quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O Destino dos Impérios

John Glubb

I - Aprendendo com a História
Para obter qualquer instrução útil da história, parece-me essencial antes de tudo, compreender o princípio de que a história, para ser significativa, deve ser a história da raça humana. De forma que a história seja um processo contínuo, gradualmente em desenvolvimento avançando e retrocedendo, mas, em geral, avançando em uma única poderosa correnteza. Qualquer lição útil deve ser aprendida pelo estudo de todo o fluxo de desenvolvimento humano, e não pela seleção de períodos curtos aqui e ali em um ou outro país.
[...]
Em todas as idades, a cultura são derivadas de seus antecessores, acrescenta-se alguma contribuição própria, e passa-lo para seus sucessores. Se boicotar vários períodos da história, as origens das novas culturas surgiram não poderão serem explicadas.
II - A vida dos Impérios
Se desejarmos conhecer as leis que regem a ascensão e queda dos impérios, o caminho óbvio é aquele de investigar as experiências imperiais gravadas na história e tentar deduzir a partir deles as lições que parecem ser aplicáveis a todos eles.
Possuímos uma quantidade considerável de informações sobre muitos impérios registrados na história, de suas vicissitudes e as durações de suas vidas, por exemplo: 

III - O Critério Humano
Uma das poucas unidades de medida que não foi seriamente alterada desde os assírios é a "geração" humana, um período de cerca de vinte e cinco anos. Assim, um período de 250 anos, representaria cerca de dez gerações de pessoas. Um exame mais detalhado das características da ascensão e queda das grandes nações podem destacar a importância da sequência das gerações.
Vamos, então, tentar examinar as fases da vida das nações poderosas. 

IV - Estágio um. A explosão
Repetidas vezes na história, encontramos uma pequena nação, tratada como insignificante por seus contemporâneos, e que de repente emerge de sua terra natal e invade grandes áreas do mundo. Antes de Philip (359-336 aC), a Macedônia tinha sido um estado insignificante, ao norte da Grécia. A Pérsia era o grande poder no tempo em questão, dominando completamente a área da Europa Oriental até a Índia. No entanto, por volta de 323 aC, 36 anos após a adesão de Philip, o Império Persa tinha deixado de existir e o Império Macedônio se estendia do Danúbio para a Índia, incluindo o Egito.

[…]
O Profeta Maomé pregou na Arábia, por volta de dC 613-632, quando ele morreu. Em 633, os árabes explodiram de sua península deserta, e atacaram simultaneamente as duas superpotências. Dentro de vinte anos, o Império Persa tinha deixado de existir. Setenta anos depois da morte do Profeta, os árabes haviam estabelecido um império que se estendia desde o Oceano Atlântico até as planícies do norte da Índia e as fronteiras da China.
No início do século XIII, os mongóis eram um grupo de tribos selvagens nas estepes da Mongólia. Em 1211, Genghis Khan invadiu a China. Por volta de 1253, os mongóis tinham estabelecido um império que se estendia desde a Ásia Menor até o Mar da China, um dos maiores impérios que o mundo já conheceu.

V - Características da Explosão
Essas explosões súbitas são normalmente caracterizadas por uma exibição extraordinária de energia e coragem. Os novos conquistadores são normalmente pobres, resistentes e empreendedores e, acima de tudo, agressivos. Os impérios decadentes os quais derrubam são ricos, mas possuem um espirito de defesa. No tempo da grandiosidade romana, as legiões comumente cavavam uma vala em volta de seus acampamentos durante a noite para evitar surpresa.
Mas as valas eram meras obras de terraplanagem, e entre eles, amplos espaços foram deixados através do qual os romanos poderiam partir para o contra-ataque. Mas, como Roma cresceu, a técnica das valas foi transformada em altos muros, através do qual o acesso era dado apenas por portas estreitas. O contra-ataque já não era mais possível. As legiões eram agora defensores passivos.
[...]
Outra peculiaridade do período dos pioneiros é sua capacidade de improvisar e experimentar. Desatrelados de tradições, eles transfonarão qualquer coisa disponível para o seu propósito. Se um método falhar, eles tentam outra coisa. Desinibidos por livros ou textos  de aprendizagem, a ação é a solução para todos os problemas.
Pobres, resistentes, mal vestidos e muitas vezes quase mortos de fome, eles abundam em coragem, energia e iniciativa, superaram todos os obstáculos e sempre parecem estar no controle da situação.

