Laurence
Peter
Em uma
ampla e extensa operação contra a máfia, a polícia italiana tem prendido nos
últimos dias dezenas de suspeitos em Nápoles, Roma e na Sicília. A lista de
crimes atribuídos aos presos é extensa: tráfico de drogas e de armas, extorsão,
suborno e roubos de obras de arte.
As ações desses grupos criminosos fizeram com que a máfia italiana
fosse conhecida em todo o mundo.
Mas quem
são os atuais clãs que a compõem?
Máfia
siciliana: Cosa Nostra
Os sicilianos estabeleceram um modelo para outras máfias. Os membros
do grupo começaram a transmitir seus preceitos no século 19 e, a partir daí,
cresceram em poder e sofistificação.
A Cosa Nostra, que significa algo como "assunto nosso" em
tradução livre, é considerada a primeira máfia baseada em clãs familiares. Ela é
famosa peloomertà, um código de silêncio que serve para demonstrar lealdade
total ao grupo. Quem a descumpre é considerado traidor e pode ser torturado ou
morto. Casos de descumprimento das punições podem levar a castigos a famílias
inteiras.
Os membros da Cosa Nostra continuam resolvendo disputas de negócios
dessa forma, desafiando a autoridade das cortes italianas.
Muitos sicilianos odeiam a máfia por causa do pizzo, uma forma de
extorsão de comerciantes locais.
A Cosa Nostra ganhou notoriedade nos Estados Unidos ao conquistar
territórios. Ela acabou por se tornar uma força no crime organizado em Chicago
e Nova York. Seus membros ganharam muito dinheiro vendendo bebida alcoólica
durante os anos de Lei Seca, na década de 1920.
O principal negócio da Cosa Nostra atualmente é o tráfico de heroína.
Segundo o FBI, a organização criminosa nos Estados Unidos hoje pouco tem a ver
com os clãs da Itália.
A palavra máfia é derivada do adjetivo siciliano mafiusu, que
pode ser traduzido como "arrogante" ou "audaz". O termo
também é usado de maneira incorreta para qualquer quadrilha que se dedique ao
crime.
Alguns clãs da máfia italiana operam de maneira global, concorrendo
com outras, como a russa, a chinesa e a albanesa. Porém, algumas vezes essas
gangues compartilham os crimes e os lucros.
Ao mesmo tempo, a Cosa Nostra busca influenciar a política nacional,
tanto na Itália como nos Estados Unidos.
A Cosa Nostra e outros três clãs familiares, que atuam em outras
regiões da Itália - a Camorra, a Ndrangheta e a Sagrada Coroa Unida -, têm
cerca de 25 mil membros, além de 250 mil filiados no mundo, segundo dados do
FBI.
A Cosa Nostra entrou em guerra contra o Estado italiano quando seu
líder era Salvatore Riina. Conhecido como "padrinho" e
"Toto", Riina assumiu seu comando em meados da década de 1970.
Em maio de 1992, seus homens detonaram a bomba que matou o juiz
Giovanni Falcone, sua mulher e seus seguranças. Falcone era responsável por uma
série de processos contra a máfia.
Dois meses depois, capangas de Riina voltaram a atacar com explosivos
e mataram o substituto de Falcone, além de cinco de seus seguranças.
Riina morreu em novembro do ano passado, aos 87 anos, enquanto cumpria
26 sentenças de prisão perpétua por homicídios.
Buscando "diversificar" os negócios, a Cosa Nostra chegou a
financiar projetos nos Estados Unidos. Uma investigação da BBC revelou em 2010
que investimentos em parques de energia eólica estavam entre os objetivos da
organização.
A sociedade siciliana tem lutado contra a máfia com determinação. Um
grupo antimáfia chamado Libera Terra coordena novos negócios, como
hotéis, com dinheiro e propriedades apreendidos da máfia.
O professor Federico Varese, da Universidade de Oxford, no Reino
Unido, afirmou que a Cosa Nostra tem praticado extorsão em abrigos de
imigrantes na Sicília. Por outro lado, além da repressão policial, algumas
quadrilhas de imigrantes estão competindo com a máfia em algumas áreas, como a
prostituição, disse Varese à BBC.
Máfia
napolitana: Camorra
Estima-se que 4,5 mil pessoas pertençam aos clãs da Camorra, baseada
em Nápoles e Caserta, no sudoeste da Itália.
Seu principal negócio é o tráfico de drogas e seus métodos são
extremamente brutais. A organização também consegue dinheiro extorquindo construtoras,
empresas de descarte de resíduos tóxicos e a indústria têxtil. A Camorra produz
ainda falsificações de artigos da moda italiana.
A forma de atuar da Camorra foi documentada pelo jornalista italiano
Roberto Saviano no best-seller Gomorra. Depois de receber diversas ameaças
de morte, o repórter passou a viver com proteção constante de guarda-costas.
Em uma entrevista à TV pública americana PBS, Saviano explicou que a
Camorra e a 'Ndrangheta eram menos hierárquicas que a Cosa Nostra, mas eram
mais violentas, conquistaram mais poder e eram comandadas por chefes jovens.
Segundo ele, os grupos também estão menos envolvidos com política.
Apesar de a Camorra ter chegado à Espanha, suas principais bases
permanecem em bairros pobres de Nápoles, como Scampia e Secondigliano.
Outro aspecto importante da máfia napolitana é que as mulheres
desempenham um papel importante na organização, ocupando cargos como
mensageiras, contadoras e responsáveis por pagamentos a outros membros.
Máfia
calabresa: 'Ndrangheta
A Calábria, na região sul da Itália e próxima da Sicília, hoje é polo
de negócios da 'Ndrangheta. Originalmente, era um dos redutos da Cosa Nostra.
Seu nome vem do grego "andragathia", que significa coragem e
lealdade.
O FBI estima que a máfia calabresa tenha cerca de 6 mil membros,
concentrados em uma das regiões mais pobres do país.
O grupo se especializou no tráfico de cocaína. Varese, da Universidade
de Oxford, aponta que a quadrilha tem relação direta com organizações
criminosas no México e na Colômbia.
Estima-se que a máfia, em comunhão com os cartéis mexicanos, controle
boa parte do tráfico de cocaína na Europa.
Uma demonstração da brutalidade da 'Ndrangheta ocorreu em 2007 na
cidade alemã de Duisburg, quando foram assassinados seis italianos apontados como
membros de grupos mafiosos. Os corpos foram encontrados dentro de vários
veículos próximos de um restaurante italiano.
A 'Ndrangheta também é acusada de desviar fundos oficiais destinados a
imigrantes que vivem nas ruas da Calábria.
Máfia da
Puglia: Sagrada Coroa Unida
Este é o menor grupo mafioso da Itália e é conhecido apenas como
Sagrada Coroa Unida, ou Sacra Corona Unita, em italiano. A sede da organização
é na Puglia, no sul do país.
Segundo o FBI, essa organização tem 2 mil membros especializados em
contrabando de cigarros, drogas e armas, além do tráfico de drogas, armas e
pessoas.
A Puglia é uma entrada natural para o comércio nos países Bálcãs.
Acredita-se que muitos dos clãs da máfia tenham relações estreitas com
quadrilhas do leste europeu.
BBC News
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