Percival Puggina
Se você procurar no YouTube por
"Lula confessa estelionato eleitoral", vai encontrar um vídeo de
pouco mais de um minuto no qual o ex-presidente afirma: "Nós tivemos um
problema político sério, que nós ganhamos as eleições, sabe, com um discurso e,
depois das eleições, nós tivemos, sabe, que mudar o nosso discurso e fazer
aquilo que a gente dizia que não ia fazer...".
Essa irretratável confissão foi proferida
ao Diretório Nacional do PT, no último dia 30. Depois de haver mentido à beça,
brincado de Alice no Brasil das maravilhas, raspado os cofres para sustentar
farsas e feito o país regredir para indicadores de 2003 num mundo cuja economia
crescerá 3% neste ano, o governo entrou em síndrome de autocomiseração. De
culpado a vítima. Em deprê, só falta chorar pelos cantos.
Longe de mim apresentar o
parlamentarismo como solução para a crise em curso. A razão, a racionalidade,
não podem entrar pela saída de emergência para resolver crises de uma
irracionalidade reiteradamente convidada pela porta dianteira. Resolvam, as
instituições, essa tempestade de desgraças produzidas por um governo que tudo
fez para ativá-la. Mas resolvam! Decidam até mesmo não decidir coisa alguma.
Mas decidam!
Depois, por favor, desliguem os
aparelhos que mantêm vivo esse modelo político moribundo e ficha suja. Ele vai
na contramão de tudo que a mínima e a máxima racionalidade, em comum acordo,
devem almejar. A quem serve colocar sob comando de uma só pessoa e seu partido
o Estado, o governo e a administração pública? Governos partidários são normais
nas democracias, mas - por favor! - partidarização do Estado? Da máquina
burocrática?
Graças a esse sistema ruinoso, quem
comanda a política externa brasileira é a Secretaria de Relações Internacionais
do PT. Faz sentido? Graças à partidarização do estamento burocrático, pela
inserção de dezenas de milhares de militantes em cargos de confiança,
funcionários transitórios podem inutilizar deliberações do Congresso Nacional.
Podem colocar todo o material didático produzido para as escolas do país à
serviço da ideologia do partido governante. Podem regulamentar para tornar má
uma lei boa. Podem torcer informações, lubrificar as correias para pedaladas e
podem se prestar para fins ainda mais escusos.
Quando cessar a tempestade, aconteça
o que acontecer, tratemos de saber por que 95% das democracias estáveis separam
Estado de governo e de administração, e têm mecanismos institucionais para substituição
não traumática de maus governos. Reflitamos sobre o que o presidencialismo faz
nesta pobre e autofágica América Ibérica, recordista da demência institucional.
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