VIII - O Curso do Império
A primeira fase da vida de uma grande nação, portanto, após sua explosão, é um período de iniciativa incrível, e empreendimento quase inacreditável, coragem e ousadia. Estas qualidades, muitas vezes em um curto espaço de tempo, produzem uma nova e formidável nação. Estas primeiras vitórias, no entanto, são vencidas principalmente por bravura imprudente e inciativas ousadas.

Em outros campos, a iniciativa ousada dos conquistadores originais é mantida na exploração geográfica, por exemplo: novos países a serem explorados, penetrando novas florestas, escalando montanhas inexploradas e e navegando em mares desconhecidos. A nova nação está confiante, otimista e talvez desdenhosa das raças "decadentes" que subjugaram. 

X - Expansão Comercial
A conquista de vastas áreas de terra e sua submissão a um governo, age automaticamente como um estimulante para o comércio. Os bens podem ser trocados por distâncias consideráveis.
Além disso, se o Império for extenso, que inclui uma grande variedade de climas, produzindo produtos extremamente variados, as diferentes áreas costumam desejar trocar artigos umas com as outras. A velocidade de métodos modernos de transporte tende a criar em nós a impressão que o comercio em grandes distancias é um desenvolvimento moderno, mas este não é o caso. Objetos feitos na Irlanda, Escandinávia e China foram encontrados nos túmulos e ruínas do Oriente Médio, que data de 1000 anos antes de Cristo. Os meios de transporte eram mais lentos, mas, quando um grande império estava em controle, o comércio estava livre das inúmeras correntes que lhe são impostas hoje pelos passaportes, autorizações de importação, alfândega, boicotes e interferência política. [...]

Mesmo impérios selvagens e militaristas promoveram comercio com ou sem a intenção de fazê-lo. Os mongóis foram alguns dos conquistadores militares mais brutais da história, massacrando toda a população das cidades. No entanto, no século XIII, quando o seu império se estendia desde Pequim a Hungria, o comércio de caravanas entre a China e a Europa alcançou um notável grau de prosperidade, toda viagem era realizada no território de um governo.

XIII - A Era do Comércio
Estes novos conquistadores adquiriram armas sofisticadas dos antigos impérios, e adotaram seus sistemas regulares de organização militar e treinamento. Um grande período de expansão militar segue-se, o que podemos chamar da Era das Conquistas. As conquistas resultaram na aquisição de vastos territórios sob um governo, dando assim origem a prosperidade comercial. Podemos chamar essa de Era de Comércio.
A Era das Conquistas, é claro, se sobrepõe à Era do Comércio. As tradições militares orgulhosas ainda têm força e os grandes exércitos guardam as fronteiras, mas gradualmente o desejo de ganhar dinheiro parece ganhar a retenção do público. Durante o período militar, glória e honra foram os principais objetos de ambição. Para o comerciante, tais ideias são apenas palavras vazias, que não acrescentam nada ao saldo bancário.

XIV - Arte e luxo
A riqueza que surge, quase sem esforço, permite que as classes comerciais se tornem imensamente ricas. Como gastar todo esse dinheiro se torna um problema para a comunidade dos negociantes ricos. Arte, arquitetura e luxo encontram patronos ricos. Esplêndidos edifícios municipais e ruas largas dão dignidade e beleza para as áreas ricas das grandes cidades. Os comerciantes ricos constroem palácios, e o dinheiro é investido em comunicações, estradas, pontes, ferrovias e hotéis, de acordo com padrões variados de todos os tempos.
A primeira metade da Era de Comércio parece ser particularmente esplêndida. As antigas virtudes de coragem, patriotismo e devoção ao dever ainda estão em evidência. A nação está orgulhosa, unida e cheia de auto-confiança. Rapazes ainda são necessários, antes de tudo, que sejam viris, para montar, para disparar bem e para dizer a verdade. (É notável a ênfase  colocada, nesta fase, na virtude, na virilidade e na veracidade em detrimento da mentira, que é covardia, o medo de enfrentar a situação).
Escolas dos rapazes são intencionalmente difíceis. Alimentação severa, vida dura, costumes semelhantes são destinados para produzir uma raça forte, resistente e de homens destemidos. O dever é uma palavra constantemente imposta na cabeça dos jovens. 

