Erick Brêtas
“Se você analisa as delações da JBS,
as da Odebrecht e as das demais empreiteiras, a conclusão é mais ou menos a
seguinte:
O Brasil foi dividido entre cinco
grandes quadrilhas nas últimas duas décadas.
A maior
e mais perigosa, diferentemente do que diz o Joesley, era a do PT: mais
estruturada, mais agressiva, mais eficiente e com os planos mais sólidos de
perpetuação no poder. Comandava a Petrobras, os maiores fundos de pensão e
dividia o poder com as quadrilhas do PMDB nos bancos públicos. Sua maior aliada
econômica (mas não a única) foi a Odebrecht. O chefão supremo, o cappo di tutti
i cappi, era o Lula. Palocci e Mantega, os operadores econômicos. José Dirceu,
até ser defenestrado, o consigliere. Politicamente equivalia ao Comando
Vermelho: pra se manter na presidência era capaz de fazer o Diabo.
A
segunda maior era a do PMDB da Câmara. Seus principais chefões eram Temer e
Eduardo Cunha. Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e Henrique
Eduardo Alves eram os subchefes. Lúcio Funaro era o operador financeiro.
Mandava no FI-FGTS, em diretorias da Caixa Econômica, em fundos de pensão e no
ministério da Agricultura. Por causa do controle desse último órgão, tinha
tanta influência na JBS. Era o ADA dos políticos — ou seja, mais entranhada nos
esquemas do poder tradicional e mais disposta a acordos e partilhas.
A
terceira era o PMDB do Senado. Seu chefão era Renan Calheiros. Seu guru e
presidente honorário, José Sarney. Edison Lobão, Jader Barbalho e Eunício
Oliveira eram outras figuras de proa. Mandava nas empresas da área de energia e
tinha influência nos fundos de pensão e empreiteiras que atuavam no setor. Por
divergências sobre o rateio da propina, vivia às turras com a quadrilha do PMDB
na Câmara, que era maior e mais organizada. Esta facção tem ainda a simbólica
figura de Romero Jucá, que circula entre todos os grupos listados nesse texto
como uma espécie de cimento que os une e protege (“delimita tudo como está,
estanca a sangria.”).
A quarta
era o PSDB paulista, cuja figura de maior expressão era o Serra. Tinha grande
independência das quadrilhas de PT e PMDB porque o governo de São Paulo era
terreno fértil em licitações e obras. A empresa mais próxima do grupo era a
Andrade Gutierrez, mas também foi financiada por esquemas com Alstom e
Odebrecht.
A quinta
e última era o PSDB de Minas — ou, para ser mas preciso, o PSDB do Aécio. Era
uma quadrilha paroquial, com raio de ação mais restrito, mas ainda assim
mandava em Furnas e usava a Cemig como operadora de esquemas nacionais, como o
consórcio da hidrelétrica do Rio Madeira.
Em torno
dessas “big five” flutuavam bandos menores, mas nem por isso menos agressivos
em sua rapinagem — como o PR, que dava as cartas no setor de Transportes, o PSD
do Kassab, que controlou o ministério das Cidades no governo Dilma, o PP, que
compartilhava a Petrobras com o PT, e o consórcio PRB-Igreja Universal, que
tinha interesses na área de Esportes.
Havia
também os bandos regionais, que atuavam com maior ou menor grau de
independência. O PMDB do Rio e seu inacreditável comandante Sérgio Cabral, por
exemplo, chegaram a ser mais poderosos que os grupos nacionais. Fernando
Pimentel liderava uma subquadrilha petista em Minas. O PT baiano também tinha
voo próprio, embora muito conectado ao esquema nacional. Os grupos locais se
diferenciavam das quadrilhas tucanas pelas aspirações e influência mais
restritas aos territórios que governavam.
Por fim,
vinham parlamentares e outros políticos do Centrão, negociados de maneira transacional
no varejo: uma emenda aqui, um caixa 2 ali, uma secretaria acolá. Esses grupos
se acoplavam ao poderoso de turno e a suas ideologias: de FHC a Lula, de Dilma
a Temer. O neoliberal de anteontem era o nacionalista de ontem, o reformista de
hoje e o que estiver na moda amanhã.
Digo
tudo isso não para reduzir a importância do PT e o protagonismo do Lula nos
crimes que foram cometidos contra o Brasil. Lula tem de ser preso e o PT tem
que ser reduzido ao tamanho de um PSTU.
Mas
ninguém pode dizer que é contra a corrupção se tolerar as quadrilhas do PMDB ou
do PSDB em nome da “estabilidade”, “das reformas” ou de qualquer outra tábua de
salvação que esses bandidos jogam para si mesmos.
E que
ninguém superestime as rivalidades existentes entre esses cinco grupos. Em nome
da própria sobrevivência eles são capazes de qualquer tipo de acordo ou
acomodação e farão de tudo para obstruir a Lava Jato.”
Alerta Total
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