Leonardo Coutinho
Veja.com
Documento
do Itamaraty mostra que a ex-presidente triplicou o valor que o Brasil paga
pela energia do Paraguai apenas para colocar a Venezuela no Mercosul
Quando
recebeu a primeira visita do presidente venezuelano Hugo Chávez, em junho de
2011, a recém-empossada Dilma Rousseff fez uma revelação chocante. Logo no
primeiro minuto da conversa, a presidente do Brasil fez um relato de como o seu
antecessor Luiz Inácio Lula da Silva e ela própria estavam trabalhando para
colocar a Venezuela dentro do bloco do Mercosul.
VEJA teve acesso a um telegrama diplomático enviado de Brasília para a Embaixada brasileira em Caracas no qual há uma transcrição do diálogo entre Dilma e Chávez registrado no dia 6 de junho de 2011. O documento foi classificado como “secreto” e só poderia ser disponibilizado ao público em 2026.
VEJA teve acesso a um telegrama diplomático enviado de Brasília para a Embaixada brasileira em Caracas no qual há uma transcrição do diálogo entre Dilma e Chávez registrado no dia 6 de junho de 2011. O documento foi classificado como “secreto” e só poderia ser disponibilizado ao público em 2026.
Segundo
o documento, cuja autenticidade foi checada por VEJA, Dilma afirma que enquanto
Lula atuava na diplomacia paralela, o governo tomava medidas concretas para
convencer o Congresso paraguaio a aprovar o ingresso da Venezuela no bloco (veja
trechos abaixo). Dilma chega a dizer que um decreto legislativo aprovado pelo
Senado brasileiro três semanas antes do diálogo fazia parte da estratégia de
pressão sobre os paraguaios.
Trecho
de diálogo entre a presidente Dilma Rousseff e Hugo Chávez, em documento do
Itamaraty enviado para Embaixada do Brasil, em Caracas (ARTE VEJA/Por Chávez,
Dilma tentou "comprar" Congresso do Paraguai)
Em maio
de 2011, o Senado alterou o indicador para o cálculo do pagamento pela energia
que o Paraguai vende para o Brasil, triplicando o valor. Foi o que Dilma chamou
de “troca de notas”. A relatora do projeto foi a senadora Gleisi Hoffmann
(PT-PR) que classificou como “justa” e estratégica a medida que fez subir de
120 milhões de dólares para 360 milhões de dólares o custo da aquisição do
excedente paraguaio de energia.
O
presente de Dilma aos paraguaios teve um impacto direto no Tesouro, que assumiu
a diferença do valor da fatura. Mas não demorou para a conta chegar na luz dos
brasileiros. Três anos depois, os cidadãos já pagavam 29% a mais pela energia.
Mas a
tentativa de comprar o Congresso Paraguaio com a enxurrada de dólares por meio
de Itaipu fracassou. Os parlamentares barraram a entrada dos chavistas no Mercosul.
E Dilma e Chávez não deixaram de operar nas sombras para manipular o bloco.
Em seu
livro de memórias, o ex-presidente José Mujica, do Uruguai, revelou como Dilma
operou diretamente para manipular o Mercosul em favor da Venezuela. Em 22 de
junho de 2012, o Congresso do Paraguai decidiu pelo impeachment do presidente
Fernando Lugo. Dilma e a então presidente argentina Cristina Kirchner pediram a
suspensão dos paraguaios sob o argumento de que o que havia acontecido era uma
“ruptura democrática”, apesar de ter ocorrido em conformidade com as leis
paraguaias. Mujica era contra.
A então
presidente Dilma Rousseff mandou um avião da FAB a Montevidéu, onde um assessor
de Mujica embarcou para Brasília. Ao emissário, a presidente apresentou “provas
do golpe” no Paraguai: documentos, fotografias e gravações produzidas pelos
serviços secretos da Venezuela e de Cuba. A encenação foi suficiente para que
Mujica também votasse pela suspensão do Paraguai.
Em 2013,
já com a Venezuela no Mercosul, Dilma descerrou a placa de inauguração da obra
que foi prometida cinco anos antes pelo seu antecessor, Luiz Inácio Lula da
Silva, que, além de ter sido o articulador da operação que triplicou o preço da
energia, prometeu aos paraguaios uma linha de transmissão conectando a capital
Assunção a Itaipu. A “obra-presente” de Lula ficou pronta dentro do prazo e
colocou o Paraguai no mapa da competitividade industrial.
A
presidente Dilma Rousseff e o paraguaio Horácio Cartes em inauguração do linhão
patrocinado pelo Brasil. A obra aumentou a oferta de energia ao Paraguai
(Roberto Stuckert Filho/PR)
Com um
custo de energia até 70% mais baixo que no Brasil, o país vizinho passou a
atrair dezenas de empresas. Algumas delas deixaram de se instalar ou ampliar
suas operações no Brasil, para usufruir os benefícios do Paraguai.
O
presente brasileiro para os paraguaios sugará muito mais que energia de Itaipu.
Nos últimos dois anos, trinta empresas brasileiras transferiram suas operações
ou abriram filiais no Paraguai, atraídas pelos impostos baixos, mas, sobretudo,
pela energia barata. No Paraguai, o megawatt hora custa menos de um terço que
no Brasil.
O maior
empecilho para que mais empresas se instalassem por lá era a pouca oferta de
energia. Agora, com a ajuda dos governo petistas, isso não é mais problema.
Desde então o país tem infraestrutura necessária para os novos empreendimentos.
“A linha de 500 quilovolts é um feito tão impactante para nós quanto foi a
construção de Itaipu”, definiu, na ocasião, o presidente paraguaio Horácio
Cartes.
No mês
passado, já com o Brasil sob o governo de Michel Temer, Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai aprovaram uma medida que obriga a Venezuela a se adequar às
normas do Mercosul e regularizar o seu ingresso no bloco, sob pena de
suspensão. O prazo final para os venezuelanos cumpram as exigências é 31 de
dezembro. Como ingressou por meio de uma operação irregular, a Venezuela
não cumpriu todos os passos jurídicos previstos para fazer parte do Mercosul.
DefesaNet
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