XV - Era da Riqueza
Não parece haver qualquer dúvida de que o dinheiro é o agente que provoca o declínio para este povo forte, bravo e auto-confiante. O declínio da coragem, da iniciativa e do senso de dever, no entanto, é gradual. A primeira direção em que a riqueza ataca é a moral. O objetivo dos melhores homens não é mas a honra, e a aventura é substituída pelo dinheiro. Além disso, os homens normalmente não procuram fazer dinheiro para o seu país ou a sua comunidade, mas para si mesmo. Aos poucos, e de forma quase imperceptível, a Era da Riqueza silencia a voz do dever. O objetivo do jovem ambicioso não é mais a fama, a honra ou serviço, mas o dinheiro.

Educação sofre a mesma transformação gradual. Não mais é visado nas escolas a produção de bravos patriotas prontos a servir o seu país. Pais e alunos procuram as habilitações acadêmicas que irão lhe fornecer os salários mais altos. O moralista árabe, Ghazali (1058-1111), queixa-se nestas mesmas palavras da diminuição dos objetivos no mundo árabe em declínio de seu tempo. Os alunos, diz ele, já não cursam a faculdade para adquirir conhecimento e virtude, mas para obter essas qualificações que lhes permitam enriquecer. A mesma situação é evidente em toda parte entre nós, no ocidente atual.

XVI - O Ápice 
A imensa riqueza acumulada no país deslumbra os espectadores. Somente o suficiente de antigas virtudes de coragem, energia e patriotismo sobrevivem para permitir que o estado tenha sucesso em defender suas fronteiras. Mas, abaixo da superfície, a ganância por dinheiro está gradualmente substituindo o dever e serviço público. Com efeito, a alteração pode ser resumida como sendo do serviço para egoísmo. 

XVII A Defensiva
Outra mudança notável, que invariavelmente marca a transição entre da Era das Conquistas para a Era da Riqueza, é a disseminação de defesa. O país, imensamente rico, não está mais interessado em glória ou o dever, mas se encontra ansioso apenas para manter sua riqueza e luxo. [...]
O dinheiro parece melhor do que o uso da coragem, subsídios em vez de armas são empregados para comprar os inimigos. Para justificar este desligamento da tradição antiga, a mente humana facilmente inventa a sua própria justificação. Prontidão militar ou agressividade é denunciada como primitiva e imoral. Povos civilizados são orgulhosos demais para lutar. A conquista de uma nação por outra é declarada imoral.
Impérios são perversos. Este aparelho intelectual nos permite suprimir o nosso sentimento de inferioridade, quando lemos sobre o heroísmo dos nossos antepassados, e, em seguida, com tristeza contemplamos a nossa posição hoje. "Não é que temos medo de lutar," dizemos, "mas devemos considerar a luta imoral". Essa maneira ainda nos permite assumir uma atitude de superioridade moral. A fragilidade do pacifismo é que ainda existem muitos povos no mundo que são agressivos. Nações que se proclamam indispostas a lutar são susceptíveis de serem conquistadas pelos povos no estágio do militarismo.

