Mario Guerreiro
“Sabe-se
que os sunitas formam, hoje, o maior ramo do Islão: cerca de 84% do total dos
muçulmanos. A origem da expressão sunita pode ter derivado da palavra
Suna (Sunna), que se refere aos preceitos estabelecidos no século VIII segundo
os ensinamentos de Maomé e dos quatro califas ortodoxos [obs. minha: khalif, em árabe, quer dizer: “sucessor” e, por
extensão, de Maomé].
O
termo também pode significar “um caminho moderado”, expressando uma posição
mais neutra do que aquelas tidas como mais extremadas, como é o caso dos
xiitas. [Mas o atual Estado Islâmico, que é sunita, tem se revelado a mais
extremista das facções islâmicas, acrescento eu].
Estes
implicam o segundo maior ramo de muçulmanos e consideram Ali, o genro e primo
do profeta Maomé, como o seu sucessor legítimo e consideram ilegítimos os
califas sunitas que assumiram a liderança da comunidade muçulmana após a morte
de Maomé”. [Texto de Maristela Basso, reproduzido em Rede Liberal em 9/2/2015].
Só
houve um momento de união entre os árabes e foi durante o governo do próprio
Maomé. Com a morte do profeta, as dissenções se espalharam pelo mundo árabe.
Na
realidade, não se pode falar em “nações” árabes, porque não há unidades
nacionais, mas sim tribais e de facções religiosas, como os sunitas e xiitas.
No
filme Lawrence da Arábia, de David Lean,
bastante fiel à realidade histórica, o tenente do Exército Britânico, T.E.
Lawrence, consegue realizar uma proeza digna de Maomé:
Consegue
unificar as tribos árabes, mas não as fazendo a aceitar um deus único, Allah,
pois isto Maomé já tinha feito há muito tempo, porém para expulsar os invasores
provenientes do Império Otomano.
Os
otomanos e/ou turcos eram de religião muçulmana, mas não de etnia árabe (um
ramo da etnia semita).
Como se sabe, o Império Otomano (Turco)
acabou depois da Primeira Guerra, com a fundação da República Turca, mas
durante a Guerra ele era aliado do Kaiser alemão e inimigo
dos britânicos, por sua vez, aliados dos árabes na Arábia Saudita e na
Síria.
Expulsos os otomanos, foi feita uma grande
reunião em Damasco (Síria). Lawrence, conhecido pelos árabes como El Orans e reconhecido como seu grande líder de
guerra, propôs então a criação de uma grande nação árabe.
Imediatamente,
um morubixaba de uma tribo lançou uma objeção: “Árabe? Eu não sei o que quer
dizer isto. Eu sou da tribo X”. Seguiram-se outros morubixabas dizendo: “E eu
sou da tribo Y” E outros ainda: “E eu sou da tribo Z, e assim por diante.
Unidos na guerra, desunidos na paz!,
assim são os “árabes”, nome que designa uma etnia semita, “irmãos” dos judeus e
descendentes de Ismael, filho bastardo de Abraão com a escrava Agar, oferecida
por sua esposa Sara a ele porque ele desejava um herdeiro, mas ela estava
estéril, conforme diz a Torah(o mesmo que o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia).
[Como
sabemos, a esterilidade e a impotência são dois motivos aceitos para o
divórcio, não só no judaísmo como também nas três grandes religiões abraâmicas:
judaísmo, cristianismo e islamismo, na ordem da Revelação].
O
Iraque possui uma minoria sunita, mas a maioria dos iraquianos é xiita, como
uma maioria dos iranianos, embora estes não sejam de etnia semita, mas sim
ariana. O maior país islâmico, a Indonésia, também não é de etnia semita, porém
malasiana.
Por
meio de “voto declarado”, Saddam Hussein, que era sunita, assumiu o poder e o
exerceu de forma totalitária perseguindo os xiitas. Acabou provocando uma
guerra sangrenta contra o Irã. Much
ado about nothing!
(Muito barulho por nada)!
Com
a ocupação do Iraque pelos americanos, Saddam Hussein foi deposto, julgado por
uma corte de Justiça iraquiana e condenado à morte na forca.
Mas
a ocupação terminou quando o “grande estadista” Obama decidiu que o Iraque
estava pacificado e tinha se tornado uma democracia.
[M’engana qu’eu gosto! Só haverá democracia
em países árabes quando o Saci andar de patinete, embora formalmente a Turquia
e a Jordânia sejam democracias, como a Venezuela o é a seu bolivariano modo].
E tanto era assim, como julgava Obama, que
tinha havido uma votação secreta – ao contrário do voto declarado dos tempos de
Saddam Hussein – e o partido deste mesmo, o Baat (sunita) tinha perdido as
eleições. Coisa que não é de surpreender, uma vez que os shiitas sempre foram a
maioria no Iraque.
Assumiu
o governo de transição Al-Malaki, mas que era de um partido shiita. Resultado:
os perseguidos passaram a ser os sunitas.
[Parece até o cristianismo católico que, de
perseguido na Antiguidade, passou a perseguidor na Idade Média. A Santa
Inquisição, a heresia dos Cátaros e a dos Albigenses estão aí mesmo, para não
me deixar mentir.
Conta-se que quando o exército do rei
Filipe Augusto invadiu uma cidade do sul da França dominada pelos cátaros, o
comandante da tropa de invasão, conde Simon de Montfort, foi procurar o bispo
supervisor da mesma alegando que não sabia distinguir quem era e quem não era
cátaro.
