Rafael Galdo
(*)
Apesar da crise, estado só cortou 7%
dos cargos comissionados, em vez dos 30% prometidos.
Ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, vai participar hoje de reunião no STF com Pezão e representantes de
bancos federais para discutir antecipação de ajuda da União.
O
rigoroso ajuste fiscal prometido pelo Estado do Rio passou longe da folha de
pessoal. Dados do próprio governo, que atravessa uma crise financeira, revelam
que o corte de cargos comissionados em até 30% ficou só na promessa. De
dezembro de 2015, quando os problemas de caixa se agravaram, até o fim do ano
passado, a tesoura só atingiu cerca de 7% desses cargos na administração
direta, que passaram de 5.597 para 5.203. Ao mesmo tempo, nos últimos dois
anos, as contratações temporárias em secretarias cresceram 241%. Hoje, o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai ao STF, onde acontecerá a reunião
de conciliação sobre a ajuda da União ao estado com o governador Pezão e
representantes de bancos federais.
Mesmo
com o pires na mão para tentar contornar a crise, o governo estadual não fez o
dever de casa. Uma das principais medidas de austeridade anunciadas, o corte de
30% dos cargos comissionados que incham a máquina pública, nem chegou perto da
meta. De dezembro de 2015, quando os problemas de caixa começaram a se tornar
mais graves, ao mesmo mês do ano passado, a redução de cargos comissionados na
administração direta foi de cerca de 7%. Em números absolutos, o total de
pessoas contratadas nessa modalidade passou de 5.597 para 5.203. E esse é
apenas um exemplo.
Entre
cargos em comissão diretos e indiretos, o número de funcionários manteve-se
praticamente estável, flutuando em torno de 8.500 pessoas. Com os servidores
estaduais da ativa e inativos, que desfrutam de estabilidade, as despesas com
pessoal se mantiveram altas. O total de funcionários estáveis chegou a ter um
ligeiro aumento, de dezembro de 2015 para o mesmo mês de 2016: 0,04%, passando
de 466.555 para 466.727. O corte nos gastos de secretarias também ficou bem abaixo
do esperado. Comparando as despesas liquidadas em dezembro de 2015 com as do
mesmo mês de 2016, é possível ver que muitas secretarias, inclusive, inflaram
seus custos.
As
propostas de cortes na folha ou no número de comissionados, por exemplo,
apareceram antes mesmo da posse de Luiz Fernando Pezão para o atual mandato. Em
dezembro de 2015, ele acenou com a possibilidade de cortar em 30% os cargos
comissionados. Depois, foi prometida, na primeira versão do pacote de ajuste
fiscal, uma redução de 30% nas gratificações pagas a esses funcionários. Em
outubro do ano passado, foram vedadas nomeações para cargos que estivessem
vagos. E, um mês depois, o governo anunciou, mais uma vez, diminuir o valor das
gratificações desses servidores com cargos de confiança ou extraquadros, na
ocasião, em 30%.
CONTRATOS TEMPORÁRIOS SUBIRAM 241%
Mas, de
acordo com o Caderno de Recursos Humanos do estado, esse grupo, que reunia
8.840 pessoas nas administrações direta e indireta em janeiro de 2015, aumentou
para 8.906 em dezembro de 2015. No ano passado, o número fechou em 8.493
servidores com esse tipo de contrato. Ou seja, percentualmente, a redução foi
de apenas de 3,9% ao longo desses dois anos.
O custo
dos comissionados também se manteve quase inalterado no período: caiu apenas
0,1%, de R$ 29,41 milhões em janeiro de 2015 para R$ 29,38 milhões em dezembro
de 2016. Se considerada apenas a administração indireta (fundações e
autarquias), o número de comissionados chegou a subir: terminou janeiro de 2015
com 3.212, alcançou 3.309 em dezembro do mesmo ano e encerrou 2016 com 3.290.
Para o
especialista em economia fluminense Bruno Sobral, da Uerj, a gênese do colapso
econômico do Rio não está num suposto excesso de servidores, como alguns
defendem. Para ele, tem mais a ver com fatores como endividamento do estado e a
conjuntura nacional. No entanto, observa, os cortes de comissionados e
gratificações ajudam no bojo de medidas para poupar.
— Quando
o governo apresenta esses pacotes, parece que tem uma fórmula de bolo para
resolver a questão do estado. Mas, ao analisar os dados, percebemos que, muitas
vezes, o governo não tem atacado a realidade. Os comissionados impactam,
inclusive, no Rioprevidência, porque não contribuem para o sistema. São, muitas
vezes, cargos políticos, cuja escolha obedece a critérios questionáveis —
afirma Sobral, lembrando que, no fim de dezembro, Pezão também vetou a redução
de 30% do próprio salário, assim como a redução nos vencimentos de secretários
e subsecretários, proposta por ele à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) no
pacote encaminhado em novembro do ano passado.
Na
análise do quadro de servidores do governo, a queda só foi mais significativa
se considerado o total deles com livre nomeação, que inclui funções de
confiança, requisições externas de outras esferas de poder e contratos
temporários. Nos últimos dois anos, a queda foi de 8,4%, de 21.212 em janeiro
de 2015 para 19.430 no fim do ano passado. Mesmo assim, na administração direta
(secretarias), o que se viu nessa comparação foi uma escalada do número de
servidores com contratos temporários: de 595 para 2.031 (241% a mais).
