JOHN LYONS e SHEN
HONG
Uma
série de bolhas tem se formado na China, provocada pela onda de dinheiro
especulativo injetado em ações, títulos de dívida e commodities.
A maior
bolha aparente é no setor imobiliário, mas os preços também subiram em ativos
de nicho, como obras de arte e antiguidades. Em maio, os preços futuros do
farelo de soja, usado como ração para suínos, aumentaram 40%. O volume
negociado atingiu 600 milhões de toneladas, nove vezes maior que o consumo
anual da China. O preço do PVC, material usado na fabricação de canos, subiu
40% este ano na bolsa de commodities de Dalian.
A
segunda maior economia do mundo está desacelerando. Crédito fácil e sucessivos
estímulos fiscais, adotados para manter a China em ascensão, disponibilizaram
um grande volume de dinheiro à procura de um número de oportunidades de
investimento cada vez menor. A oferta de dinheiro da China quadruplicou desde
2007 e esse dinheiro ficou em grande parte preso dentro do país devido aos
controles de capital do governo.
“Sobraram
bem poucos lugares para investir na economia real, então o dinheiro vai para a
chamada economia virtual”, diz Yang Delong, economista-chefe da firma de
private equity chinesa First Seafront Fund Management Co., que administra US$ 6
bilhões. Ela cortou significativamente sua posição em ações nos últimos 12
meses e migrou para títulos de dívida e commodities.
Os
preços em alta e o ritmo frenético dos negócios estão alarmando economistas e
líderes chineses, que temem que a volatilidade seja um sinal de que a expansão
de crédito da China foi longe demais e está gerando efeitos colaterais
perigosos.
“É
impossível saber quando você está em uma bolha, mas a sucessão de minibolhas é
historicamente um bom sinal de que você está em uma bolha”, diz Michael Pettis,
professor de finanças da Universidade Peking. “Teria que haver um improvável
número de coincidências econômicas acontecendo ao mesmo tempo para que todas
essas minibolhas não sejam sinais de um problema econômico maior.”
Em maio,
o Diário do Povo, jornal oficial da China, publicou na primeira página uma
entrevista com uma “autoridade” não identificada que foi elaborada por
assessores econômicos importantes do presidente Xi Jinping. A entrevista
advertia que, sem uma gestão adequada, o excesso de crédito poderia provocar
uma crise financeira sistêmica, recessão e a destruição das reservas.
Os
riscos possuem significância global. Os negócios com minério de ferro da China
fizeram os preços recuarem em todo mundo, e os mercados de ações na Ásia,
Europa e nos Estados Unidos caíram quando as bolsas chinesas despencaram no ano
passado.
Os
riscos estão crescendo porque investimentos especulativos estão nas mãos de um
vasto leque de bancos, empresas e fundos de investimentos chineses. Milhões de
consumidores colocaram suas economias em novos produtos de investimento com
rentabilidade elevada. Alguns vendedores desses produtos já entraram em
colapso, disseminando protestos.
O Comitê
Permanente do Politburo, poderoso órgão decisório, afirmou em julho que as
bolhas de ativos estão entre “os riscos e ameaças potencias que merecem muita
atenção”, segundo a mídia estatal. Analistas dizem que foi a primeira
referência do comitê à bolhas de ativos, provavelmente desencadeada pela alta
nos preços dos imóveis nas grandes cidades chinesas.
Os
preços de apartamentos em Shenzhen subiram 47,5% no ano passado, de acordo com
a firma do setor imobiliário Knight Frank, a maior alta no mundo e quase duas
vezes a registrada em Auckland, na Nova Zelândia, de 25%, a segunda maior.
Para
desacelerar o mercado imobiliário, algumas cidades chinesas elevaram as
exigências de pagamento inicial e limitaram compras. Os líderes da China não
impuseram novas medidas para conter a agitação no setor.
A dívida
total da China deve atingir 260% do produto interno bruto este ano, acima dos
154% de 2008, de acordo com analistas doGoldman
Sachs Group Inc. É
uma das maiores expansões de dívida da história moderna.
A
proporção entre dívida e PIB da China cresceu em relação à sua tendência de
longo prazo cerca de três vezes mais que a dos EUA antes da crise financeira,
segundo o Banco de Compensações Internacionais, consórcio de bancos centrais
com sede em Basiléia, na Suíça.
A farra
do crédito teve início com um pacote de estímulo relacionado com a crise, que
elevou em três vezes a dívida pública e corporativa do país para US$ 22
trilhões à medida que o Partido Comunista usava o crédito mais livre para
sustentar as estatais deficitárias e atingir as metas de crescimento anual.
Um dos
efeitos do excesso de dinheiro migrando de um lado para o outro foi o
desaparecimento de US$ 5 trilhões, ou 43%, do valor das ações chinesas na bolsa
em meados de 2015. O mercado de Xangai havia dobrado entre junho de 2014 e
junho de 2015 com os investidores tomando emprestado 2 trilhões de yuans (US$
300 bilhões) para comprar ações.
Para
estabilizar o mercado, as autoridades restringiram as operações de curto prazo
na bolsa. Dinheiro jorrou no mercado de títulos de dívida. Muitos investidores
compravam títulos novos ao fazer empréstimos usando títulos que já possuíam
como garantia, repetindo o processo inúmeras vezes.
Esse
tipo de empréstimo chegou a superar US$ 17 trilhões, 2,5 vezes o valor total do
mercado de títulos, de US$ 7 trilhões.
Quando a
rentabilidade da dívida tornou-a menos atraente, os investidores partiram para
as commodities. Os futuros do minério de ferro subiram 50% entre janeiro e
abril, fazendo com que os preços deixassem de refletir os fundamentos do
mercado, mesmo com os portos abarrotados com o produto. Os preços despencaram
em maio.
A
volatilidade tem sido uma benção para alguns investidores. Xiao Chaojiang, que
comanda o Shenzhen Ruike Investment, fundo com US$ 30 milhões em ativos, disse
que tem lucrado migrando das ações para futuros de vergalhões de aço, minério
de ferro e farelo de soja e algodão.
“Nós
seguimos de perto mudanças de políticas importantes e monitoramos o movimento
do capital no mercado”, diz Xiao, que tem todos os investimentos do fundo
aplicados em commodities. No ano passado, 70% deles estavam em ações.
Os
economistas dizem que a China ainda tem a capacidade de manter sua expansão de
crédito por algum tempo. As autoridades chinesas podem evitar uma crise quando
a inevitável desaceleração chegar. O país tem uma conta de capital fechada e
reservas enormes. E sua dívida é em yuan, mantida quase toda no país, o que
significa que há muito menos dinheiro estrangeiro para causar uma fuga de
capital.
Reverter
as bolhas tem riscos. Algumas empresas estatais que não são lucrativas precisam
de dinheiro fácil para rolar dívidas que não conseguem pagar. Pelo menos por
ora, as autoridades estão tentando controlar cada bolha assim que ela surge.
“O
provérbio diz: Há sempre uma bolha na China”, diz Eric Stein, gerente de
portfólio da gestora de ativos americana Eaton
Vance,que tem US$
13 bilhões investidos em todo o mundo, incluindo a China.
(Colaboraram Yifan Xie, Rhiannon Hoyle e Lucy
Craymer.)
The
Wall Street Journal
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