ADRIANO GIANTURCO
Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata, a predileção do
brasileiro em se colocar abaixo do mundo. Para ele:
“Por
“complexo de vira-lata” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se
coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso
às avessas, que cospe na própria imagem.
Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos
para a auto-estima.”
Mas
a verdade é que sustentamos, a um duro custo, alguns dos mais estúpidos
recordes mundiais que se tem notícia.
Abaixo, listamos dez deles:
1. O PAÍS MAIS FECHADO DO
MUNDO.
Em 2011, foi constatado pelo Banco
Mundial que o Brasil era o país mais fechado do mundo,
importando apenas 13% do seu PIB – o menor índice em uma escala
com 179 países. Em 2014, o país se posicionou como o 3º mais
fechado, importando 14.3% e sendo ultrapassado apenas pelo Sudão (o
mais fechado de todos, com 12.6%) e pela Nigéria (2º lugar, com 14.1%).
2. O SISTEMA
FISCAL MAIS COMPLEXO DO MUNDO.
“Tributação
em cascata” é um termo bastante representativo do sistema
fiscal brasileiro, no qual as (literalmente) incontáveis taxas
existentes conhecidas e desconhecidas comumente se sobrepõem em
cascata, incidindo várias vezes sobre o mesmo produto ou serviço, como é o
caso do ICMS, imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços. Anualmente
são gastas 2.600 horas apenas para entender o sistema
tributário – tempo ao qual o país pode creditar o primeiro lugar no
ranking de sistemas fiscais mais complexos do mundo, que você confere na tabela
acima.
3. O
JUDICIÁRIO MAIS CARO DO OCIDENTE.
O
orçamento do Conselho Nacional de Justiça chegou a R$ 62,3 bi em 2013,
último ano para o qual existem dados: mais do que o PIB de 12 estados
brasileiros considerados individualmente, conforme indicado porestudo de 2015 do pesquisador do Departamento de Ciência
Política da Ufrgs, Luciano da Ros. Dessa forma, o
custo per capita da justiça no Brasil ultrapassa o de todos os
países ocidentais analisados na pesquisa, representando 1,3% do
PIB do país (o segundo lugar é da Venezuela, cuja justiça custa 0,34% do
PIB). Veja o gráfico acima, elaborado pelo mesmo estudo.
4. OS TRIBUNAIS QUE
MAIS DISCRIMINAM EMPRESAS ESTRANGEIRAS.
Em uma pesquisa sobre protecionismo, os famosos economistas S.L. Parente
e E. C. Prescott descobriram que o judiciário brasileiro é o que
aplica a lei de forma mais desigual e restritiva contra empresas estrangeiras
(em relação às empresas nacionais). Ou seja, dada uma determinada
legislação (igual para empresas nacionais e estrangeiras), a probabilidade que
uma empresa estrangeira tem de perder em um eventual processo é muito mais
alta. Isso quando a lei para investidores estrangeiros em um setor
específico é igual e não já diferente por disposição legislativa.
5. OS ALUNOS
MAIS INDISCIPLINADOS DO MUNDO.
O Brasil lidera outro ranking: o de maior indisciplina nas salas
de aula – por aqui, os professores gastam em média 20% das aulas apenas
tentando apaziguar os estudantes. Em países como o Japão, apenas 13% dos
professores alegam problemas com alunos indisciplinados, enquanto no
Brasil 60% dos educadores afirmam vivenciar tais problemas. Além disso, o país
está em segundo lugar no quesito “vandalismo e roubo em sala de
aula”, perdendo apenas para o México; lidera o indicador “uso e posse de
drogas” e ocupa o quarto lugar em violência e ferimentos entre
alunos. Dados da OECD.
6. UM DOS
PAÍSES MAIS VIOLENTOS.
