LAUREN WEBER
(*)
Ninguém
na indústria de aviação se compara ao desempenho da Virgin América Inc. num
indicador de eficiência chamado receita por empregado. Isso porque na companhia
aérea a entrega de bagagens, a manutenção pesada, as reservas, o serviço de
alimentação a bordo e muitas outras tarefas não são feitas por funcionários.
Ela usa prestadores de serviços.
“Vamos
terceirizar todos os trabalhos possíveis que não sejam voltados para o
cliente”, disse David Cush, diretor-presidente da companhia aérea, aos
investidores em março do ano passado. Em abril, ele ajudou a vender a Virgin
America à Alaska Air Group Inc.,por US$ 2,6 bilhões, mais
que o dobro de seu valor no fim de 2014. Ele saiu quando a aquisição foi
concluída, em dezembro.
Nunca
antes as empresas americanas tentaram tão arduamente empregar tão poucas
pessoas. É bem provável que a onda de terceirização que transferiu os trabalhos
de confecção de roupas para a China e as operações de atendimento a clientes
para a Índia também ocorra dentro de empresas em todos os EUA e em quase todos
os setores.
Os
homens e mulheres que descarregam contêineres de carga em depósitos da Wal-Mart
Stores Inc. são
fornecidos pela divisão de logística da Schneider National Inc., que, por sua
vez, terceiriza trabalhadores de agências de trabalho temporário. No ano
passado, a Pfizer Inc. usou
prestadores de serviços para realizar a maior parte de seus testes clínicos de
medicamentos.
O modelo
do prestador de serviços é tão prevalente que a Alphabet
Inc., controladora do
Google, considerada como o melhor lugar para se trabalhar nos EUA em sete dos
últimos dez anos segundo um ranking da revista “Fortune”, tem aproximadamente o
mesmo número de trabalhadores terceirizados que o de funcionários em tempo
integral, de acordo com pessoas a par do assunto.
Cerca de
70 mil prestadores de serviços, fornecedores e funcionários temporários testam
os carros autônomos do Google, revisam documentos legais, tornam seus produtos
mais fáceis e melhores de usar, gerenciam projetos de marketing e de dados e
executam muitas outras tarefas.
A
mudança está alterando radicalmente o que significa ser uma empresa e um
trabalhador nos EUA. Mais flexibilidade para as empresas reduzirem sua base de
funcionários, folha de pagamentos e benefícios significa menos segurança
laboral para os trabalhadores. Uma ascensão de carreira que leve o empregado do
almoxarifado à mesa da presidência ficou mais difícil agora que os
terceirizados não fazem parte de uma força de trabalho na qual empregados
talentosos são promovidos.
Para as
empresas, a maior vantagem de substituir funcionários por prestadores de
serviços é ter mais controle sobre os custos. Empregados não registrados ajudam
as empresas a manter suas equipes de tempo integral flexíveis e enxutas o
suficiente para se adaptarem a novas ideias ou mudanças na demanda de forma
rápida.
Para os
trabalhadores, as mudanças muitas vezes levam a uma redução salarial. Alguns
economistas dizem que a força de trabalho paralela criada pelo aumento da
contratação de prestadores de serviços está ajudando a alimentar a desigualdade
de renda entre pessoas que desempenham as mesmas funções.
Ninguém
sabe quantos americanos trabalham como prestadores de serviços, porque eles não
se encaixam perfeitamente nas categorias de emprego monitoradas por agências
governamentais. Estimativas aproximadas de economistas variam de 3% a 14% da
força de trabalho do país, ou até 20 milhões de pessoas.
As
empresas revelam poucos detalhes sobre seus trabalhadores externos, mas estão
aumentando rapidamente o número e os tipos de empregos vistos como ideais para
a contratação de prestadores de serviço. Em grandes empresas, entre 20% a 50%
da força de trabalho total muitas vezes é terceirizada, de acordo com
executivos da área de recursos humanos. Bank
of America Corp., Verizon
Communications Inc., Procter
& Gamble Co. e FedEx Corp. têm milhares de
contratados externos cada uma.
No setor
de petróleo, gás e farmacêutico, a proporção de prestadores de serviços às
vezes supera a de funcionários contratados em pelo menos 2 por 1, diz Arun
Srinivasan, diretor de estratégia e operações de clientes da SAP Fieldglass,
uma divisão da gigante alemã de software SAP
SE, que ajuda
clientes a gerenciar a força de trabalho.
Serviços
de limpeza e cafeteria desapareceram da maioria das folhas de pagamento das
empresas há muito tempo. Uma mudança semelhante está em andamento para empregos
com salários mais altos, como de pesquisa científica, recrutadores e gerentes
de operações.
“Eu
ainda não conheci um presidente de empresa que não se surpreenda com o número
de pessoas que tocam seus produtos e não são seus próprios funcionários”, diz
Carl Camden, presidente da agência de recrutamento Kelly
Services Inc. As
áreas de terceirização e consultoria geraram 13% da receita da Kelly nos
primeiros nove meses de 2016.
