Hélio
Duque
Um novo conceito para medir a injustiça social no mundo foi criado e
chama-se pobreza multidimensional. Analisa as leis econômicas e
trabalhistas, a concentração de renda nos países e as ações governamentais
inibidoras do progresso social. No Brasil, o IBGE adotou nas suas pesquisas
setoriais o conceito vigente no mundo.
A pobreza multidimensional analisa não somente a renda
individual da população. Engloba também a educação, saúde, habitação, o
saneamento, segurança e setores afins. O dado apurado pela respeitável entidade
que cuida da realidade socioeconômica brasileira aponta retrato do Brasil real.
Constatou 60% da população vítima da pobreza multidimensional.
Confirmam que estamos construindo uma civilização que marginaliza a
maioria da população. Agravada com a explosão urbana, que transferiu dois
terços da população rural para as cidades. Em 1970, ano da Copa do Mundo, o
slogan da música era “90 milhões em ação”. Cinco décadas depois, a população
ultrapassa os 200 milhões. As principais metrópoles e cidades médias explodiram
populacionalmente. Em todas elas, nas suas periferias, formou-se um “anel de
saturno” de pobreza.
A grande reforma para enfrentar a nova realidade, foi semântica:
“favela” passou a ser chamada de “comunidade”. A manipulação da opinião publica
pela publicidade oficial aliada à mentira política propagandeou que já não
havia pobres no país. O Brasil seria uma nação de classe média. O objetivo era
encobrir os problemas sociais, agravados pela recessão econômica nos anos de
2014, 2015 e 2016.
Felizmente o engodo foi desmascarado, demonstrando que a contrapartida
do Estado em investimentos na infraestrutura, ao longo de diferentes governos,
foi deplorável. Refletindo diretamente na educação, na saúde, na habitação, nos
transportes e na segurança nessas chamadas “comunidades”. A marginalização pelo
desemprego, em função da baixa formação, com baixíssima esperança no futuro,
levou as novas gerações a buscar caminhos violentos.
A proliferação dos assaltos nos centros urbanos e a penetração do
comércio das drogas levou a atual realidade. Viver nas grandes cidades
brasileiras passou a ser tormento pelo medo que invade o cotidiano
de grande parcela da sociedade. No Rio, o clima é de guerra declarada pela marginalidade.
A desigualdade, a pobreza e a pobreza extrema medida pelo IBGE, gerou
a sociedade desigual. É indiscutível o acumpliciamento ideológico da direita e
da esquerda nesse pseudo-capitalismo. Falar em igualdade de oportunidades no
Brasil é alimentar a mentira de um Estado que foi incapaz de atender a
elementares princípios de uma sociedade harmônica, onde as diferenças
socioeconômicas não fossem tão discrepantes e injustas.
O desenvolvimento excludente vem sendo predominante na vida nacional.
Ante essa realidade cruel, existe outro Brasil. Somos a 8ª economia do mundo,
estamos entre os maiores em extensão territorial, classificado entre os
“países-monstros”. Potencialidades de riqueza nessa extensão continental são
inegáveis. Resta indagar: por que somos uma sociedade tão desigual? Não se
queira atribuir isso ao Brasil ser vítima de uma conspiração mundial.
Ao contrário, os grandes problemas que invade a vida da maioria, são
autoinfligidos pelos próprios brasileiros. Por exemplo, no Produto Interno Bruto
“per capita” (mesmo sendo a 8ª economia mundial) 40 nações estão à nossa
frente. Na formação educacional, em linguagem, matemática e ciências, em
universo de 70 países, estamos entre os dez últimos comprovando as deficiências
no aprendizado.
Em outubro, elegeremos novos governantes. A pergunta aos
presidenciáveis é como pretendem enfrentar esses desafios do presente e do
futuro? Terão coragem de fazer o enfrentamento em defesa da sociedade? Lutarão
para mudar essa estrutura viciada dominante no Estado brasileiro que se mostra
corrompido e ineficiente? A resposta está com os eleitores brasileiros.
catve.com
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