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Com a
classe política desacreditada por escândalos de corrupção, novas lideranças
surgem no Brasil. Saiba quem são esses atores, que emergem dos protestos desde
de 2013 e disputam agora a primeira eleição pós-Lava Jato.
De um
lado, ativistas e integrantes de minorias políticas, como LGBT, negros e
mulheres. Do outro, evangélicos e liberais. Essas são algumas das novas forças
políticas que emergem ou se intensificam a partir das manifestações de junho de
2013, e que ganham ainda mais impulso com a perda de credibilidade da política
tradicional após os escândalos de corrupção. Com a promessa de renovar os tão
desgastados processos institucionais, eles se diferenciam já a partir das
campanhas, criativas e com alto uso das tecnologias e redes sociais, e disputam
cargos nas eleições de domingo, as primeiras após a minirreforma política e
após a Lava-Jato.
Para a
cientista política Luciana Tatagiba, coordenadora do Núcleo de Pesquisa em
Participação, Movimentos Sociais e Ação Coletiva (Nepac) da Unicamp, antes mesmo
de junho de 2013 já havia mudanças na configuração de forças políticas, tanto à
esquerda quanto à direita. Segundo ela, as manifestações apenas deixaram mais
explícita uma forte descrença nas instituições da democracia representativa –
fenômeno que tem sido observado no mundo todo – e também um forte desejo de
participação, principalmente entre os jovens. "Vivemos hoje uma profunda
crise de projeto político, de narrativa de mudança, e isso impacta fortemente a
juventude", diz Tatagiba.
Novos movimentos de esquerda
A
Bancada Ativista, de São Paulo, é um dos grupos que tenta buscar uma nova
narrativa para a política. A iniciativa suprapartidária surgiu das
conversas entre um grupo de pessoas que atuam em diferentes causas na sociedade
civil para mapear e apoiar candidaturas de ativistas nunca antes eleitos, mas
com trajetória de defesa de causas progressistas. Cerca de 40 pessoas
criaram o movimento, que mapeou e agora apoia oito candidaturas para o
legislativo, das quais quatro são de mulheres e três são de negros. A maioria
dos candidatos sai pelo PSOL, mas dois saem pela Rede. Um deles, Pedro Markun,
se define como candidato independente – ele aproveita uma brecha do estatuto do
partido que reserva 30% de vagas para candidatos que não concordam 100% com as bandeiras
do partido. O compromisso é com a base, não com o partido. Os princípios que
unem os oito candidatos, como o produtor cultural Márcio Black, da Rede, e a
feminista Sâmia Bonfim, do PSOL, é a garantia dos direitos humanos, políticos e
civis, e a criação de uma cidade mais diversa e humana.
Movimento
parecido ocorre em Belo Horizonte, com o Muitas, que surge da união de diversas
iniciativas da cidade, como os grupos que fazem acontecer o carnaval de rua, os
cicloativistas, as ocupações de moradia, a Praia da Estação, entre outros.
Depois de ocupar as ruas, a ideia é ocupar a política. São 13 candidaturas,
todas do PSOL, sendo 8 mulheres, 3 homens e uma pessoa queer/não-binária, Ed
Marte, que se candidata com a bandeira de lutar pelo respeito à diversidade
sexual. Assim como a Bancada Ativista, o Muitas se pauta pela ideia de
transparência radical: o plano é prestar contas de tudo que for feito e
realizar assembleias em praças públicas, garantindo que a participação dos
eleitores não fique restrita ao voto.
Novos movimentos de direita
Do outro
lado do espectro político, um grupo que continua a ganhar força é o dos
evangélicos, que já ocupam as ruas há algum tempo com as Marchas para Jesus. De
acordo com o cientista social Fábio Lacerda, que realiza sua tese de doutorado
sobre as candidaturas evangélicas, o aumento reflete a ampliação do
protestantismo no Brasil, em especial das igrejas neopentecostais. Em 1970, os
católicos representavam 91,8% da população, e os evangélicos, 5,2%; já em 2010,
os católicos não passavam de 64,40%, com os evangélicos representando 22% das
pessoas. Hoje, estima-se que o número se aproxime de 25%, ou seja, um quarto da
população. "Considerando isso, a população evangélica ainda é
sub-representada na Câmara, apesar do crescimento", diz Lacerda, que
afirma que o número de candidatos evangélicos tem se mantido estável nas
últimas eleições, embora tenha tido mais sucesso ao eleger seus candidatos, que
se espalham por diversos partidos.
Também à
direita, mas com pautas bem diferentes da dos evangélicos, surgem os liberais,
ou libertarianistas. Enquanto os primeiros defendem uma maior presença do
Estado na economia e mais conservadorismo no que diz respeito aos costumes, os
liberais advogam por menos intervenção estatal na economia e mais respeito à
liberdade individual. Um dos grupos que saiu às ruas em 2013 com essa pauta foi
o Movimento Brasil Livre (MBL), o nome foi criado pelos jovens da organização
Estudantes Pela Liberdade (EPL) para participar das manifestações. O EPL é o
braço brasileiro de uma organização americana, o Students for Liberty, que
recebe financiamento de entidades internacionais para divulgar as causas do
liberalismo.
"É
um grupo que tem apelo nas redes e também nas universidades, porque eles trazem
uma defesa da liberdade individual que tem bastante ressonância", diz
Luciana Tatagiba. Os libertarianistas não se articulam em nenhum partido
específico, embora apareçam em alguns, como o Novo, fundado em 2011, e no
Livres, um segmento do PSL que busca a renovação da legenda por meio dos ideais
libertarianistas. Mas alguns candidatos sairão por velhas siglas já conhecidas,
como DEM, PMDB e PSDB. É o caso de Fernando Holiday, do MBL, que ficou
conhecido por sua participação nos protestos de 2013 e se candidata pelo DEM.
Segundo
Luciana, assim como a esquerda, que é fragmentada, não existe uma nova direita
única, coordenada internacionalmente, mas sim várias direitas. "A grande
novidade é que [essas direitas] resolveram disputar política à luz do dia, nas
ruas", diz Luciana. "Não buscam mais apenas vencer, mas
convencer".
Deutsche Welle
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