ANTONIO TEMÓTEO
A
reestruturação promovida pelo Banco do Brasil (BB) é um reflexo da necessidade
de as estatais se adequarem à nova realidade da economia brasileira. Com a
atividade em frangalhos, as apostas de crescimento robusto se transformaram em
desafios de gestão para cortar custos e manter as empresas rentáveis. Além
disso, esquemas de corrupção em várias delas — o que não ocorreu no caso do BB
— dilapidaram seus patrimônios e as obrigaram a rever planos de investimento e
a reduzirem dívidas monstruosas.
Ao
incentivar a aposentadoria de empregados, cortar o número de agências e fechar
vagas em várias regiões do país, o BB tenta diminuir o aparelhamento promovido
durante as gestões petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.
Diversos concursos foram realizados sem necessidade, tornando-se alvos de
questionamento do Ministério Público do Trabalho (MPT).
No caso
do BB, as medidas de enxugamento foram tomadas diante da queda na lucratividade
e não devido a escândalos de corrupção. O banco gasta, em média, R$ 3 bilhões a
mais que os concorrentes privados somente com a folha de pessoal. Não é só. A
instituição quer ganhar mais espaço nas transações digitais, que custam bem
menos. O presidente da estatal, Paulo Rogério Caffarelli, projeta que, até o
fim do próximo ano, o BB terá 500 escritórios e agências digitais. Atualmente,
são 245. Ele destaca que o fechamento de agências visa reduzir custos nos
pontos em que não há “superavit”. Com a crise econômica, diversas praças
deixaram de ser atrativas, ou não têm demanda para mais de uma agência.
Em
muitos casos, o crescimento desenfreado e sem planejamento das estatais abriu
espaço para a corrupção, como na Petrobras. A empresa surfou, durante os anos
2000, em meio ao processo de alta do petróleo e da descoberta do pré-sal. A
companhia previa investir mais de US$ 130 bilhões entre 2015 e 2019, mesmo após
o estouro do maior esquema de pagamento de propinas já visto no país, desnudado
pela Operação Lava-Jato. Diante, porém, de um endividamento gigantesco, que, no
fim do ano passado, chegou a R$ 492,8 bilhões, foi obrigada a reduzir o
montante para US$ 98,4 bilhões. Em setembro, as perspectivas para as aplicações
minguaram para US$ 74,1 bilhões nos próximos cinco anos.
Todo
esse processo é fruto da falta de planejamento e das relações nada republicanas
de estatais com políticos e com construtoras. Para fazer frente aos desafios de
gestão, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou um Plano de
Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV) para até 12 mil empregados, com
custo previsto de R$ 4,4 bilhões e uma economia esperada de R$ 33 bilhões até
2020. Com 11.704 adesões até 31 de agosto, o programa custará R$ 4 bilhões aos
cofres da petroleira.
Outra
empresa pública em grave crise financeira é a Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT). A estatal lançou, em 10 de novembro, um plano de demissão
voluntária para reduzir o número de empregados, que chega 117 mil. Durante o
anúncio, o presidente dos Correios, Guilherme Campos, estimou que 14 mil
funcionários preenchem as condições para deixar a companhia. Ele avaliou que
até 8 mil funcionários devem aderir ao programa, que pode gerar economia anual
de R$ 1 bilhão com a folha de pagamento.
A
decisão de reduzir o número de empregados foi a solução encontrada após o
Tesouro Nacional recusar um pedido de capitalização de R$ 840 milhões. A
estatal negocia um empréstimo de R$ 750 milhões com o Banco do Brasil para
cobrir necessidades financeiras de curto prazo. Campos estimou, na
oportunidade, que o rombo nas contas, que deve alcançar R$ 2 bilhões até o fim
do ano, é fruto do congelamento de tarifas postais nas gestões petistas e do
pagamento de R$ 6 bilhões em dividendos ao governo entre 2007 e 2013. Sem esses
recursos, a empresa deixou de fazer investimentos e de ter caixa para cobrir as
necessidades de financiamento.
Problemas em série
Os
problemas das estatais também atingiram o setor elétrico. A Eletrobras, que, só
com a Petrobras, possui dívida de R$ 5 bilhões, revisou o Plano Diretor de
Negócios e de Gestão 2017- 2021, que prevê investimentos de R$ 35,8 bilhões no
período. O montante é 29% menor que os R$ 50,3 bilhões estimados no plano
anterior, que ia de 2015 a 2019.
A
companhia pretende reduzir em 30% o número de empregados até 2018. A
expectativa é que os programas de incentivo ao desligamento voluntário e à
aposentadoria tenham a adesão de 5,6 mil empregados e resultem em uma economia
de R$ 1,5 bilhão por ano. A empresa possui, atualmente, 18,7 mil funcionários e
a meta é chegar até 2018 com 13 mil. Não estão incluídos os 5,9 mil empregados
nas distribuidoras que serão privatizadas.
Nas
contas da Eletrobras, o plano de aposentadoria incentivada e o incentivo ao
desligamento custarão R$ 2,6 bilhões. A empresa pretende renovar o quadro de
pessoal, que possui, na holding, 38% dos empregados com mais de 51 anos de
idade, e 45% nas controladas. Esse grupo tem salário maior que a média.
A Caixa
Econômica Federal deve anunciar nos próximos dias mudanças nas suas
vice-presidências, após um fracassado plano de corte de custos iniciado ainda
na gestão de Míriam Belchior. O banco público quer privatizar parte dos ativos,
entre eles os da Caixa Seguridade, mas esse processo ainda não está claro. Com
a queda na lucratividade, o temor é de que a estatal tenha de receber um aporte
do Tesouro, fato negado pelo presidente, Gilberto Occhi.
Diante
de todos esses problemas, o governo pode ser obrigado a socorrer as empresas e
aprofundar ainda mais o deficit das contas públicas, ou seja, os cidadãos
brasileiros correm o risco de custear os imbróglios, que são fruto da falta de
planejamento, da corrupção e do aparelhamento político.
Blog do Vicente
Correio
Braziliense
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