Com um total de 1,1 milhão de assassinatos entre 1980 e 2011, o
Brasil ocupa atualmente o 11º lugar no ranking de países mais violentos do
mundo; perdendo apenas para Belize, Bahamas, Colômbia, Congo, El Salvador,
Guatemala, Honduras, Jamaica, Porto Rico, Venezuela e África do Sul. E, ao
contrário da expectativa popular, a maioria das mortes não está ligada ao
tráfico de drogas e a atividades de crime organizado, mas a motivos
impulsivos e triviais – é o que afirmam os autores do Relatório Mapa da
Violência (Map of Violence). Dados do Banco Mundial indicam que, com média de 25
homicídios intencionais documentados a cada 100.000 moradores, a taxa de
homicídios do país supera a de países que vivem graves conflitos como Iraque (8
a cada 100.000) e Afeganistão (7 a cada 100.000).
7. AS
RUAS COM MAIS MORTOS PELO TRÂNSITO DA AMÉRICA DO SUL.
Um recente estudo da Organização Mundial da Saúde mostra
que anualmente morrem nas ruas 1.25 milhões de pessoas, gerando uma perda
econômica de 3-5% no PIB mundial. O Brasil é o pior país da América do
Sul, perdendo apenas para Tailândia (pior país do mundo), alguns
países africanos, alguns do Oriente Médio e a República Dominicana. A
cada ano, o Brasil tem entre 41.059 e 46.935 mortes (declaradas e
estimadas) com uma taxa de 23.4 mortes por 100.000 habitantes e de 0.6% de
mortes por veículo.
No gráfico acima podemos ver que o Brasil está pior que
países com a mesma proporção veículos/habitantes, ficando assim fora da
curva.
8.
MAIS FÉRIAS E FERIADOS PAGOS DO MUNDO.
O Brasil não apenas adota a mesma legislação trabalhista de um
século atrás e tem a produtividade estagnada desde os anos 80, como também
lidera o ranking mundial de férias mais longas impostas por lei (30
dias de férias + 11 de feriados pagos). Vale lembrar que no Canadá, o tempo de
férias é de 18 dias, e nos EUA estas variam entre apenas 10 e 15 dias (a
legislação trabalhista é mais flexível e depende da negociação individual).
Ainda assim o IBGE aponta justamente os EUA como principal destino dos
emigrantes brasileiros (23,9%). Todos os países do top 20 de férias mais longas
já são ricos (Inglaterra, Alemanha, Suécia, Dinamarca, Irlanda, Austrália, Nova
Zelândia, entre outros) e podem então se permitir este luxo, excetuando a
Tunísia (posição 18 com 30 dias) e o Brasil. O indicador brasileiro poderia
parecer positivo, se não se levasse em conta que:
1. Férias remuneradas só significam algo para aqueles
que estão empregados (cada vez menor parte da população);
2. Essa obrigatoriedade reduz a atratividade de investimento
nos setores geradores de emprego fazendo com que postos de trabalho deixem
de existir;
3. O sistema mantém a baixa produtividade e repassa
os custos dessa legislação para os consumidores, o que não contribui para
as quedas dos preços dos produtos e serviços,
e mantém a estagnação do desenvolvimento humano.
9. ÚLTIMO
LUGAR EM RETORNO DE IMPOSTOS AO CIDADÃO.
O último lugar no índice do IBPT, que considera
o retorno de impostos aos cidadãos tendo em conta a
arrecadação em relação ao PIB e ao bem estar social é brasileiro pela 5º
vez consecutiva. Esse índice, chamado IRBES (Índice de Retorno e Bem Estar à
Sociedade) é calculado com base em dois indicadores: a carga tributária – ou
seja, montante subtraído da população em forma de impostos, em relação ao PIB
(produção interna do país) -, e o Índice de Desenvolvimento Humano – que
considera a educação, saúde e renda para compreender o desenvolvimento
econômico de uma sociedade.
10. MAIS
PEDIDOS DE REMOÇÃO DE CONTEÚDO DO GOOGLE.
De acordo com o Relatório de Transparência do
Google, 30,5% do total mundial de demandas de remoção de conteúdo vem
do Brasil. As solicitações podem ser feitas via mandados e por instituições
como o Poder Executivo, a polícia, etc.
Ao considerar o período entre 2010 e 2014, a maioria das
demandas são justificadas pelo argumento de difamação, como demonstra o gráfico
acima.
Adriano Gianturco
ESCRITO EM PARCERIA COM BRENDA PEREIRA, GRADUANDA EM RELAÇÕES
INTERNACIONAIS IBMEC-MG.
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