JUAN CRUZ
JAN MARTÍNEZ AHRENS
JAVIER RODRÍGUEZ
MARCOS
Grandes escritores latino-americanos
analisam a morte do líder cubano para o El Pais
Vargas Llosa
Vargas
Llosa ainda está usando roupa de ginástica. Fez um pouco de esporte antes
de participar da homenagem que será prestada pelos seus 80 anos. “Sou o último
sobrevivente do boom da literatura hispano-americana”, ri o escritor antes de
tomar um gole de café com um pouco leite e lançar sua primeira reflexão.
“Espero que essa morte abra um período de abertura, tolerância, democratização
em Cuba. A história fará um balanço destes 55 anos que acabam agora com a
morte do ditador cubano. Ele disse que a história o absolverá. E eu tenho
certeza que a história não absolverá Fidel”.
Vargas
Llosa foi um dos intelectuais latino-americanos que viram na Revolução Cubana
uma luz democratizadora. Chegou a fazer parte do grupo de escritores que
visitavam Castro, mas logo se decepcionou. A perseguição aos dissidentes o
horrorizou. Havia represálias, lembra o Nobel, não apenas pelas ideias
políticas, mas também pela orientação sexual: mesmo que fossem partidários do
regime, “Castro chamava os homossexuais de enfermitos (doentinhos)”.
Héctor Abad Faciolince
“Sem
Fidel, o boom teria tido outras proporções. Alguém poderia hesitar se os
escritores eram parasitas da revolução ou se a revolução era parasita dos
escritores. Ao contrário, houve uma simbiose que funcionou nos anos sessenta,
enquanto intelectuais franceses como Jean-Paul Sartre se aproximaram dessa
árvore e dessa sombra”, afirma o escritor colombiano, de 58 anos. “Mas houve
uma ruptura e foi quando a revolução pediu que Vargas Llosa doasse o montante
do Prêmio Rómulo Gallegos, obtido por A Casa Verde, e prometeu-lhe que
seria reembolsado secretamente. Aí se viu a capacidade de corrupção da
política. Com Vargas Llosa não funcionou para eles”, conclui o autor de Somos
o Esquecimento que Seremos.
Nélida Piñón
“Fidel
acabou há muito tempo. Na verdade, foi o fim de uma utopia inatingível”, diz a
escritora brasileira, de 79 anos. “Eu o conheci. Ele era um homem que falava,
falava e falava, prolongava as histórias sem deixar que o outro dissesse nada”,
ri Piñón, para quem o líder cubano está cheio de sombras: “Impôs o terror,
perseguiu os gays, encheu as prisões”. E as coisas boas? “Que foi um construtor
de utopias, de sonhos. Mas
faz muito tempo que sua história terminou. Isso acontece com todos os
heróis: não resistem ao seu próprio heroísmo”.
Enrique Krauze
O grande historiador mexicano, de 69 anos, não
lamenta absolutamente a morte de Fidel. “Agora o mundo será menos ruim. Foi o
ditador mais longevo da história latino-americana e nunca tive sentimentos por
ele”, diz. Para o autor de Siglo de Caudillos (Século de Caudilhos),
a morte abre a possibilidade de uma abertura, especialmente na área econômica,
o grande calcanhar de Aquiles do regime. “Donald Trump verá
com bons olhos que Cuba caminhe em direção ao capitalismo, mas para ele dará no
mesmo que continue sendo uma ditadura”, conclui.
Sergio Ramírez
Para o
escritor e ex-vice-presidente da Nicarágua, a intolerância de Fidel ficou clara
quando ele decidiu obrigar o poeta Heberto Padilla a fazer uma autocrítica
stalinista para um livro que o regime tinha apontado como indesejável. “Então o
terror se manteve, veio a perseguição aos intelectuais, aos homossexuais.
Acabou em seguida com a primavera cultural cubana, instaurou a ideia de que se
estava com ele ou contra ele”, afirma Ramírez, de 74 anos.
Juan Villoro
Surpresa,
mas nenhuma tristeza. Irônico, o escritor e pensador mexicano lembra que Fidel
chegou a adquirir a condição de líder eterno. “Nós o considerávamos imortal,
mas no final vimos que era humano”. Para Villoro, de 60 anos, a morte de Castro
fecha um ciclo que estava esgotado havia muito tempo. “Tenho a idade da
Revolução Cubana e envelhecemos juntos. Foi a depositária de muitos ideais de
justiça social, mas ela mesma foi traindo esses ideais. As razões são variadas,
mas foram decisivos os seus próprios erros e a perseguição aos dissidentes.
Minha maior decepção foi o fuzilamento do general Arnaldo Ochoa”, afirma.
Daniel Divinski
“Fidel
foi um ponto de inflexão na história da América Latina, mais além dos excessos
posteriores... O pior? O avassalamento dos direitos humanos, a perseguição de
pessoas que não eram contra a revolução, mas que queriam reformas, e não
derrubá-lo”. Para o conhecido editor argentino, de 74 anos, não há herdeiros de
Fidel. “Ele acaba em si mesmo. Nos últimos tempos, decepcionou muito. Como
dizia Perón de si mesmo, já era um leão herbívoro. Surgirão outros, mas já não
haverá uma liderança individual como a sua”.
Julio Ortega
“Fidel
construiu um aparato cultural, mas paralisou a cultura. Produziu repressão e
exílios, tudo se reduzia a defender a revolução. Ele decretava quem era o bom e
o mau. E não houve só um caso Padilla, mas vários. Estamos agora em outra época
e as coisas vão melhorar”, diz o crítico peruano.
Claudia Piñeiro
“Com a
morte de Fidel, acabou o século XX”, sintetiza a escritora argentina.
EL PAÍS
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