Editorial
Líderes dos três poderes têm o dever
de unir esforços para construir, juntos, uma saída emergencial para o estado.
Cortar na própria carne é bom começo
Reportagem
do GLOBO, no domingo, mostrou que a Assembleia e o Tribunal de Justiça do
Estado do Rio já custam ao bolso dos fluminenses até 70% mais do que o
Legislativo e o Judiciário de São Paulo e de Minas Gerais.
Cada
habitante do Estado do Rio desembolsou R$ 76,88 no ano passado para pagar os
gastos dos 70 deputados estaduais com sua estrutura de organismos, mordomias
(de carros de luxo aos selos postais) e séquitos de assessores bem remunerados.
Em São
Paulo e em Minas, o custo do Legislativo por habitante foi bem menor: R$ 29,40
para os paulistas e R$ 55,64 para os mineiros.
O custo
do Judiciário estadual também é muito significativo no Estado do Rio. Ano
passado, cada habitante do território fluminense entregou R$ 126,07 para
sustentar a máquina da Justiça estadual, também adepta de mordomias e vantagens
multiplicadoras dos salários básicos. Pagou-se bem menos em Minas (R$ 72,62) e
em São Paulo (R$ 75,87).
Paga-se
muito pelo Legislativo e Judiciário fluminenses. São caros porque resultam em
serviços legislativos e judiciários deficientes à comunidade. Basta acompanhar
a rotina da atividade legislativa, ou verificar os indicadores sobre a
morosidade das decisões judiciais no estado.
O custo
alto e os padrões de ineficiência compõem parte do retrato da desorganização
das contas públicas estaduais. O descontrole nas despesas desses dois Poderes é
evidente e tem causa objetiva — o abuso na autonomia orçamentária, que precisa
ser contido, revisto e revertido em médio prazo.
O peso
do Legislativo e do Judiciário nas contas do Rio vem crescendo. A Assembleia e
seu organismo de contas consumiram 1,61% do orçamento estadual em 2014. Em um
ano, sua despesa aumentou para 1,93% do gasto público total. O custo do
Tribunal de Justiça subiu de 4,61% em 2014 para 6%.
Gostem
ou não os representantes desses Poderes, o fato é que eles são corresponsáveis
pela crise de governança em que se esvaiu o erário estadual, deixando o estado
em calamidade, com ameaça real aos serviços essenciais.
A crise
não é obra exclusiva do Executivo. Um exemplo: 60% dos incentivos fiscais
concedidos nos últimos anos, e hoje questionados, nasceram nos gabinetes e no
plenário da Assembleia Legislativa, lembra o governador Luiz Fernando Pezão.
Os
custos são eloquentes e absolutamente incompatíveis com a realidade de penúria.
Não é mais possível sustentar um Legislativo de R$ 1,4 bilhão por ano, um
Ministério Público de R$ 1,2 bilhão e um Judiciário de R$ 4,2 bilhões anuais.
Os
líderes dos três Poderes têm o dever de unir esforços para construir, juntos,
uma saída emergencial para o estado. Cortar na própria carne é bom começo.
O Globo
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