terça-feira, 17 de novembro de 2015

Ainda sobre o fantasma do Bolsonaro

AC Portinari Greggio

Dizem alguns que Jair Bolsonaro é radical e descontrolado nas suas palavras e atitudes. Essas características são apontadas como impedimento à sua cogitada candidatura à Presidência da República.

Cada defeito tem a sua virtude oposta. Ruim é o contrário de bom; feio, de bonito; tolo, de sábio; e assim por diante. Qual o oposto de "radical"? Devia ser "moderado", ou "equilibrado". Mas em Brasília, graças aos tucanos e outros da sua espécie, a virtude oposta a "radical" é "político". "Político" quer dizer hábil, jeitoso, esperto. É o cara que soma apoios, votos e simpatias.

Ora, idéias e princípios somam e separam. Mas o bom político só soma. Por isso, o bom político evita idéias e princípios. E por isso mesmo, Bolsonaro é classificado como radical. Se fosse mais "político", faria como os tucanos: esconderia suas idéias ou simplesmente faria de conta que nunca as teve. Ou então procederia como os do baixo clero, que estão ali para negócios e, como negociantes, só pensam em agradar os fregueses e não perder os mandatos.

O "radicalismo" de Bolsonaro consiste apenas na sua fidelidade a idéias e princípios que nunca renegou, jamais escondeu e defende com veemência, ainda que ao custo de ser marginalizado, odiado e difamado. Princípios e idéias - prestem atenção - que aprendeu no Exército Brasileiro. Portanto, seu radicalismo não é tão radical como dizem.

Num país onde a gangorra da política só tem gente do lado esquerdo, qualquer um que se ponha mais à direita vira automaticamente "radical". Se quisesse desmentir essa fama, Bolsonaro deveria entrar para o rebanho, apagar-se, e limitar suas intervenções a temas amenos. Mas não o faz.

A outra restrição dos críticos a Bolsonaro é que seria descontrolado, imprudente e até irresponsável nas atitudes e discursos. Se for, a virtude oposta seria a moderação. Bolsonaro, portanto, deveria ser mais moderado. Deveria, sim, se estivesse noutro ambiente, noutro contexto. Mas lembrem-se, ele está no Congresso Nacional.

Durante anos, foi a única, ou quase única, voz dissidente naquela Casa. E, todos sabem, aquela Casa é o foro onde se engendram e se aprovam os mais infames e absurdos projetos, defendem-se as mais depravadas idéias, atenta-se contra o senso comum, traem-se os interesses nacionais, aceita-se a mentira como norma, enlameiam-se os bons e exalta-se a escória, e, nos hiatos, ocupa-se o tempo com chicanas, vigarices e miudezas.

Pergunta: dá para ser moderado, cortês ou tolerante num ambiente desses?

Imaginem, por exemplo, como seria num debate sobre o "kit gay" destinado a ensinar pederastia a crianças nas escolas primárias. Ou aquele outro projeto, que obriga o Estado a proporcionar cirurgia de mudança de sexo a menores de idade, sem sequer consultar os pais. Apenas dois exemplos entre centenas.

Como reagir diante de insultos à inteligência, à decência e ao senso comum? Moderadamente? Com tolerância? Por favor me ensinem como se faz para ser moderado, tolerante ou cortês nesses casos. Mormente quando se está rodeado de gente que, por estupidez, medo ou interesse, permite que esses projetos passem, sem perceber que estão preparando a destruição do País.

Caros amigos, essa defesa do Bolsonaro é desinteressada, porque sequer o conheço pessoalmente; e pragmática, porque o objetivo não é, como diziam nos meus tempos de botequim, colocar azeitona na empada dele, ou coisa parecida.

O objetivo é outro: atacar a constituição de 1988 dentro da mesma constituição de 1988. Porque, novamente repetindo refrões: ou o Brasil termina com ela, ou ela liquidará o Brasil.

E Bolsonaro, meus amigos, pode ter os defeitos que tiver. Mas é carismático, bom de voto e tem ilimitadas perspectivas de crescimento junto ao eleitorado - inclusive o eleitorado do petê - nos próximos dois anos de crise cada vez pior.

Todo esse longo preâmbulo é para enviar-lhes - se ainda tiverem paciência - o artigo deste mês, publicado no jornal Inconfidência.

AC Portinari Greggio
Especialista em Assuntos Estratégicos. 

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net



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