Mtnos Calil
(*)
Na condição de um simples “outsider”
já faz um algum tempo que tenho dito:
“Morto o comunismo, só resta à
humanidade civilizar o capitalismo ou prosseguir na sua marcha em direção ao
abismo, conduzida pelos psicopatas do poder”
A vitória do Trump vai despertar nas
elites do capitalismo a consciência desta marcha em direção ao abismo. O jornal
New York Times, por exemplo, se referindo ao desejo de mudança de grande parte
da população americana afirmou:
“ That change has now placed The
United States on a precipice” – “Essa mudança colocou agora os Estados Unidos
em um precipício” (devido à vitória de Trump). -http://www.nytimes.com/2016/11/09/opinion/donald-trumps-revolt.html
O editorialista do New York Times
exagerou: os EUA foram colocados apenas à beira do precipício. Isto
não significa porém que esta colocação se deve a Trump, pois ele ainda não
assumiu o seu cargo.
Pelo contrário: a vitória de Trump
se deve ao descaso das elites americanas (republicanas e democratas) em relação
ao empobrecimento da sociedade americana provocado pela concentração da
renda e redução dos salários de grande parte da população. Durante os 8
anos de seu Governo, Obama não levou em conta a DIMENSÃO da queda da renda da
população branca que garantiu a inimaginável ascensão de um “ trampolineiro” ao
poder (este termo existe na lingua portuguesa e significa embusteiro,
trapaceiro).
No Brasil a ascensão de um
trampolineiro ao poder (Lula), se deve simplesmente ao elevado indice de
pobreza da população brasileira, que vem de longa data. E a queda de Lula se
deve ao fim do ciclo desenvolvimentista-populista que lhe possibilitou
permanecer durante 8 anos no poder ao lado de um representante dos psicopatas
do poder (Meirelles) que agora volta ao Governo para implantar um
desastroso plano de contenção de gastos que vai empobrecer mais ainda as camadas
mais pobres da população.
É curioso como grande parte dos
brasileiros responsabilizam Lula pela nosso desastre econômico, se esquecendo
do fato ( ou ignorando o fato) de que Henrique Meirelles era o executor da
politica econômica dos governos de Lula. A exemplo dos economistas do
Establishment americano, Meirelles foi (e continua sendo) um mero servidor da
oligarquia financeira que na crise de 2008 acelerou a queda dos
EUA.
A causa marcante do sucesso do
trampolineiro americano foi a queda do poder aquisitivo dos americanos
associada a um processo de desindustrialização. No Brasil ocorreu exatamente a
mesma coisa: queda de renda e desindustrialização.
Quem está HOJE mais perto do
precipício: o Brasil ou os Estados Unidos? É claro que é o Brasil. Basta ver o
que está acontecendo no estado do Rio de Janeiro, cujo governador declarou dias
atrás que só tem recursos para pagar 7 (sete) dos 13 salários dos funcionários
públicos. É evidente que os Estados Unidos ainda tem alguns fôlegos a mais que
o Brasil.
Voltando ao Trump.
Não sei se na história da humanidade
já ocorreu um fenômeno tão exótico como este: a extrema direita e a
esquerda ficaram felizes com a vitória de Trump:
La Russie et plusieurs dirigeants de
partis d’extrême droite européens ont félicité le candidat républicain.-
A Russia e muitos dirigentes de partidos europeus da extrema direita
felicitaram o candidato republicano - http://www.lemonde.fr/elections-americaines/article/2016/11/09/reactions-internationales-a-la-victoire-de-donald-trump-entre-inquietude-liesse-et-stupefaction_5028086_829254.html
É verdade que os conceitos de
esquerda e de direita se pulverizarm depois do retorno da Rússia e da China ao
capitalismo. Mas ainda (ou até ontem) a esquerda se distinguia por dar
atenção aos pobres desprezados pela direita. Essa diferença é a única que
justifica a existência dos dois conceitos ideológicos – exceto é claro para os
religiosos marxistas que têm toda a certeza que a sociedade sem classes –
fraterna e igualitária – será implantda depois da morte do capitalismo, embora
não haja data prevista para este falecimento.
Certamente Trump terá que fazer
alguma coisa pelos pobres (e BRANCOS) americanos que garantiram a sua vitória,
o que está justificando a alegria de alguns setores da esquerda. A
direita também está dividida em relação a Trump. Que eu saiba os banqueiros
americanos não queriam ver o bilionário narcisista na Presidência dos States,
que poderá acabar com a independência do Banco Central. Será que Trump vai
enfrentar mesmo Wall Street e os banqueiros americanos?
O primeiro discurso que ele fez na
madrugada do dia da apuração dos votos ele foi MUITO COMEDIDO, revelando um
estilo de comunicação que nada tinha a ver com a sua teatral campanha
eleitoral. Mas com ou sem acordos de Trump com os banqueiros, só existe uma
maneira de os EUA não cairem no precipicio: redistribuir a renda e dar emprego
para os pobres, o que seria apenas o primeiro passo de um processso
civilizatório do capitalismo americano e mundial.
Ps1. O economista Paul Krugman,
premio Nobel de 2008, adotou a mesma postura pessimista da direção do New York
Times, do qual é colunista. Ele pergunta e responde:
Pergunta : Is America a failed state
and society - É a América um estado e uma sociedade falidos?
Resposta : It looks truly possible –
Parece realmente possivel - http://www.nytimes.com/interactive/projects/cp/opinion/election-night-2016
De fato é uma possibilidade. Tudo
vai depender das reformas nos sistemas político e econômico americanos.
Coincidentemente, a salvação do Brasil também depende de reformas na politica,
na economia e na gestão da coisa pública.
Ps2. Será que durante a campanha
Trump não fez uso de um tom agressivo e teatral apenas como marketing
eleitoral? Em pouco tempo teremos o esclarecimento desta questão.
Mtnos Calil
Psicanalista,
é Coordenador do Grupo Mãos Limpas Brasil.
(*)Comentário do editor do blog-MBF: O
socialismo é um cadáver insepulto e o capitalismo, de selvagem passou para especulativo,
o que também não serve, pois continua aprofundando as diferenças.
Será que chegou a vez do Capitalismo
Social ?
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