João Cesar de
Melo
A
indústria criativa nos dá uma clara visão dos benefícios da ausência de
vínculos trabalhistas.
A
grande maioria dos arquitetos, dos designers e dos artistas começam suas
carreiras como estagiários informais, permanecendo mais ou menos tempo em cada
empresa, escritório e ateliê como aprendiz ou assistente de acordo com as
expectativas de cada momento. Alguns, pela oportunidade de experiência, chegam
a trabalhar de graça.
Formando-se,
muitos continuam indo e vindo entre diversos empregos, sempre buscando a melhor
relação entre acúmulo de experiência profissional e salário, evitando vínculos
que lhes impeçam de trocar de emprego facilmente. Outros abrem seus próprios
escritórios e ateliês contratando informalmente estagiários e funcionários em
função da demanda de trabalho. O profissional ou artista autônomo mantém seus
valores em função da procura por seus serviços ou artes.
A
primeira lei que todos eles aprendem é a de que o mercado é instável.
A
segunda lei aprendida é a de que eles têm que saber lidar com isso.
A
terceira lei é aquela que diz que quanto mais distantes estiverem da burocracia
estatal, mais e melhor trabalharão.
Numa
área em que não há estabilidade de emprego, todos descobrem rápido que se
quiserem manter o salário ou mesmo uma ascensão em determinada empresa, deverão
demonstrar talento e determinação. Ao contrário do que ocorre em empresas
estatais, bajulações não funcionam. Descobrem também que as oscilações do
mercado tanto podem fazer a empresa criativa lhes dispensar na semana seguinte
quanto admitir novos funcionários, ou até lhe dar um cargo e um salário melhor.
Diante
da imprevisibilidade do mercado, profissionais e empreendedores seguem a regra
de só contratarem quem podem demitir com facilidade. Autônomos muitas vezes
estabelecem parcerias ou prestam serviços a partir de acordos verbais ou mesmo
virtuais.
Num
ambiente paralelo às normas trabalhistas impostas pelo Estado, todos sabem que
se desejarem tirar férias, terão que se organizar e fazer suas reservas; e
assim o fazem. Não por acaso, estes profissionais não planejam suas vidas
visando aposentadorias. Eles planejam suas vidas para terem condições de se
tornarem produtivos para sempre, independentemente da idade.
O
resultado dessa flexibilidade é o dinamismo, com todos os envolvidos
adequando-se o tempo todo ao mercado, com cada indivíduo se aprimorando o tempo
todo, exercendo a liberdade de condicionar seu trabalho da maneira que lhe
convém, em função de cada momento. É difícil. Os amedrontados acabam procurando
abrigo nas sombras do estado, mas com toda certeza os talentosos e determinados
alcançam seus objetivos, sempre passo a passo, nunca por meio de “milagres”
típicos da política.
É
por causa dessa liberdade que a indústria criativa está sempre a frente dos
outros setores da economia, tanto em inovação quanto em qualidade de condições
de trabalho.
Comprovando
que a liberdade não é um desejo das “elites”, temos também o caso das
empregadas domésticas. Por décadas, a profissão foi mal remunerada por conta
dos problemas econômicos do Brasil que, não oferecendo alternativas de trabalho
à maior parte das mulheres pobres, praticamente lhes obrigava a se oferecer
para tal serviço. Com a estabilidade econômica construída nos últimos 20 anos,
naturalmente novas opções de emprego absorveram boa parte desta mão-de-obra,
diminuindo a oferta de empregadas domésticas.
Assim
como arquitetos, designers e artistas, cada empregada doméstica moldou sua
profissão em função do mercado, cientes dos momentos de escassez e de fartura
de trabalho. De empregadas domésticas passaram a serem diaristas. Com maior
liberdade para negociar seus valores, para escolher seus clientes e para ditar
suas condições de trabalho, passaram a cobrar mais caro. As melhores
tornaram-se profissionais disputadas.
Muitas
melhoraram o padrão de vida de suas famílias sem qualquer estabilidade
empregatícia. Então agora vem o governo, cheio de “boas intenções” e
“sabedoria”, impondo um código de normas a serem seguidas. O resultado será uma
grande queda na procura por essas profissionais, já que seus clientes temerão
serem enquadrados na lei que transforma a negociação voluntária em crime.
Imaginemos, então, o que aconteceria se o
mesmo Estado intervisse nas relações de trabalho da indústria criativa. O
resultado seria seu
engessamento
imediato, prejudicando toda a sociedade.
É
necessário que todos entendam que qualquer intervenção estatal nas relações de
trabalho representa nada além de cobiça sobre os rendimentos dos cidadãos, cujo
dinheiro é sempre usado, em sua maior parte, apenas para sustentar uma
parafernália burocrática e para viabilizar interesses políticos. É necessário
que todos entendam que não estamos mais no século XIX, imersos numa sociedade
miserável diante do surgimento da indústria, necessitando de um conjunto de
normas para se evitar a escravidão. O mundo hoje é outro, muito melhor e mais
dinâmico, com a maior parte da sociedade tendo condições de negociar seu tempo
e seu trabalho livremente. O operário preso a uma linha de montagem por causa
de seus “vínculos empregatícios”, tanto pode estar perdendo um emprego melhor
fora da fábrica onde trabalha quanto pode estar ocupando a vaga de alguém que
estaria disposto a trabalhar por menos. A sociedade precisa entender isso! A
sociedade precisa entender que Estado nenhum tem competência para ditar os
valores que cada pessoa deseja receber por seu trabalho. Cada indivíduo sabe
seu preço.
A
sociedade precisa entender as palavras de Ludwig von Mises: “O poder sindical é
essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar aos salários que estaria
disposto a aceitar”.
Quando
o Brasil chegará ao século XXI?
Instituto Liberal
Comentário do blog: em ago/1970 compramos uma empresa que tinha 120 funcionários, sendo 80 estáveis e 40 pelo FGTS.
Em maio/1972 fechamos a empresa por completa impossibilidade de administrá-la. Os 80 funcionários estáveis não produziam. Indenizamos de acordo com a lei e fechamos as portas.
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