CARLOS E. CUÉ e AFONSO
BENITES
(*)
Primeiro mandatário a visitar Temer
em Brasília, argentino quer acelerar o acordo Mercosul-UE
O
presidente da Argentina, Mauricio Macri,
confirma com uma visita de Estado a Brasília sua aliança estratégica com Michel Temer. O
mandatário argentino deixou claro desde o primeiro momento que estava disposto
a fazer todo o possível para consolidar Temer, com quem compartilha um desenho
de política econômica similar. Seu Governo foi o primeiro a reconhecer o
brasileiro em agosto, quando se tornou presidente depois do polêmico impeachment
de Dilma Rousseff. Em poucas horas já tinha emitido um comunicado,
adiantando-se a todos. Temer viajou a Buenos Aires em outubro de 2016 e Macri
agora retribui a visita reforçando um vínculo que consolida a virada ideológica
para a centro-direita na América do Sul. Macri e Temer, dois parceiros cada vez
mais próximos, têm uma intensa agenda econômica para tratar e um grande
interesse em unir-se agora que a guinada protecionista de Donald Trump intensifica
ainda mais o interesse de ambos pelo Mercosul.
A
previsão é que Macri chegue ao Brasil pouco antes das 11h desta terça-feira. Na
sequência, será recebido por Temer e seus ministros no Palácio do Planalto e,
ao fim do encontro, farão uma declaração conjunta à imprensa. Por volta das
13h, a comitiva argentina será recebida em um almoço no Itamaraty. Durante a
tarde, a visita de Estado prossegue com visitas aos presidentes do Senado,
Eunício Oliveira, Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Supremo Tribunal
Federal, Cármen Lúcia. O chefe de Estado argentino deixa o Brasil no mesmo dia.
O
Governo Michel Temer enxerga a visita de Maurício Macri a Brasília como uma
retribuição à primeira viagem internacional que o presidente brasileiro fez, em
outubro, depois de empossado no cargo. O encontro é, também, uma possibilidade
de alinhar as discussões referentes ao Mercosul e entende-se que o momento é
propício devido à convergência de pensamentos entre os dois chefes do
Executivo. No primeiro semestre deste ano a Argentina presidirá o bloco
econômico e, no segundo, o Brasil.
Macri,
por sua vez, está especialmente interessado em impulsionar, junto com Temer, as
negociações de um acordo UE-Mercosul que vem sendo adiado há 15 anos. O
argentino fará uma viagem à Espanha no dia 21 com a mesma intenção de procurar
investimentos na Europa agora que os EUA parecem fechar-se em si mesmos. Para
conseguir esse acordo é imprescindível o apoio do Brasil, o grande gigante
dentro do Mercosul.
Ambos os
presidentes já mostraram sua sintonia na estratégia para suspender a Venezuela de
Nicolás Maduro da organização, presidida pela Argentina durante o primeiro
semestre de 2016 e, depois, pelo Brasil.
O
mandatário argentino decidiu apoiar Temer desde o primeiro momento não só por
afinidade ideológica, mas também pelo interesse econômico envolvido. O Brasil é
essencial para a Argentina, independentemente de quem está no Governo. A
instabilidade política no vizinho é uma má notícia para o país austral. Por
isso a Casa Rosada apoiou Dilma enquanto era presidenta, apesar da evidente
distância política, e não moveu um dedo para fazê-la cair. E quando Temer
subiu, Macri foi o primeiro a respaldá-lo e agora o primeiro mandatário
importante a comparecer a Brasília para levar apoio a seu vizinho.
“Quando
o Brasil espirra, a Argentina tem uma pneumonia”, é uma frase utilizada por
todos os analistas do país austral e até pelo próprio Macri. E foi exatamente o
que aconteceu nos últimos anos. A Argentina está sofrendo com a crise
brasileira, sobretudo sua indústria e, particularmente, o setor automobilístico,
dependente em boa parte das exportações para o vizinho, que com seus 200
milhões de habitantes é cinco vezes maior que o mercado argentino. As
exportações para o Brasil despencaram nos últimos anos. O Brasil é o principal
destino das exportações argentinas e o principal fornecedor de produtos para o
país vizinho. A Argentina é o segundo destino das exportações brasileiras de
produtos manufaturados, depois da China, e o terceiro maior parceiro comercial
do Brasil.
Cada vez
que uma fábrica em Córdoba, a capital do automóvel, anuncia suspensões de
funcionários, culpa-se a economia brasileira. Neste momento os analistas
afirmam que começa a surgir uma tímida recuperação no mercado brasileiro e isso
gera esperança em todos os exportadores da Argentina. Os números mostram essa
crise. O Brasil teve um superávit comercial com a Argentina de 4,33 bilhões de
dólares em 2016 e 2,51 bilhões em 2015, provocado sobretudo pela desaceleração
econômica do vizinho do norte. A retração desse mercado explica pelo menos um
ponto de queda do PIB argentino.
A
aliança se faz ainda mais necessária no novo mundo de Trump. Macri tinha
apostado claramente em Hillary Clinton e tanto ele como Temer defendiam uma
maior abertura de seus países ao livre comércio. Macri se aproximou muito dos
EUA de Barack Obama e
até conseguiu que visitasse a Argentina. Agora a guinada protecionista de Trump
desconcertou os dois presidentes, que apostam no reforço do comércio dentro do
Mercosul e com outras zonas do mundo.
No
entanto, ainda hoje o Brasil e a Argentina são dois dos países mais
protecionistas da América Latina, e mesmo dentro do Mercosul há problemas.
Temer pede maior abertura da Argentina em autopeças para permitir a entrada de
empresas brasileiras, mas Macri não quer ceder por causa do risco de uma maior
destruição de empregos em um setor sensível e muito abalado. O tema gera
controvérsia e será deixado de lado para não complicar a visita. Macri ficará
só um dia em Brasília, mas com todas as honras de uma visita de Estado, que
incluirá reuniões com os mais altos representantes da Câmara dos Deputados, do
Senado e do Supremo Tribunal.
Venezuela
No
encontro, Temer e Macri também deverão discutir a questão da Venezuela, que está
suspensa do grupo por não cumprir cláusulas democráticas nem por incentivar o
livre comércio de mercadorias entre os países do bloco. “O entendimento entre
Brasil e Argentina abrange praticamente tudo, tanto no plano econômico como no
plano político”, disse o embaixador Paulo Estivallet de Mesquita,
subsecretário-geral da América Latina e Caribe do Ministério das Relações
Exteriores brasileiro.
El País
(*) Comentário do
editor do blog-MBF: ALALC, depois ALADI
e depois Mercosul. Em 1971 participei de reunião da ALALC em Buenos Aires. Muita
conversa, muita gente vivendo bem, às custas do contribuinte, e pouquíssimos
resultados.
Cada país tem seus
próprios interesses e nuances. Não é fácil conciliar isto tudo de forma
abrangente.
Globalização foi bom,
para alguns, como os tigres asiáticos, enquanto durou. Para outros,
significaram grandes e irrecuperáveis prejuízos.
Ganhar mesmo, quem
ganhou foi o sistema financeiro internacional. Só em financiamentos concedidos à
China, foram trilhões de dólares. Como ela vai pagar, agora que Trump
provavelmente interromperá a corrente globalizante, é uma questão que se verá
nos próximos anos.
A vantagem da China,
é que ela se endividou para fazer investimentos, enquanto o Brasil se endivida para
pagar gastos correntes, na sua maioria oriundos do empreguismo tresloucado e da
corrupção daí decorrente.
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