No
futuro, algumas grandes empresas poderiam podar toda sua força de trabalho,
mantendo apenas os funcionários mais essenciais. A empresa de consultoria Accenture PLC previu no ano passado que
uma das 2 mil maiores empresas do mundo não terá “funcionários em tempo
integral fora da equipe executiva” dentro de dez anos.
A
Accenture é um dos maiores fornecedores de mão de obra terceirizada do mundo.
Ela e muitas rivais estão tentando convencer líderes empresariais que a parte
central dos negócios da empresa é menor do que eles pensam.
“Temos
demonstrado que podemos fazer boa parte dos negócios [dessas empresas] melhor
do que elas próprias conseguiriam”, diz Mike Salvino, que dirigiu o negócio de
terceirização da Accenture por sete anos até 2016.
Steven
Barker, 36 anos, diz que as empresas muitas vezes acenam com a possibilidade de
emprego em tempo integral, mas raramente vão em frente.
Ele
trabalhou como prestador de serviços naAmazon.com Inc., onde era comum nas
sessões de orientação que alguém perguntasse se o trabalho poderia se tornar
permanente. Ele diz que a resposta geralmente era: “Vamos ver. Tudo é
possível!”
A Amazon
não quis comentar.
Poucas
empresas, consultores ou economistas esperam que a tendência de terceirização
se reverta. A terceirização de tarefas não essenciais permite que a companhia
dedique mais tempo e energia às coisas que pode fazer melhor. Quando uma
empresa externa é responsável pela força de trabalho, ela assume a rotina
diária de divisão de tarefas, contratações e demissões. Os trabalhadores são
rapidamente substituídos, se necessário, e a empresa se preocupa apenas com o
produto final.
Steven
Berkenfeld, executivo de banco de investimento que passou a vida avaliando
estratégias corporativas, diz que empresas de todos os tipos e tamanhos estão
cada vez mais pensando assim: “Posso automatizar? Se não, posso terceirizar? Se
não, posso passar [a tarefa] a um prestador de serviços ou freelance?”
A
contratação de um empregado é o último recurso, acrescenta Berkenfeld, e “bem
poucos empregos conseguem superar essa rota de obstáculos”.
Visitantes
da SAP nos EUA provavelmente não têm ideia de que seus cerca de 30
recepcionistas trabalham para a prestadora de serviços Eurest Services, que é
parte do Compass Group PLC. A mudança foi feita em
2014 depois que executivos da SAP concluíram, durante uma revisão de
oportunidades potenciais de terceirização, que alguns gerentes pagavam aos
recepcionistas salários acima do mercado.
A SAP
transferiu a contratação, o treinamento e a supervisão de recepcionistas a uma
empresa externa. Os funcionários foram informados de que poderiam deixar a SAP
ou manter seus empregos através da Eurest, que paga a recepcionistas salários
em linha com o mercado em geral.
A SAP
afirma que a medida reduziu o tempo gasto no gerenciamento de pessoal.
“Internamente, quando as habilidades de um funcionário não estão à altura, há
um processo prolongado de gestão de desempenho”, diz Jewell Parkinson, chefe de
recursos humanos da divisão americana da SAP. “Trabalhar com um fornecedor é mais
eficiente.”
Os
funcionários terceirizados que a Alphabet contrata para o Google vêm de
agências de recrutamento como a Zenith Talent, Filter LLC e a suíça Adecco
Group AG, que
sozinha fatura cerca de US$ 300 milhões ao ano com os trabalhadores externos e
temporários que envia para a empresa, de acordo com um executivo da Adecco. O
Google não comentou como define quais vagas são destinadas para terceirizados e
quais para contratados.
A
consultoria americana da área de recursos humanos Staffing Industry Analysts
estima que as empresas gastam quase US$ 1 trilhão por ano em todo o mundo no
que chamam de “soluções para a força de trabalho”, ou serviços externos, para
contratar e gerenciar trabalhadores terceirizados.
The
Wall Street Journal
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: há muitos anos critico a
interferência sindical na administração da empresa, no que tange a seus
recursos humanos. Nos EUA, quem decide a folha de pagamento de uma empresa é o
sindicato, não deixando margem de manobra para a própria.
O resultado disto foi o êxodo das
empresas para países onde a mão de obra é abundante e barata e por último, a
terceirização do trabalho para empresas de mão de obra temporária, onde
trabalha-se até sem registro.
Esta miopia sindical está
prejudicando o próprio trabalhador, e por tabela a economia.
Em Capitalismo Social, sugiro:
1. A livre negociação de salários
entre as empresas e o sindicato regional
da categoria;
2. 50% do lucro da empresa para o
capital e 50% para os seus trabalhadores;
3. A não obrigatoriedade de pagar o
salário para empregado não registrado, não tendo o mesmo direito à Justiça gratuita;
4. Prisão para o empregador que
tiver trabalhando em seus quadros pessoas sem registro.
http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2016/02/612-legislacao-trabalhista-e-sindicatos.html
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