XVIII - A Era do Intelecto
Os príncipes mercantes do Era do Comércio buscam fama e elogios, não só financiando obras de artes ou patrocinando música e literatura, igualmente encontraram a glória em patrocinar faculdades e universidades. É notável que a regularidade desta fase surge na sequência da Era da Riqueza.
No século XI, o antigo Império Árabe, já então em declínio político completo, era governado pelo sultão seljúcida, Malik Shah. Os árabes, já não mais soldados, ainda eram os líderes intelectuais do mundo. Durante o reinado de Malik Shah, a construção de universidades e faculdades tornou-se uma paixão.
Em nossa vida, temos testemunhado o mesmo fenômeno nos EUA e na Grã-Bretanha. Quando essas nações estavam no auge de sua glória, Harvard, Yale, Oxford e Cambridge pareciam satisfazer as suas necessidades. Agora, quase toda cidade tem sua universidade.
A ambição do jovem, uma vez engajado na busca de aventura e glória militar, e, em seguida, no desejo de que a acumulação de riqueza, agora se volta para a aquisição de honras acadêmicas.
É útil aqui tomar nota de que quase todas as buscas seguiram com tanta paixão ao longo dos tempos foram boas por si só. O culto viril da coragem, franqueza e honestidade, que caracterizou a Era das Conquistas, produziu muitos heróis verdadeiramente esplêndidos.
A abertura dos recursos naturais e da acumulação de riqueza pacífica, que marcou a era do mercantilismo, introduz novos triunfos na civilização, na cultura e nas artes.
De fato, freqüentemente se tem a opinião que a cabeça e o coração são rivais naturais. O intelectual brilhante, mas cínico, aparece no extremo oposto do espectro do auto-sacrifício emocional do herói ou mártir. No entanto, há momentos em que, talvez, a auto-dedicação não sofisticada do herói é mais essencial do que os sarcasmos do inteligentes.

XXI - Discórdias Civis
Outro sintoma notável e inesperado durante o declínio nacional é a intensificação dos ódios políticos internos. Seria de esperar que, quando a sobrevivência da nação torna-se precária, facções políticas deixariam de lado sua rivalidade e ficariam unidas para salvar seu país.
Grã-Bretanha tem sido governada por um parlamento eleito por muitos séculos. Em anos anteriores, no entanto, os partidos rivais tem salientado a existência de muitas leis não escritas. Antes, nenhuma das partes pretendiam eliminar o outro. Todos os membros se referiam ao outros como cavalheiros honrados. Mas tais cortesias já caducaram. Vaias, gritos e barulhos altos minaram a dignidade da Câmara e os insultos furiosos são mais freqüentes. Temos sorte se estas rivalidades são travadas apenas no Parlamento, mas às vezes esses ódios são levadas para as ruas, ou para indústria, na forma de greves, manifestações, boicotes e atividades similares.

XXII - O afluxo de estrangeiros
Um dos fenômenos muitas vezes repetidos nos grandes impérios é o afluxo de estrangeiros à cidade capital. Historiadores romanos muitas vezes se queixam do número de asiáticos e africanos em Roma. Bagdá, em seu apogeu, no século IX, era internacional em sua população - persas, turcos, árabes, armênios, egípcios, africanos e gregos misturavam em suas ruas. Em Londres, hoje, os cipriotas, gregos, italianos, russos, africanos, alemães e indianos disputam entre si nos ônibus e no metrô de modo que às vezes parece difícil encontrar qualquer britânico. O mesmo aplica-se para Nova York, talvez até mais.
[...]
Enquanto a nação ainda é afluente, todas as diversas raças podem aparecer igualmente fiéis. Mas em caso de emergência aguda, os imigrantes, muitas vezes, estar menos dispostos a sacrificar suas vidas e seus bens que beneficiarão os descendentes originais do império.

XIII  - Frivolidade
Enquanto a nação declina em poder e riqueza, um pessimismo universal permeia gradualmente o povo, e acelera-se o declínio. Roma republicana estava várias vezes à beira da extinção, em 390 aC quando os gauleses saquearam a cidade e também em 216 aC depois da batalha de Canas. Mas nenhum desastre poderia abalar a resolução dos antigos romanos. No entanto, nos últimos estágios de declínio romano, todo o império era profundamente pessimista, minando assim a sua própria resolução.

Frivolidade é o companheiro freqüente do pessimismo. Vamos comer, beber e ser feliz, porque amanhã morreremos. A semelhança entre várias nações em declínio a este respeito é verdadeiramente surpreendente. A multidão romana, temos visto, exigiu refeições gratuitas e jogos públicos. Espetáculos de gladiadores, corridas de carruagem e eventos esportivos eram a sua paixão. No Império Bizantino as rivalidades dos verdes e os azuis no hipódromo atingiu a importância de uma grande crise.

A julgar pelo tempo e espaço que lhes foi atribuídos na imprensa e na televisão, o futebol e o beisebol são as atividades que hoje se tornaram o principal interesse do público na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, respectivamente.

