Alexandre
Schossler
Endividamento
do país alcança 2,3 trilhões de euros e é maior do que o da Alemanha ou da
França. Na comparação com o PIB chega a 132%. Se a Itália quebrar, um resgate
como o da Grécia seria impossível.
A Itália é, depois da Alemanha e da França, a terceira maior economia
da zona do euro, com um Produto Interno Bruto (PIB) de 1,8 trilhão de euros.
Porém, quando o parâmetro é dívida pública, os italianos passam para a primeira
posição na área da moeda comum.
São 2,3 trilhões de euros em dívidas, mais do que a Alemanha, que deve
2 trilhões, mas tem um Produto Interno Bruto (PIB) que é o dobro do italiano,
de 3,5 trilhões de euros. Além disso, os juros dos títulos alemães estão em
queda, quando não chegam a ser negativos, ao passo que os italianos estão
aumentando. E, com eles, sobe também a dívida total.
Percentualmente, a Itália deve o equivalente a 132% do seu PIB. Isso
significa que tudo o que o país produz em um ano não bastaria para pagar o que
o governo deve, se fosse o caso de pagar tudo de uma vez.
Na zona do euro, esse percentual só fica abaixo do endividamento da
Grécia, que equivale a 177% do PIB. Outros países também têm altos
endividamentos, como Portugal, com 132%, Espanha, com 103%, e França, com 96%.
A dívida da Alemanha corresponde a 71% do PIB do país.
Pelas regras que a União Europeia criou para si mesma com o Tratado de
Maastricht, a dívida pública dos países-membros não poderia passar de 60% do
PIB. Ou seja, não só a Itália, mas todas as grandes economias desrespeitam essa
regra, e já há anos.
Economistas apontam o descumprimento contínuo dessas regras como um
dos principais riscos para o euro. A outra regra de Maastricht diz que o
déficit público anual (na prática as dívidas contraídas no ano) não pode passar
de 3% do PIB. Também essa regra costuma ser frequentemente desrespeitada por
vários países.
Efeito
cascata
Por colocar o euro em risco, a enorme dívida pública da Itália é um
problema para todos os países que adotam a moeda europeia. Um outro risco
inerente à dívida italiana é que muitos bancos europeus são credores da Itália.
Instituições francesas, por exemplo, são credoras de 310 bilhões de euros
(incluindo empréstimos ao Estado e a empresas italianas). Bancos italianos
também emprestaram muito dinheiro ao Estado. Só no caso do Generali são 63
bilhões de euros.
Todos os economistas concordam que, se a Itália tiver problemas
semelhantes aos da Grécia, não poderá ser resgatada pelos demais países
da UE por ter uma economia quase dez vezes maior do que a da Grécia.
E o problema é que, como os últimos dias mostraram, o risco de uma
insolvência da Itália existe e se torna bem concreto se, por exemplo, os juros
subirem rapidamente. Esta semana, títulos de cinco anos somente conseguiram ser
negociados com juros de 2,3%, bem mais do que os 0,6% de alguns dias atrás.
Se essa tendência se mantiver, a Itália logo não conseguirá mais obter
dinheiro nos mercados internacionais, a exemplo do que aconteceu com a Grécia,
que em 2010 foi obrigada a recorrer a um pacote de resgate porque investidores
apenas aceitavam comprar títulos gregos se o retorno em juros fosse muito alto.
Só que, no caso da Itália, os demais países não teriam os recursos
necessários para ajudar. O PIB italiano é de 1,8 trilhão de euros. O da Grécia
é de meros 195 bilhões. O Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), criado
durante a crise grega, dispõe de 400 bilhões de euros. Isso dá para ajudar a
Grécia, mas fica bem aquém do que seria um resgate para a Itália.
Sinais
positivos na economia
A situação da dívida pública italiana, porém, não é nova. Já no início
do euro, em 1998, o endividamento do governo italiano era visto como um
problema para o país adotar a moeda. Na época, o Instituto Monetário Europeu,
antecessor do Banco Central Europeu, já reclamava que a dívida pública, então
em 121% do PIB, estava bem acima dos 60% determinados.
Nos últimos anos, o que ajudou a Itália – e também outros países
europeus – a manter suas dívidas sob controle foi a polêmica decisão do Banco
Central Europeu de comprar títulos da dívida pública de países do euro.
Desde que passou a ser adotada, em 2015, a medida ajudou a reduzir os
juros pagos por esses títulos, o que vale também para os papéis italianos.
Porém, como os italianos gostam de ressaltar, apesar da dívida pública
constantemente elevada, o país nunca esteve perto de quebrar. Muitos
economistas concordam com essa observação e lembram que a atual performance da
economia italiana é boa. O PIB deverá crescer 1,5% este ano, e o déficit
público de 2017 foi de 2,3%. Uma nova reforma no mercado de trabalho e também
uma reforma no sistema de impostos poderiam ajudar o país a estabilizar suas
finanças, afirmam.
DW
– Deutsche Welle
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