Cristiano Romero
(*)
• A atual recessão foi provocada por
anos de excesso, diz Ilan
"Desta
vez, é diferente." Com esta frase, o presidente do Banco Central (BC),
Ilan Goldfajn, define a longa recessão que atinge o Brasil. É uma referência ao
famoso estudo dos economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart sobre a natureza
da crise mundial de 2007-2008, cujo epicentro foi a economia americana. O
paper, inicialmente lançado pelo NBER (National Bureau of Economic Research),
entidade de pesquisa que promove o debate de temas econômicos nos Estados
Unidos, virou best-seller em 2009 com o título: "Desta vez é diferente:
oito séculos de loucura financeira".
Em seu
trabalho, Rogoff e Reinhart mostram que há séculos as crises seguem
determinados padrões e que a tendência dos formuladores de política econômica é
acreditar que, desta vez, tudo será diferente. Isso faz parte do que os dois
economistas chamam de "síndrome do 'desta vez será diferente'". O
paper foi lançado pelo NBER em março de 2008, mesmo mês, portanto, da quebra do
banco americano Bear Stearns e a seis meses da falência de outro tradicional
banco de investimento dos EUA, o Lehman Brothers, episódio que marcou o aprofundamento
da crise iniciada em 2007 e a entrada dos mercados emergentes naquela confusão.
"Os
principais episódios de quebra são separados no tempo por anos (ou décadas),
criando entre formuladores de políticas e investidores a ilusão de que 'desta
vez é diferente'. Um exemplo recente da síndrome 'desta vez é diferente' é a
falsa crença de que a dívida interna é uma característica nova da paisagem
financeira moderna", dizem os autores na apresentação do trabalho
original. "Também confirmamos que as crises emanam frequentemente dos
centros financeiros, com transmissão por meio de choques de taxas de juros e
colapso de preços de commodities. Assim, a recente crise financeira 'subprime'
dos EUA não é única. Nossos dados também documentam outras crises que
frequentemente acompanham calotes [ou quebradeiras]: inflação, quebras por
causa da taxa de câmbio, crises bancárias e depreciações cambiais."
Os
autores deram grande contribuição ao mostrar que há dois tipos de recessão: a
normal, provocada justamente por mudanças, por exemplo, na taxa de juros
americana ou por variações significativas nos preços das commodities, e
recessões deflagradas por excessos que, no fim, forçam uma desalavancagem
(redução do endividamento) de governos, empresas privadas e famílias. São processos
que, em média, consomem sete anos.
"Rogoff
acertou em cheio. Dão menos crédito a ele do que deveriam", comentou Ilan
com esta coluna. "A nossa recessão não é uma recessão do passado. Não é
uma recessão que tenha um choque e volte. É uma recessão provocada por anos de
excesso, e o excesso tem a ver com o setor público, que tem de desalavancar. Os
Estados, idem."
O Brasil
estava razoavelmente bem quando o Lehman Brothers quebrou, em meados de
setembro de 2008. Naquele ano, depois de quase dez anos de certa disciplina
fiscal nas gestões Fernando Henrique Cardoso e Lula, o país obteve o grau de
investimento - o selo de bom pagador - das agências de classificação de risco,
estava crescendo de forma acelerada já há três anos, tinha uma boa margem de
manobra fiscal e tinha deixado para trás a vulnerabilidade das contas externas.
A crise afetou o país porque todos os mercados, sem distinção, foram atingidos.
O
problema maior ocorreu na área cambial porque grandes empresas exportadoras se
aventuraram com ativos tóxicos, fazendo apostas sob a crença de que a taxa de
câmbio só caminharia numa direção: a da apreciação. Ignoraram a crise externa e
seus efeitos sobre a aversão dos investidores a risco. O real, bem como todas
as moedas emergentes, sofreram forte desvalorização no pós-Lehman e isso criou
enormes dificuldades para quem tinha ativo tóxico.
No
primeiro momento da crise, o governo brasileiro agiu corretamente ao adotar
políticas anticíclicas - porque havia margem para isso - tanto na área fiscal
quanto na monetária. Isso nos ajudou a espantar rapidamente a recessão técnica
de 2009. A economia saiu da crise e os estímulos deveriam ter sido revistos,
mas o governo optou pelo projeto de poder. Interessado em eleger Dilma Rousseff
a qualquer preço, Lula determinou que a gastança continuasse, levando a
economia a crescer 7,5% em 2010, mas já com inflação crescente. Em 2011,
eleita, Dilma primeiro ensaiou fazer um ajuste, mas, logo, tratou de abortá-lo
e abraçar a Nova Matriz Econômica, experimento que arruinou as finanças
públicas, jogando a nação na mais profunda e longa recessão de sua história.
"O
setor privado e as famílias também praticaram excessos. Todos achavam que
aqueles dez anos, em que tudo subia, seriam para sempre. É um processo [de
correção] em que se diminuem os excessos do passado para voltar a crescer. Isso
leva mais tempo", disse Ilan, mostrando por que, desta vez, a saída da
crise está sendo mais demorada e mais custosa.
Um
exemplo de que as empresas passam por processo de desalavancagem está no
balanço de pagamentos. Em 2016, a rolagem de dívidas das empresas ficou em 63%,
o menor índice desde 2004 e a primeira vez, desde 2013, que caiu abaixo de
100%. "O balanço de pagamentos mostra que está havendo muito pagamento de
dívida", observou Ilan. Isto significa que as empresas estão optando por
pagar seus débitos no exterior, o que as deixa menos expostas a variações na
taxa de câmbio e, também, mais aptas a voltar a investir.
Além da
recessão, há os fatores não econômicos, como as investigações da Operação
Lava-Jato, da Polícia Federal, que interromperam uma série de projetos de
investimento de grandes empresas, afetando a atividade econômica. "Agora,
quando o país sair disso, sairá mais limpo", assinalou o presidente do
Banco Central.
"Em
recessões como esta, a incerteza é maior quanto ao timing da recuperação. A
decepção no terceiro trimestre foi isso. A confiança tinha voltado, os estoques
tinham caído, mas o processo ainda não tinha terminado, talvez, porque o
desemprego ainda estivesse aumentando. Houve inflação de 11% [em 2015] mais
perda de renda... Agora, isso está revertendo", explicou Ilan. "A
inflação está caindo e a massa salarial ainda é afetada pelo desemprego.
Confiança caiu um pouco, mas está voltando."
Valor Econômico
(*) Comentário do editor do blog-MBF: o
Presidente do Banco Central brasileiro mente,
e mente de má fé. Obrigado a “vender”
confiança aos empresários otários, ele mente e sabe que está mentindo, pois o
principal problema nosso, a causa da nossa desgraça, é o custo da máquina
pública (empreguismo que leva a corrupção, e seus custos), e este mais uma vez não
está sendo enfrentado.
Os governantes de plantão estão
sempre “vendendo otimismo” e gastando
o que não tem (estamos chegando a uma dívida de 80% do PIB); quem acreditar
neles, num futuro não tão distante, vai se dar mal.
Se a inflação caiu foi porque desta
vez a maioria das empresas não está aumentando preços porque está fechando as
portas. Até os bancos credores estão preocupados.
Não se iludam, o problema continua.
Só quem tem acesso a crédito fácil e de custo civilizado – empresas estrangeiras
-, consegue se dar bem nessas crises cíclicas, considerando que os outros óbvios
requisitos estão atendidos (eficiência e produtividade).
Nenhum comentário:
Postar um comentário