Waldo Luiz Viana
Temos que convir: está tudo aí, na
cara do povo brasileiro, de maneira descarada e escarrada. Vemos a corrupção
das propinas, a luta insana da aristocracia que tem a cabeça no século 19,
enquanto a sociedade vive a globalização dos celulares, computadores, tablets e
andróides.
É óbvio que querem se manter no
poder, utilizando o voto obrigatório (um dever, jamais um direito) e o foro
privilegiado (afinal há cidadãos “melhores” que outros). Nesse sentido, Lula
acertou, quando disse um dia sobre José Sarney: “obviamente ele não é uma
pessoa comum”.
Pessoas comuns estão, em verdade, à
disposição da polícia e do Judiciário, naquele velho princípio dos quatro pês:
“prendemos pretos, pobres e prostitutas”. Por isso, muito cuidado os
esfomeados, furtadores de latas de goiabada nos supermercados. É óbvio que
serão apanhados pela gola e conduzidos à cadeia. Os ricos, porém, estes têm
advogados caros para encontrar brechas nas leis e através de chicanas e de
infindáveis recursos protelar a prestação de contas em relação às leis.
Nossos políticos federais que as
fazem, cerca de seiscentos, que custam cada um dois milhões de reais por ano,
querem que tudo permaneça como está, ou seja, não são pessoas comuns e obedecem
àquele velho princípio eleitoral: roubar pra se eleger e se eleger para roubar.
É claro que existem honrosas exceções, mas infelizmente existe a
regra. Não é o melhor dos mundos?
É óbvio que o PT, que chegou ao poder
com promessas éticas e de salvação do país, transformou-se numa máquina de
corrupção jamais vista, inclusive ameaçando os que não concordam com o castigo
de exércitos alternativos, movimentos sociais e ONGs de discutível procedência.
Vemos tudo transcorrer embaixo de
nosso nariz e não conseguimos fazer nada, demonstrando aquele espírito típico
do vestíbulo do inferno de Dante: “deixai aqui toda a esperança”.
Nossa aristocracia não quer largar o
osso e manterá tudo como está, o que se comprova com os resultados hilariantes
da CPI da Petrobras. É óbvio que eles não querem condenar qualquer político e o
baixo clero no Congresso irá assegurar o futuro auspicioso do presidente da
Câmara.
Afinal, ele interpreta exatamente o
espírito da maioria dos deputados e sua sanha por cargos e sinecuras. Além do
que pode barganhar sua sobrevivência, porque porta sem timidez a caneta do
impeachment.
Nada de planos estratégicos para o
futuro do país, que isso não interessa. Nada de desinchar o Estado, que deve
ser pesadão, caríssimo e ineficiente, enquanto o caos permanece na saúde, educação
e segurança.
É óbvio que utilizaram o BNDES para
financiar projetos no exterior, à revelia do povo brasileiro e do próprio
Congresso. Mas nada disso importa, porque não haverá qualquer retaliação e os
poucos protestos de alguns cairão no vazio.
Na verdade, o país ainda não saiu do
regime das capitanias hereditárias, em que fatias de poder são distribuídas sem
qualquer pudor entre as mesmas caras carimbadas, que sempre dizem que não têm
dinheiro secreto no exterior. E todo mundo sabe quem são e eles caminham
livres, sorridentes e sem medo, porque nosso Judiciário não passa de um
puxadinho mal ajambrado de tais poderes ocultos.
Mas hora direis: e as operações da
Polícia Federal e do Ministério Público? Sim, são pobres esperanças do
povo brasileiro que está no fundo do poço. Existem realmente alguns quixotes
audazes, procurando deter a sangria da corrupção generalizada, dos golpes
continuados de um partido para se manter no poder a qualquer preço (“faremos o
diabo pra reeleger a Dilma” – lembram-se) e da gulodice continuada de
outro partido aliado, que se cala convenientemente em troca de ministérios e de
abonos colonizadores no segundo escalão federal.
Podemos nos orgulhar de assistirmos à
descoberta de que somos uma nação que pratica os maiores atos de corrupção da
história humana, desde os tempos da Suméria e Babilônia. Ninguém ousou a tanto
em nenhum lugar, só no Brasil, porque aqui tudo é permitido. É óbvio que
aqui também existe o braço da Justiça, mas existem cidadãos mais iguais que
outros e eles conseguem protelar as penas, com intermináveis recursos que
arquivam processos ou os tornam preclusos com o tempo. Esse é o tal “foro
privilegiado” na prática...
É óbvio que a aristocracia argumenta
que as eleições são caras e que, para manter o poder, precisa recorrer a
financiamentos escusos e fraudulentos, extraídos a fórceps de empreiteiras e
estatais. E haverá alguém que acredite que não será mais assim? Óbvio que
não...
Somos escravos, nós, o povo em geral,
das obviedades e das pizzas. Pão (talvez a falta dele), circo, futebol, novelas
e Big Broderes. A maioria nem quer saber de política e se o voto não fosse
obrigatório ausentar-se-ia de qualquer pronunciamento. A maioria, no fundo,
está exausta e completamente descrente.
É óbvio que se percebe uma insana
luta pelo tal ajuste fiscal, mas sabemos que isso não irá resolver o desespero
do povo endividado pelos juros mais escorchantes do mundo. E sabemos que isso
não vai mudar, apenas surgirão paliativos, obviamente em anos eleitorais.
Sendo assim, navegando entre rombos e
dívidas, o país vai entrando em colapso e o povo, assustado e desiludido,
sente-se realmente adentrando o inferno de Dante, deixando para trás
toda esperança.
Afinal, somos um povo vivendo no
século 21 dirigido por uma aristocracia cuja cabeça continua no século 19 e com
saudades eternas do tempo em que éramos apenas colônia de Portugal e da
Inglaterra.
E tal aristocracia, inclusive, está
agastada com alguns gatos pingados que a desafia, prometendo punição aos
criminosos obviamente descobertos, e tenta por todos os poros deter essa onda
de delações premiadas, contrárias a seus planos de permanência. Que ousadia
contrariar o velho poder que se propõe ser eterno?
Sobra apenas para nós o gosto amargo
de ver esse embate distante, entre aristocracia e povo, uma luta surda e
intestina que obviamente não fomos convidados a participar.
Resta-nos esperar, ansiosos, a
próxima atração...
Waldo Luís Viana
Escritor, economista, poeta e não pertence à
aristocracia que nos sufoca...
Alerta Total – www.alertatotal.net
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