Os heróis das nações em declínio são sempre os mesmos, o atleta, o cantor ou o ator. A palavra "celebridade" hoje é usada para designar um comediante ou um jogador de futebol, não um estadista, um general, ou um gênio literário.

XXIV - O Declínio Árabe 
Na primeira metade do século IX, Bagdá teve seu Ápice como a maior e mais rica cidade do mundo. Em 861, no entanto, o Khalif reinante, Mutawakkil, foi assassinado por seus mercenários turcos, que montou uma ditadura militar que durou cerca de trinta anos. Durante este período, o império desmoronou. Várias províncias e domínios assumiram uma independência virtual buscando seus próprios interesses. Bagdá, que foi a capital de um vasto império, encontrou a sua autoridade limitada apenas ao Iraque.

As obras dos historiadores contemporâneos de Bagdá no início do século X ainda estão disponíveis. Eles lamentaram profundamente a degeneração dos tempos em que viviam, enfatizando particularmente a indiferença à religião, o crescente materialismo e o relaxamento dos costumes sexuais. Eles lamentaram também a corrupção dos funcionários do governo e o fato de que os políticos sempre pareciam acumular grandes fortunas enquanto trabalhavam em escritórios.

Os historiadores comentaram amargamente sobre a influência extraordinária adquirida por cantores populares mais jovens, resultando em um declínio na moralidade sexual. Eram comuns os cantores "pop" de Bagdá, acompanhados de suas canções eróticas com o alaúde, instrumento semelhante ao violão moderno. Na segunda metade do século X, como resultado, a linguagem sexual obscena se tornava mais  comum, linguagem que teria sido tolerada em uma idade anterior. Vários califas emitiram ordens proibindo cantores "pop" da capital, mas em alguns anos, sempre voltavam.

Um aumento da influência das mulheres na vida pública tem sido muitas vezes associado com o declínio nacional. Os romanos mais tarde, queixaram-se que, apesar de Roma ter dominado o mundo, as mulheres governavam Roma. No século X, uma tendência semelhante foi observada no Império Árabe, mulheres exigindo admissão às profissões até então monopolizadas pelos homens. "O que", escreveu o historiador contemporâneo, Ibn Bessam, “têm as profissões de balconista, cobrador de impostos ou marceneiro em relação com as mulheres? Essas ocupações sempre foram limitadas aos homens.” Muitas mulheres praticaram a lei, enquanto outras obtiveram lugares como professoras universitárias. Houve uma agitação para a nomeação de juízes do sexo feminino, o que, no entanto, não parece ter sucedido.

Logo após este período, o governo e a ordem pública entrou em colapso, e os inimigos estrangeiros invadiram o país. Resultando em confusão e violência que tornou inseguro para que as mulheres andassem desacompanhadas nas ruas, com o resultado, o  movimento feminista entrou em colapso.

Os transtornos após o golpe militar em 861 e a perda do império, criou um caos na economia. Em tal momento, era esperado que todos redobrariam seus esforços para salvar o país da falência, mas nada disso ocorreu. Em vez disso, neste momento de declínio do comércio e de rigor financeiro, o povo de Bagdá introduziram semanas de cinco dias.

Quando li pela primeira vez essas descrições contemporâneas de Bagdá do século X, eu mal podia acreditar nos meus olhos. Eu disse a mim mesmo que isso deveria ser uma piada! As descrições poderiam ter sido retiradas do The Times de hoje. A semelhança de todos os detalhes foi impressionante - a dissolução do império, o abandono da moralidade sexual, as cantoras "pop" com seus instrumentos, a entrada das mulheres nas profissões e a semana de cinco dias. Eu não me arriscaria a tentar uma explicação! Existem muitos mistérios sobre a vida humana que estão muito além da nossa compreensão.

