Viviane
Mosé
“Vivemos uma crise das instituições, a
corrupção no país é vergonhosa. Temos crise moral e ética, que envolve o setor
público e o privado. A Lava Jato está mostrando que no Brasil ambos os setores
são muito corruptos. Sabemos que isso é muito antigo e temos de lutar contra
essa situação com todas as armas. Nossa crise é ética, uma crise que envolve um
Estado corrupto.
E não é só o Brasil que está em
crise, o mundo também. Há uma crise ambiental gravíssima, uma crise econômica
sem precedentes. Temos 30% de desemprego em vários países da Europa. Aqui, com
9% de desemprego, parece que o mundo está desabando. Então, há um exagero na
‘venda’ dessa crise. Muita gente ganha com isso. Por exemplo: você pode ser
contra a política do governo porque ele é corrupto, e isso é um fato, existe
corrupção séria no governo. Mas alguém pode ser contra o governo só porque ele
investe no social?
É preciso construir sistemas de
controle que impeçam que as pessoas roubem, com o uso da tecnologia e a favor da
transparência. O banco consegue controlar o sistema para que o gerente não
roube e uma multinacional evita que seu diretor financeiro não dê golpes.
Então, por que o Estado brasileiro é tão aberto à corrupção? Porque nasceu para
ser corrupto. Isso vem desde a família real, que distribuía títulos de nobreza
para qualquer um. Isso não é atual. Por que o Brasil não faz uma reforma
administrativa? Não adianta mudar os atores e manter o sistema, senão quem hoje
clama contra a corrupção será o corrupto de amanhã.
Temos de pensar no coletivo e ter
consciência de que a gente vive bem quando está envolvido nesse tipo de
processo, o que nos traz a sensação de pertencimento. Também é importante que
não se leia a crise apenas pelos jornais, porque há muitos interesses
envolvidos nisso. E a crise econômica tem, sim, raízes em políticas errôneas do
governo. Mas também existe a crise dos emergentes, que cresceram muito e estão
caindo. O maior exemplo é a China, o mais bem-sucedido dentre os emergentes,
que também vive uma crise econômica complicada e ainda ajuda a agravar a nossa.
É preciso tempo. Os problemas que
vivemos são históricos. Na educação, por exemplo, hoje temos uma rede escolar
estruturada, mas não há qualidade no processo educativo. Precisamos de pessoas
que arrastem essa educação para o contemporâneo, que proponham uma educação
voltada para a vida, para a ética, depende de uma mudança pedagógica. Temos de
formar cidadãos na educação brasileira. Não é só investir financeiramente. As
coisas vão mudar quando nós formarmos a escola não para o mercado, mas para a
vida, a ética e a cidadania. Há grupos organizados na internet, espaços onde os
jovens podem exercitar a cidadania e a participação. Não foi o governo quem
criou a crise, ele contribui para o problema, ao permitir esse desmando
político.
As reformas serão feitas pelo
Legislativo, mas hoje temos um Congresso retrógrado. Há um velho hábito de se
culpar só o governo, porque simboliza o pai, mas e o Judiciário? E a corrupção
de juízes, por exemplo? Na verdade, nós não conhecemos o nosso país, nossa
organização política. Não conseguimos agir como cidadãos e mal conhecemos as
leis. O jovem precisa entender que temos três poderes.
Nunca deve pedir a um deputado para
quebrar um galho, porque ele existe é para fazer leis. Precisamos de uma
mudança estrutural.
As manifestações que aconteceram no
Brasil a partir de 2013 mostram a nossa impotência política. Conseguimos
gritar, mas não conseguimos propor. O resultado foi um Congresso atrasado. E na
sociedade houve até manifestações a favor do retorno da ditadura militar. Um
retrocesso político. Acabou na radicalização de grupos de esquerda encontrados
com bombas em casa.
Não basta gritar, é preciso elaborar.”
Viviane Mosé
O diagnóstico é feito pela psicóloga,
psicanalista e poeta, mestra e doutora em Filosofia pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
Congreso em Foco
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