Pedro Barreto
Uma nova Previdência Social está a
caminho no Brasil. Lições podem ser tiradas de países europeus que reformaram o
seu modelo e que conseguiram – ou ainda tentam – salvar o seu sistema.
O
governo Michel Temer trata a reforma da Previdência como urgente e deixou claro
que ela será enviada ao Congresso Nacional ainda este ano, com impacto sobre
todos os trabalhadores ativos. O Brasil lida agora com um problema que já
existe em outros países. Na Europa, mudanças graduais permitiram o controle do
déficit econômico da seguridade social e estão preparando os países para
enfrentar o envelhecimento dos cidadãos.
Na
França, por exemplo, o regime geral passou por seis reformas nas últimas duas
décadas. A última, em 2010, elevou a idade mínima de aposentadoria de 60 para
62 anos, para homens e mulheres, com a previsão de atingir 67 anos até 2022. O
tempo mínimo de contribuição hoje é de 41 anos. As mudanças levaram a protestos
violentos, greves e confrontos com a polícia no país. Para o sistema, o efeito
positivo das reformas é visível: em 2011, a previdência francesa registrava um
déficit de 17,4 bilhões de euros. Em 2017, a expectativa é que ele caia para
400 milhões de euros.
Na
Noruega, símbolo de justiça social, a idade mínima exigida já é de 67 anos. Mas
é possível se aposentar mais cedo e ter acesso ao benefício integral a partir
dos 62 anos, caso o trabalhador continue na ativa. A forte atividade econômica
ajuda este modelo: mais de 70% de idosos entre 55 e 64 anos preferem trocar o
descanso pela permanência no mercado de trabalho. Em 2006, uma pensão privada
obrigatória foi instituída no país como forma de complementar o benefício do
sistema público.
Os
modelos usados na Alemanha e no Reino Unido têm semelhanças. Ajustes foram
feitos para acompanhar a expectativa de vida dos cidadãos, hoje em torno de 81
anos nos dois países. A idade mínima de aposentadoria é de 65 anos (no Reino
Unido, 62 anos para mulheres) e leis já foram aprovadas para que ela suba
gradativamente.
O Brasil
é uma das nações que adota como pilar o chamado PAYG (pay-as-you-go), um
esquema solidário de transferência entre as gerações, que contribuem para uma
espécie de reserva, feita para cobrir os gastos previdenciários. Ou seja, os
que estão hoje na ativa pagam a pensão dos inativos e assim sucessivamente.
Já na
Alemanha, o modelo PAYG tem uma ligação bem mais direta com a remuneração
individual. A aposentadoria é como uma poupança: quem recebe um salário mais
alto contribui mais – e terá uma aposentadoria mais generosa. As oportunidades
de trabalho também vêm crescendo. Nos últimos dez anos, a taxa de emprego dos
alemães entre 55 anos e 64 anos de idade aumentou de 45% para 66%.
No
entanto, as regras de aposentadoria alemãs também sofrem críticas. Hervé
Boulhol, economista sênior da Diretoria de Pensões e Envelhecimento da
População da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
explica que os alemães possuem um das mais baixas "taxas de
substituição" entre os países-membros. Essa taxa mede quanto o cidadão
mantém da sua renda quando se aposenta. Em uma taxa de 100%, por exemplo, um
trabalhador que recebia uma média de 2000 euros receberá a mesma quantia após
sair do mercado.
"Com
esse modelo, empregados com uma carreira incompleta, ou períodos de trabalhado
interrompidos podem ter dificuldades ao se aposentar," afirma.
No
Brasil, as contas do INSS nunca estiveram tão no vermelho. O balanço negativo
gira em torno de R$ 150 bilhões, 2,3% do PIB. A proposta para tentar frear o
déficit ainda não foi divulgada em detalhes, mas a equipe econômica do governo
já deu pistas. Elas apontam para ajustes na idade mínima, no tempo de
contribuição e na paridade entre homens e mulheres.
Hoje, os
benefícios da Previdência Social podem ser obtidos por três caminhos: pela
idade, quando homens chegam aos 65 anos e mulheres aos 60 anos – e tendo
contribuído com o INSS por pelo menos 15 anos; por tempo de contribuição, para
aqueles que atingiram 35 anos (homens) e 30 anos (mulheres); ou pela chamada
fórmula 85/95. Ela prevê que a soma da idade e do tempo de contribuição deve
ser igual a 85 anos para as mulheres e a 95 anos para os homens. O trabalhador
escolhe então a categoria com o melhor retorno.
Marcus
Casarin, chefe de Pesquisas Macroeconômicas para a América Latina da Oxford
Economics, explica que a flexibilidade das regras é a principal razão por que a
conta da previdência no Brasil não fecha. A grande maioria escolhe se aposentar
pelo tempo de contribuição e não pela idade, mesmo que isso signifique menos
dinheiro. Segundo ele, a idade mínima, na realidade, acaba não sendo uma
exigência.
"Devemos
aprender com reformas que deram certo em outros países, que aumentaram a idade
mínima real para a aposentadoria e fixaram mecanismos para inibir os tipos de
aposentadoria proporcional. Ao mudarmos essa regra, o individuo é obrigado a
permanecer no mercado de trabalho por mais tempo. Consequentemente, ele
contribui para o sistema por um período mais longo, e o governo economiza um
dinheiro que só será pago lá na frente", afirma.
Enquanto
o Brasil define como arrumar a casa, outros países discutem como prepará-la
para gerações futuras. Na França, a previdência já é tema da campanha às
eleições presidenciais de 2017.
Um
estudo publicado neste ano pelo Instituto Montagne,
um think-tank baseado em Paris, afirma que, ainda que a França tenha
uma dos mais baixos índices de desemprego entre os idosos, as projeções mostram
que é preciso elevar a idade de aposentadoria para 63 anos e o período de
contribuição para 43 anos. As possíveis mudanças já provocam protestos dos
trabalhadores. O problema é que muitas pessoas com idade avançada que não estão
aposentadas não têm conseguido encontrar emprego e dependem do auxílio do
governo.
"Não
há um sistema mágico, mas a verdade é que o trabalhador precisa contribuir o
suficiente", explica Boulhol. "Reformas têm custo político e
dificilmente são aplicadas no tempo desejável. Para o Brasil, o caminho nesse
momento parece claro: cortar pela raiz a aposentadoria precoce."
DW - Deuschte Welle
http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2016/02/69-fips-fundo-de-investimento-e_2.html
http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2016/02/69-fips-fundo-de-investimento-e_2.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário