Percival Puggina
Em
junho deste ano, durante o 2º Congresso Nacional da CSP-Conlutas, um membro do
comitê central do PCB (N.doE.: Mauro Iasi) fulminou os conservadores com o
poema em que Brecht sentencia um homem dito bom à morrer num bom paredão, com
uma boa espingarda, uma boa bala e com sepultura numa boa cova. Calorosos
aplausos da plateia referendaram a fala. Alguém filmou, vazou e o vídeo
prolifera nas redes sociais sob óbvias rejeições. O site do PCB atribui tais
repulsas – ora vejam só! – a uma direita “fascista e raivosa”.
Lembrei-me
do livro Camaradas. Esse excelente trabalho de pesquisa e jornalismo,
empreendido por William Waack sobre a Intentona Comunista de 1935, foi
viabilizado quando a abertura dos arquivos de Moscou permitiu escrutinar com
correção os fatos da época. O livro inicia com pequeno trecho de uma das peças
teatrais didáticas produzidas por Brecht: “Quem luta pelo comunismo tem que
poder lutar e não lutar, dizer a verdade e não dizer a verdade, (…) manter a
palavra e não cumprir a palavra (…). Quem luta pelo comunismo tem de todas as
virtudes apenas uma: a de lutar pelo comunismo”.
Nessa
obra (procure “The measures taken” para lê-la em inglês), Brecht relata certa
missão de propaganda durante a qual um jovem militante concorda com ser
executado por seus camaradas para segurança da tarefa revolucionária. O coro,
como a plateia do sujeito do PCB, louva a terrível decisão. Às infames lições
citadas acima, o drama brechtiano, acrescenta que a benevolência faz mal à
causa, que o coletivo sabe mais que o individual, que a rígida disciplina é
indispensável à tarefa revolucionária, e por aí vai. Tais princípios abastecem
os coletivismos, motivaram os genocídios sem os quais não se imporiam e são as
muletas retóricas do discurso mencionado no início deste texto. Paredão!
Portanto,
quando lhe falarem no tal coletivo, se não for ônibus, desembarque! Você pode
ser atropelado por uma terrível ideia: nos coletivismos, o indivíduo e sua vida
valem nada, absolutamente nada. Opondo-nos a isso, devemos reconhecer que temos,
por natureza, uma real e preciosa existência social. Essa existência, todavia,
deve ser vivida sem prejuízo da nossa individualidade. Somos dotados de
liberdade, vontade, razão, responsabilidade e dignidade natural. Somos
indivíduos, pessoas humanas, desde a concepção. É como indivíduo, pessoa
divina, que Cristo irrompe na História. Será como indivíduos que nos
apresentaremos ao Altíssimo para um juízo pessoal, não coletivo.
Desconhecer,
minimizar ou desfazer essa grandeza num coletivismo é reabrir as páginas mais
trágicas e escabrosas do século 20.
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