Sérgio Besserman
Vianna
• Corrupção continuará sendo a regra
do nosso capitalismo de Estado
A Nova
República morreu. À luz do que foi revelado de suas catacumbas, não existe mais
chance alguma de restauração de sua legitimidade. Se ela não for enterrada e
substituída, poderá sobreviver como zumbi, mas a política jamais terá
capacidade de enfrentar os desafios que amarram o desenvolvimento da sociedade
brasileira.
Essa é a
hipótese mais provável, lamentavelmente. Os donos do poder restaurarão, com
total falta de pudor, certa normalidade, e, com uma futura pequena melhoria da
economia, decorrente do dever de casa básico, um ajuste modesto das contas
fiscais, seguiremos nosso medíocre caminho: um gigante aprisionado na armadilha
da renda média. E a corrupção continuará sendo a regra do nosso capitalismo de
Estado e de nossa democracia de baixa qualidade.
O nó
górdio tende a não ser desatado porque os parlamentares não têm nenhum desejo
de mudar aquilo em que nem a Constituinte de 1988 mexeu: as regras do sistema
eleitoral. As regras com as quais eles mesmos se elegem e exercem o poder. Por
que mudar, então?
O
pântano é composto de três lamaçais principais:
1 — O
presidencialismo de cooptação. Nossos parlamentares têm todos os bônus, mas não
têm o ônus de sustentar o governo;
2 — A
eleição da Câmara de Deputados pelo sistema eleitoral do distritão (os
estados), que terminou por fazer da capacidade de arrecadar recursos o fator de
competitividade decisivo, quase único, nas eleições e no interior dos
“partidos”;
3 — O
fato de, pelas regras, o voto de cidadãos de estados pouco populosos valer
muitíssimo mais do que o dos cidadãos dos maiores estados, mesmo sendo a
Federação representada pela existência de um Senado em um Parlamento bicameral.
Assim, o
nó górdio possivelmente continuará atado, a Nova República de pé, embora morta,
e o país seguirá sua sina de sociedade profundamente injusta e desigual e
economia ineficiente e pouco competitiva no cenário mundial.
Sofrerá
mais a imensa maioria da população. Há outras três hipóteses:
1 — O
sistema político encontra meios e motivação para se autotransformar. Uma
Constituinte exclusiva da reforma política em que seus membros não possam se
candidatar a cargos eletivos por certo período, por exemplo;
2 — A
população volta às ruas, certamente com mais rancor do que em 2013, e, ou obtém
transformações ou joga fora a água do balde com muito risco de a criança no
banho ir junto, já que o caos é o método, nessas ocasiões;
3 —
Alguma forma de “tenentismo”, jurídico, militar ou inesperado se impõe frente
ao cadáver do sistema político desprovido de legitimidade, totalmente incapaz
de reagir.
Nesse
último caso, não responsabilizemos somente os futuros “tenentes”. A Velha
República e seus vícios, até 1929, foi a principal responsável pela reação ao
seu anacronismo e pelas graves consequências posteriores, incluindo a ditadura
do Estado Novo.
Sérgio Besserman
Vianna
Presidente
do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro
O Globo
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