E
o piedoso bispo deu uma resposta direta: “Mate-os todos! Deus saberá reconhecer
os seus”. [Upa-lê-lê! Este bispo parece até um líder terrorista muçulmano].
E
é como eu sempre digo: quando os árabes não têm nenhum inimigo externo – como o
Império Otomano na Primeira Guerra – eles brigam com eles mesmos, sunitas
contra shiitas. Os dois consideram, um ao outro, como infiéis.
Segundo
penso, islamismo é um flatus
vocis, o que existe na realidade é sunismo e
xiismo, unidos apenas pelo mesmo deus, Allah, mas separados em tudo o mais.
Um
general sunita de Saddam Hussein fugiu para o norte do Iraque e acabou fundando
o Estado Islâmico, que é na realidade um califado sunita pretendendo retomar os
grandes califados d’antanho, como o Califado de Bagdá (Iraque).
E
o Califado Islâmico se estendeu para o leste da Síria, estabeleceu sua capital
em Raka, mas pretende se expandir por todo o mundo árabe com franco apoio
da sunita Arábia Saudita, patrimônio perpétuo da dinastia Saud que nem a dos
Kim na Coréia do Norte.
Hitler dizia: “Hoje a Europa, amanhã o
mundo”, e o morubixaba do Estado Islâmico bem poderia ter dito: “Hoje parte da
Síria e do Iraque, amanhã o Oriente Médio e depois de amanhã a Europa” e
depois,Insh’Allah!, o mundo.
Se
você não está com medo, é porque não leu – ou leu mas não levou a sério –
Samuel Huntington: O Choque de Civilizações e Guy Sorman: A Invasão dos Bárbaros.
Em
meu ver, um título que ficaria melhor, para a obra de Huntington, seria: A Barbárie Islâmica Contra A Civilização Ocidental.
Estão aí mesmo os massacres das Torres
Gêmeas e o de Paris, só para não me deixar mentir. E isto para não falar nos
pescoços não-sunitas degolados pelo Califado em Raka e outras cidades da Al-Jazira(nome árabe do norte da Mesopotamia e,
posteriormente, de um famoso canal de TV árabe).
Boa
parte da Síria é comandada pelo ditador Bashar Al-Assad, tão ou menos xiita
quanto o Ayatolah do Irã. Não é de surpreender, portanto, que o Estado Islâmico
sunita, também conhecido como Isis, que estabeleceu sua capital em Raka
(Síria), esteja combatendo o regime de Al-Assad.
Com
os democratas no poder, Obama combate toda e qualquer ditadura no Oriente Médio
e redondezas. Interviram na Líbia e depuseram Kadhafi e o que aconteceu com a
queda do facínora líbio? O caos, com muitas facções rivais brigando umas com as
outras pelo poder totalitário.
Obama
apoiou a revolta da Praça Tahir (Cairo) e uma ditadura foi substituída por
outra, a da Irmandade Muçulmana (facção terrorista). E a Primavera Árabe da
Hilária Clinton transformou-se no Inverno
da Nossa Desesperança de John Steinbeck.
Finalmente,
Obama decidiu combater, ma
non troppo,
a ditadura de Bashar Al-Assad fornecendo armas para os guerrilheiros sunitas. E
combater os sunitas do Isis, mas por meio de ataques aéreos cirúrgicos, uma vez
que o “pacifista” e “politicamente correto” Obama recusa-se a pôr boots on the ground.
Ora
bolas, isto é o mesmo que dar um chutão num grande formigueiro. Imediatamente,
as laboriosas formigas operárias começam a trabalhar, em breve tempo os reparos
serão feitos e tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes.
Mas
o “pacifista” Obama não bombardeia os grandes poços de petróleo e os meios de
transporte do mesmo, principal recurso econômico do novo Califado, que ele
vende a preço abaixo do preço de mercado e sem o qual ele se torna incapaz de
sustentar uma guerra.
Nunca
me esquecerei daquele óbvio ululante proclamado por um general naquele filme
sobre a Guerra de Secessão americana: “Um exército, para lutar, precisa comer”,
dito diante da falta de suprimento para seus soldados.
Mas
nem Obama nem Hollande, nem mesmo Putin, perceberam esse óbvio, “que grita e
esperneia diante de seus olhos e ouvidos”, como diria o saudoso Nelson
Rodrigues.
Por
que não? Não posso censurar quem pense que Obama é “parente” de Osama, na
realidade um grande Muslin-lover, como certamente
Benjamin Netanyahu o vê, principalmente após seu acordo nuclear com iranianos
carentes de credibilidade, colocando em sério risco a segurança no Oriente
Médio.
Obama
fornece armas para os sunitas sírios e iraquianos derrubarem a ditadura shiita
de Al-Assad. Suponhamos que consigam? A Síria terá uma democracia? Nunca!
Tomará o poder uma facção sunita aliada do Estado Islâmico, para fortalecer o
mesmo!
É
por isto que Putin – que de democrático nada tem, mas é uma raposa política das
mais felpudas – bombardeia o Estado Islâmico e os rebeldes sunitas sírios,
enquanto aliado de Bashar Al-Assad. “Se é para a Síria ter sempre um ditador,
fico com o que aí está e com quem tenho feito bons negócios”, deve ter pensado
o novo czar da Rússia.
Como
os tempos mudaram neste período de pós-guerra fria! O Presidente dos Estados
Unidos é “socialista” e “pacifista” e o manda-chuva da Rússia está mais
preocupado com o gasoduto russo, grande fonte de renda para seu país.
A Voz do Cidadão
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