Vitor Medioli
“Quando você perceber que, para
produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando se
comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores;
quando se perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais
que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário,
são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é
recompensada e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá
afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
E fomos,
assim, condenados ao atraso em que vivemos!
Exatamente
pelos motivos que a escritora russa Ayn Rand descreveu em 1917 mergulhamos
nesta vergonhosa situação nacional. Exatos cem anos se passaram, e o procurador
geral da República, Rodrigo Janot, adotou essa frase em sua acusação contra
políticos de Minas.
O
sistema tenebroso em vigência leva diretamente a uma classe política
tentacular, dinástica, que se interpõe ao progresso, priorizando interesses
insaciáveis, adotando o pé de cabra da burocracia para arrombar a nação.
Distorceu-se
a democracia, apropriando-se aceleradamente dos bens comuns, das receitas
escassas destinadas aos carentes. De costas para o sofrimento, o atraso
secular, a pobreza que assola milhões de pessoas.
“Enganam-se
muitos por muito tempo, mas não todos o tempo todo”; as cortinas caíram.
Estamos assistindo à justiça divina cobrando explicações aos culpados.
A
maioria das leis aprovadas nos últimos anos é de péssima qualidade, perdera-se
de vista o bem geral, o interesse comum. Expandiu-se uma colcha de retalhos
legislativos e de regulamentações engendradas em detrimento da maioria que
trabalha com suor.
A
delação do maior açougueiro do planeta, Joesley Batista, demonstra o pendor sem
escrúpulos de matador, distribuindo propinas de mãos cheias, desde o mais
ínfimo político até o presidente da República, conseguindo chegar aos R$ 170
bilhões anuais em receitas. Não satisfeito de ter feito do Brasil um trampolim,
abateu seus cúmplices, deixando a Janot a tarefa de processar as entranhas dos
delatados.
Não
perdoou ninguém. Confessou que pagava quase sempre para ter trânsito, simpatia,
ter leis complacentes e tapetes estendidos até na residência dos presidentes.
Pagava em grande escala para sobrevoar a burocracia e para ter a caneta dos
poderosos a seu favor. Matou as cobras e se mandou.
Empresas
que não conseguiam apoio e financiamentos caíam nas mãos deles por preços de
banana, tendo o BNDES de aliado e cúmplice, depositando centenas de milhões de
dólares em contas “à disposição” dos ministros e presidentes. O impossível para
qualquer um era fácil para ele. O sistema adotado pelo BNDES e por bancos
oficiais era o mesmo adotado com desenvoltura por Marcelo Odebrecht, Eike
Batista e outros dispostos a pagar propinas de mãos cheias. Em comum têm agora
o fracasso destruindo seus efêmeros sucessos.
Podemos
ver agora com clareza que, se a burocracia gigantesca, que subverte valores,
fosse eficiente no combate à corrupção e na tutela do interesse popular, o
Brasil seria mais próspero que a Escandinávia, mas é exatamente o contrário, um
país despedaçado que lidera o ranking de injustiça, atraso e corrupção. Somos
também líderes no abate de animais e em homicídios, mais de 60 mil por ano.
De relance gerou-se o maior
desemprego, desamparando 14 milhões de pessoas.
O Estado
precisa parar de sequestrar o desenvolvimento e, ainda, parar de criar covardes
entraves a quem trabalha.
Castigar
a propina como atividade hedionda, dar segurança jurídica para quem quer
empreender. Possibilitar um ambiente de atividades econômicas concedendo regras
claras. Banir as elites políticas e empresariais corruptas.
Em Minas
temos cerca de 20 mil empreendimentos retidos nas garras do sistema de
licenciamento. Basta investir no licenciamento, simplificar, autorizar.
Representa mais de 1 milhão de empregos e mais de uma dezena de bilhões em
arrecadação a cada ano. Somos cegos? Desperdiçamos as soluções que estão no
prato.
Espantamos
as boas energias ofendendo o bom senso com a barbaridade burocrática. Agora,
para plantar capim, precisa também de licenciamentos arqueológicos, não
bastasse outro espeleológico. Boçalidades que permitem à parentada de políticos
ganhar centenas de milhões por anos sem sair da cadeira. Impondo pedágios e
dificuldades para vender caras facilidades.
Isso
também é corrupção, e o Estado pode suprimir essas exigências dentro de suas
atribuições, exatamente por ser um motivo que atrasa a geração de empregos e de
receitas públicas. E nem dinheiro para pagar a folha dos servidores existe!
O Estado
é o maior vagabundo do sistema, e os senhores políticos que enchem de cargos
comissionados os governos e as estatais são coadjuvantes da tragédia.
O povo
de Minas sofre da velhacaria que impõe e explora o atraso e a pobreza.
O
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se comprometeu, numa recente palestra
aqui, em Minas, a derrubar as 2.600 horas dedicadas à burocracia pelas
empresas, para 450 horas, nível de país sustentável e competitivo. Mas ele,
apesar da boa intenção, se escora num presidente agonizante e, ainda, num
Congresso em decomposição, órfão, em parte, dos Marcelos, Joesleys, Eikes etc.
É
preciso parar de sequestrar o imenso potencial desta nação. Chega!
Jornal O Tempo
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