Apesar
de os números — apresentados pelo levantamento mensal da própria Secretaria
estadual de Planejamento e Gestão — mostrarem um ritmo lento nos cortes
prometidos desde o início do governo, o estado argumenta que a reestruturação
administrativa, iniciada em 2015, ainda está em curso. “Outras etapas estão
sendo estudadas, levando em conta a economicidade das medidas e a avaliação dos
impactos nos serviços prestados pelo estado”, afirma o governo.
Em nota,
o Palácio Guanabara defende que houve um “corte significativo nos salários dos
comissionados". Nos dois últimos anos, afirma, a folha de pagamento bruta
dos servidores da ativa do estado, incluindo os comissionados, passou de R$
22,9 bilhões, em 2015, para R$ 20,9 bilhões, em 2016 (queda de 8,7%).
No
entanto, considerando apenas o Poder Executivo — excluindo do cálculo a Alerj,
o Judiciário e o Ministério Público —, segundo consta na Transparência, em
consulta realizada na última quinta-feira, o Rio tinha liquidado R$ 17,11
bilhões em despesas com pessoal e encargos sociais em 2015. Ano passado,
comprometeu mais: R$ 18,08 bilhões.
Esta
semana, o governo deve divulgar o balanço final de suas contas relativas ao ano
passado. Mas os números da Transparência mostram que o total de gastos
liquidados do Executivo caiu, de R$ 58,73 bilhões para R$ 53,14 bilhões (9,5% a
menos). Houve uma queda drástica dos investimentos (cerca de 63%), que passaram
de R$ R$ 6,51 bilhões para R$ 2,38 bilhões.
O
problema é que, mesmo freando os gastos, muito do que o governo se comprometeu
a pagar ainda não foi quitado. Até a última quinta-feira, de acordo com a
Transparência estadual, dos R$ 53,14 bilhões autorizados, R$ 43,29 bilhões
tinham sido efetivamente pagos. Ou seja, o estado ainda tem R$ 9,85 bilhões
para honrar relativos a despesas de 2016. Desse total, com salários de dezembro
e 13º atrasados, aproximadamente R$ 3 bilhões eram despesas de pessoal e
encargos sociais, enquanto R$ 6,2 bilhões, referentes a outras despesas
correntes.
Apesar
de ainda não serem os números consolidados, Raul Velloso, consultor econômico e
ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, ressalta
que esses restos a pagar têm se tornado a corda no pescoço não só do Rio, mas
também de outros estados.
— Hoje,
esse é o grande drama. São gastos que não foram cortados, mas simplesmente
adiados — diz ele. — A situação do Rio é desesperadora. É importante ver como o
estado vai lidar com esses restos a pagar. O que está autorizado, como e quando
ele vai pagar?
GOVERNO CONTESTA DADOS
Conforme
as informações da Transparência, a diferença entre o liquidado e o pago até
dezembro do ano passado, só na Secretaria de Saúde, era de R$ 2 bilhões. Na de
Segurança, alcançava R$ 1,4 bilhão. E, na de Ciência e Tecnologia, que tem a
Uerj sob seu chapéu, chegava a R$ 839 milhões.
Os
gastos de muitas das secretarias, por sinal, não caíram como era de se esperar
em tempos de bancarrota. Antes da reestruturação realizada em janeiro deste ano,
pastas como a de Transportes, Desenvolvimento Econômico e Assistência Social e
Direitos Humanos, pelos dados da Transparência, tinham reduzidos suas despesas
liquidadas em mais de 50% no acumulado de 2015 e 2016. Mas, por esses mesmos
números, a de Governo e a de Planejamento e Gestão tinham aumentado, em 23% e
14%, respectivamente. Na de Esporte e Lazer, a queda foi de apenas 2,9%.
O
governo, no entanto, contesta os dados do site Transparência. Nas secretarias
de Governo e Planejamento, afirma o Palácio Guanabara, houve redução de 45% do
valor liquidado em 2016 em relação ao ano anterior. Na de Esporte, a diminuição
teria sido de 75%. Em nota, o estado alega que o corte de 30% nas secretarias
estabelecido no decreto 45.805/ 16 abrange as despesas operacionais
“discricionárias”, custeadas pelo Tesouro Estadual. A nota diz que o governo
reduziu seus valores liquidados em 41% de 2015 para 2016. “Para ter uma ideia,
o custeio discricionário era de R$ 3,4 bilhões em 2014. Em 2015, passou para R$
2,9 bilhões e, em 2016, foi para R$ 2,4 bilhões", afirma a nota.
O Globo
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: esta questão do empreguismo é
mais velha do que a República. Encostar a grande família (cabos eleitorais,
parentes, amantes e amigos) nas folhas de pagamento do governo começou com os
inúteis que vieram fugidos para cá com João VI. Pararam de onerar a folha
de pagamento de Portugal, e passaram a ser sustentados pelos trabalhadores
brasileiros.
Solução
? Tem sim. Basta analisar o que cabe ao
governo fazer em troca dos impostos, ou seja, que trabalho eles tem que prestar
a quem lhes paga as contas, e, assim como uma empresa privada, determinar
quantas pessoas são necessárias para bem desempenhar estas tarefas com produtividade
e eficiência. Sem mais estabilidade no emprego, que cria pessoas sem interesse ou disposição ao trabalho.
O Brasil tem (tinha, deve ter
aumentado) 11 milhões de pessoas nas folhas de pagamento do setor público,
sendo que a metade está sobrando.
Isto significa R$ 264 bi/ano de salários, sem
contar a despesa fixa que estes parasitas acarretam.
Doze (12) milhões de trabalhadores da iniciativa privada desempregados, pode.
Dispensar 5.5 milhões de inúteis do setor público, não
pode.
Precisa dizer mais ?
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