MARÍA R. SAHUQUILLO
(*)
Milhares de cidadãos pedem punições
a membros do Governo por causa da polêmica lei que despenalizava esse crime em
alguns casos
O recuo
do Governo não apaziguou a Romênia.
Dezenas de milhares de cidadãos saíram às ruas neste domingo, pelo sexto dia
consecutivo, para clamar contra a corrupção e contra uma classe política que
não lhes representa. Agora, eles exigem a apuração de responsabilidades, mesmo
depois da retirada do polêmico decreto que pretendia despenalizar
alguns casos de corrupção ativa, corrupção passiva e conflito de interesses,
desde que o prejuízo decorrente não superasse o equivalente a 146.870 reais. O
Governo do Partido Social-Democrata (PSD) já disse que não renunciará.
“Este
Governo quis legalizar o roubo e a corrupção. É claramente uma amostra de qual
pode ser seu caminho durante estes quatro anos”, exclama Alexandra Nor, de 29
anos. A seu redor na praça Victoria, em Bucareste, dezenas de milhares de
pessoas – eram 500.000 no final da tarde, segundo a imprensa local – assobiam e
gritam lemas contra o Governo do PSD. Nor sai para protestar com seus amigos
desde terça-feira à noite, quando o Governo aprovou, de maneira quase
surpreendente, a polêmica lei que despertou as maiores manifestações da
história romena desde a deposição da ditadura de Nicolae Ceaucescu, em 1989.
"Queremos que saibam que, haja o que houver, estaremos de olho neles, que
estamos dispostos a sair às ruas, que não nos deixaremos enganar”, acrescenta
Nor.
A
capitulação do Governo, que, após uma reunião de urgência, publicou no domingo
a revogação do decreto, não foi suficiente. Agora a população, indignada, quer
gestos. O primeiro-ministro, Sorin Grindeanu, já descartou deixar o poder. “Não
renunciarei, ganhamos as eleições com milhões de votos”, disse à rede de
televisão particular Antena3. Fontes do partido social-democrata, no poder
desde a vitória nas eleições de dezembro com 45% dos votos, informam que o bode
expiatório pode ser o ministro da Justiça, Florin Iordache. Alguém que, segundo
disse o próprio primeiro-ministro ao anunciar a retirada do decreto, “não soube
comunicar bem” o texto. O presidente do PSD, Liviu Dragnea, admitiu à televisão
local que o futuro do titular da pasta da Justiça está sendo discutido.
Dragnea,
que também teria se beneficiado do decreto agora anulado e que não pôde ocupar
a cadeira de primeiro-ministro justamente por ser acusado de corrupção,
criticou os protestos desde o começo, por ver a oposição como a responsável por
eles. "Se as manifestações continuarem após a revogação do decreto, isso
deixará claro que se trata de um plano urdido após as eleições, para derrubar o
Governo", afirmou no domingo. Frente à sede do Executivo, em Bucareste,
por volta de mil pessoas se manifestaram para apoiar o Gabinete de Grindeanu.
Na praça
Victoria, o ponto majoritário dos protestos dos últimos dias e onde no final da
tarde de domingo as pessoas continuavam a chegar, Ciprian Gal clama contra os
dirigentes romenos. “Com o que pretenderam fazer perderam legitimidade. Como
vamos confiar agora em um Governo que faz esse tipo de manobra?”, se pergunta.
O especialista em ciências ambientais, de 30 anos, lamenta pelo grave problema
de corrupção na Romênia. Um problema, diz, que o Executivo só parece alimentar.
A promotoria atualmente investiga 2.000 casos de abusos de poder de políticos
no país.
"Como vamos confiar nesse
Governo"
“Queremos
um Governo que nos defenda dos crimes, que faça o possível para lutar contra a
corrupção, não que a ampare”, diz Alex, de 30 anos (à direita, com o cartaz).
Ao seu lado, sua namorada Alexandra e seu amigo Ciprian. Explicam que não
protestam somente contra o Governo social-democrata, mas contra toda a classe
dirigente que construiu e perpetuou um sistema “corrupto desde a base”.
"O que tentaram fazer é
intolerável"
Alina
Nagu comenta que é a primeira vez que participa de uma manifestação. No
domingo, decidiu ir às ruas em Bucareste porque quer que a situação avance na
Romênia. “O que tentaram fazer é intolerável, as coisas precisam mudar, uma
luta de verdade contra a corrupção”, diz. Foi acompanhada ao protesto na praça
Victoria pelos brasileiros Juliana e Franco, com sua filha Luísa. “Não somos
daqui, mas vivemos aqui, nossa filha estuda em Bucareste, precisamos lutar
contra esse problema”, diz Juliana.
"Todos presenciamos a
corrupção"
No grupo
formado por Andrea, Adrian, Mihai e Alin comentam que podem escrever um livro
com os casos de corrupção que presenciaram. “Por isso é importante que os
políticos vejam que estamos unidos, que saímos às ruas e não iremos nos deixar
enganar”, diz Adrian, que se pergunta que outras “surpresas” o Governo prepara.
El País
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: no Brasil ainda não acordamos
para isto: manifestações contra a corrupção.
Nos manifestamos contra políticos corruptos,
mas cada qual contra os bandidos do outro partido, ou, das outras organizações
criminosas, o que vem dar no mesmo.
Os partidos de esquerda defendem os
seus corruptos com unhas e dentes, mesmo os que já estão presos e condenados. Os
da direita, se não defendem, também não se manifestam contra eles, a não ser
vagamente.
Desta forma, continuaremos com a
corrupção correndo solta nos Três podres Poderes, e o dinheiro que eles “administram”,
some, e nem os fiscais que são pagos para descobrir para onde ele foi, sabem.
Quer dizer, um político que ganha R$
30.000,00 (salário) + R$ 45.000,00 (penduricalhos) por mês, vive vida de milionário, e nem um fiscal vê.
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