XXVIII - Estado Assistencialista
Quando o estado assistencialista foi introduzido pela primeira vez na Grã-Bretanha, ele foi saudado como um ponto alto na história do desenvolvimento humano.
A história, porém, parece sugerir que a idade do declínio de uma grande nação é muitas vezes um período que mostra uma tendência à filantropia e simpatia por outros povos [...]. Enquanto ele mantém seu status de liderança, o povo imperial está contente de ser generoso, mesmo se um pouco condescendente. Os direitos de cidadania são generosamente concedidos a todas as raças, mesmo aqueles anteriormente ignoradas, e a igualdade da humanidade é proclamada. O Império Romano passou por essa fase, quando igual cidadania foi aberta a todos os povos, tais provincianos foram permitido até se tornar senadores e imperadores.

XXIX - Religião
Os historiadores dos períodos da decadência muitas vezes referem-se a um declínio na religião, mas, se nós estendemos nossa investigação sobre um período que abrange os assírios (859-612a.C.) até nossos tempos, temos que interpretar a religião em um sentido muito amplo. Alguns definiram como "o sentimento humano de que há algo, alguma força invisível, além de objetos materiais, que controla a vida humana e o mundo natural”.
[…]
Mas esse espírito de dedicação foi corroído lentamente no Era de Comércio pela ação de dinheiro. As pessoas fazem dinheiro para si, não para o seu país. Assim, períodos de afluência gradualmente dissolveram o espírito de serviço, o que causou o aumento das corridas imperiais. No devido tempo, o egoísmo permeou a comunidade. Então, como vimos, veio o período do pessimismo com o espírito que o acompanha de frivolidade e indulgência sensual, subprodutos de desespero. Era inevitável nessas horas que os homens olhassem pra trás surpreendidos para os dias de "religião", quando o espírito de auto sacrifício ainda era forte o suficiente para tornar os homens prontos para servir, ao invés de roubar.

Mas, mesmo quando o desespero permeia a maior parte da nação, outros podem atingir uma nova percepção do fato de que somente através da disposição de auto sacrifício pode-se permitir que uma comunidade sobreviva. Alguns dos maiores santos da história viveram em tempos de decadência nacional, levantando a bandeira do dever e serviço contra a avalanche de depravação e desespero.

Desta forma, no auge do vício e da frivolidade, as sementes do renascimento religioso serão silenciosamente plantadas. Depois, talvez, de várias gerações (ou mesmo séculos) de sofrimento, a empobrecida nação, quando tiver sido expurgada de seu egoísmo e seu amor ao dinheiro, a religião recupera a sua influência e uma nova era se ajusta "Foi bom para mim que tenha sido atingido ", diz o salmista,"para que aprendesse os teus estatutos ".

XXXIX - Resumo
Como inúmeros pontos de interesse que surgiram no decorrer deste ensaio, fecho com um breve resumo, para refrescar a mente do leitor.
(a) Nós não aprendemos com a história, porque nossos estudos são breves e preconceituosos.
(b) De uma forma surpreendente, 250 anos emerge como a duração média de grandeza nacional.
(c) Esta média não variou por 3.000 anos. Será que representam dez gerações?
(d) As etapas da ascensão e queda das grandes nações parecem ser:
A Era dos Pioneiros (explosão)
A Era das Conquistas

A Era do Comércio
A Era da Riqueza
A Era do Intelecto
A Era da Decadência.
(e) A decadência é marcada por:
defensividade
pessimismo
materialismo
frivolidade
afluxo de estrangeiros
estado assistencialista
enfraquecimento da religião.
(f) A decadência é devido a:
Um longo período de riqueza e o poder do egoísmo
O amor ao dinheiro
A perda do sentido de serviço
(g) As histórias de vida dos grandes estados são incrivelmente similares, e são devido a fatores internos..
(h) As quedas são diversas porque são em grande parte resultados de causas externas.
(i) História deve ser ensinada como a história da raça humana, embora, naturalmente, com ênfase sobre a história do próprio país.

Recortes do livro “O Destino dos Impérios”

John Glubb
Mais conhecido como Glubb Pasha, nasceu em 1897, e atuou na França na Primeira Guerra Mundial, 1915-1918. Em 1926, ele deixou o exército profissional para servir o Governo do Iraque. De 1939 a 1956, comandou a famosa Jordânia Legião Árabe. Desde a aposentadoria, ele publicou dezesseis livros, principalmente sobre o Oriente Médio, e lecionou amplamente.


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