórmula mais ou menos legítima para garantir a sucessão familiar no poder e fundar uma nova dinastia.

O mandatário já colocou seus filhos em cargos públicos e na administração de empresas que enriqueceram sua família com a ajuda da enorme cooperação petrolífera da Venezuela, mas ainda não designou um de seus familiares para que o suceda.

Na Nicarágua os rumores indicam sua mulher, Rosario Murillo, uma poderosa primeira-dama que controla toda a administração pública e governa junto com Ortega. O mandatário tem, de acordo com a lei eleitoral, até 2 de novembro para nomear seu candidato à vice-presidência. E em Manágua se acredita que a linha de sucessão passa por Murillo.

EL PAÍS


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