Percival Puggina
Revirei meus arquivos. Revisei a
história. Puxei pela memória. Nada. Busquei inutilmente um exemplo em que a
comunicação do governo e as manifestações de lideranças petistas não tivessem
como objetivo enganar a nação, falsificar a verdade, criar ilusão, manipular
fatos, dissimular males praticados, induzir a opinião pública a erros de
julgamento, soterrar em publicidade as própria faltas. Pergunto: o que motivou
os crimes contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, senão o desejo de esconder a
realidade e falsear as contas públicas, sob o nome original de
"contabilidade criativa"?
Concluí: líderes petistas só dizem a
verdade em delações premiadas.
Fiz mais. Debrucei-me sobre o estouro
das contas públicas. Examinei os números das eleições presidenciais de 2013.
Abri o arquivo dos escândalos e escrutinei a lista das fortunas, expandidas com
a velocidade daqueles automóveis que aceleram de 0 a 100 km/h em poucos
segundos. Constatei, também, que menos de 10% da população aprova o governo
Dilma, ao passo que 38% dos deputados votaram por uma Comissão de Impeachment
governista. Perderam, mas fizeram muito voto!
Concluí: o governo não vence nas
urnas nem nas votações do Congresso Nacional sem, de alguma forma, comprar
votos.
Este governo é filho da mentira.
Elegeu-se mentindo. Nas palavras de Lula: "ganhamos as eleições, sabe, com
um discurso e, depois das eleições, sabe, nós tivemos que mudar o nosso discurso
e fazer aquilo que nós dizíamos que não íamos fazer". Muita conversa,
Lula, para substituir a palavra "mentimos". Bastaria essa corrupção
fundamental, a corrupção da verdade durante a campanha eleitoral, para mostrar
quão pouco respeito merece um mandato tão mal parido.
Bastaria isso para que o governo
inteiro e seus apoiadores cruzassem pelos cidadãos, nas ruas, nos restaurantes,
nos aeroportos, de olhos baixos, envergonhados. No entanto, - fato previsível
sob tais condições morais - o governo tornou-se, também, centro de uma
organização criminosa imensa em vulto. E várias vezes bilionária em resultados.
Poucos anos bastaram para levar da pobreza à abastança uma plêiade de
companheiros.
Concluí: a mentira é o primeiro
degrau da corrupção. É corrupção da verdade. Daí ao roubo dos fundos de um
banco, ou de uma petroleira, é questão de tempo e oportunidade.
Lênin, Goebbels e outros ensinaram (e
todos que precisam saber sabem): a mentira insistentemente repetida fica
suficientemente parecida com a verdade. Por isso, quando os petistas passam, em
coro, a repetir algo de um modo exaustivo, alerte-se, leitor: a verdade deve
ser buscada no inverso da afirmação. Nestes dias, a palavra golpe aparece duas
vezes em cada frase proferida por um defensor do governo. Logo, eles sabem que
impeachment não é golpe. E sabem isso melhor do que qualquer signatário de
algumas das dezenas de requerimentos de impeachment que foram protocolados na
Câmara dos Deputados ao longo deste ano, pelo simples motivo de que ou foram
mentores, ou conhecem bem a natureza dos atos praticados pela presidente.
Golpe foi quebrar o país. Golpe foi
tentar fazer de Eduardo Cunha uma espécie de dono do impeachment. Logo ele, que
sentou durante meses sobre os requerimentos apresentados pela sociedade. Logo
ele que nunca disse palavra que fosse, a favor de tais iniciativas. Logo ele
que com sua atitude passiva desestimulou a mobilização popular. Golpe é,
também, tentar mudar o rito do impeachment depois de iniciado o processo.
Mesmo assim, parido na mentira, o
governo repete, como se adestram cães - golpe, golpe, golpe! E não falta
matilha para abanar o rabo.
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