Daniela Fernandes
O
segundo turno das eleições legislativas na França, neste domingo, deve resultar
na implosão de partidos tradicionais e de forças populistas.
Ao mesmo
tempo, pesquisas indicam que o partido do presidente francês, Emmanuel Macron,
A República em Marcha (LREM) - movimento formado há pouco mais de um ano -,
poderá obter uma maioria parlamentar recorde. Ele deverá conquistar entre 430 e
470 das 577 cadeiras do Parlamento, o que representa pelos menos 75% dos
assentos.
A vitória
esmagadora prevista para Macron implica grandes perdedores: o Partido
Socialista (PS) sofrerá a maior derrota em eleições legislativas de sua
história.
Projeções
de diferentes institutos apontam que o PS deverá eleger apenas entre 20 e 35
deputados, o que deve resultar na perda de mais de 250 cadeiras.
Será o
menor número de eleitos do partido desde 1905, quando houve a unificação das
forças socialistas no país. E representará ainda quase dez vezes menos do que a
maioria parlamentar obtida pelo presidente socialista
François Hollande após sua eleição,
em 2012
Várias
personalidades do partido foram derrotadas já no primeiro turno, como Benoît
Hamon, que disputou a eleição presidencial, ou o primeiro secretário do PS,
Jean-Christophe Cambadélis.
Alguns
bastiões históricos dos socialistas no país já perderam todas as suas cadeiras
no Parlamento após o primeiro turno, no domingo passado, marcado por uma
abstenção recorde, de 51,3%.
A
presença fortemente reduzida no Parlamento também trará perdas financeiras significativas
de subsídios políticos para o PS, de vários milhões de euros. Com isso, o
partido poderá ter de vender sua icônica sede, situada em um bairro nobre de
Paris.
Ainda
assim, candidatos socialistas como o ex-primeiro-ministro Manuel Valls ou a ex-ministra
da saúde Marisol Touraine (filha do sociólogo Alain Touraine) têm chances de
serem eleitos.
O
partido de Macron optou por não apresentar candidato na zona eleitoral de Valls
e Touraine e de outros nomes socialistas, o que evitou que eles tivessem de
enfrentar rivais da Em Marcha. Com isso, esses socialistas fizeram campanha em
nome da "maioria presidencial" e não de seu partido, que sofre
grandes divisões internas.
Fracasso de Le Pen
O
desempenho da Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, da extrema direita,
também é visto como um fracasso. O partido, que hoje tem dois deputados, deve
eleger apenas entre um e seis, segundo pesquisas.
O baixo
número de cadeiras da FN, que não permite nem a criação de um grupo parlamentar
(no mínimo 15 deputados), enterra os planos de Le Pen de liderar a oposição no
país.
Após as
eleições presidenciais, em maio, quando ela obteve 10,6 milhões de votos no
segundo turno, um recorde na história do partido, a extrema direita estimava
que iria conquistar várias dezenas de cadeiras nas legislativas - pelo menos
50.
Mas a
desilusão é grande: a FN acabou tendo menos votos (600 mil a menos) no primeiro
turno das legislativas, em 11 de junho, do que na mesma votação em 2012, apesar
de na época Le Pen sequer ter conseguido chegar ao segundo turno da
presidencial.
A FN
também é a formação política que teve o maior recuo no número de votos no
primeiro turno das legislativas na comparação ao primeiro turno das
presidenciais, em maio: 4,7 milhões de votos a menos.
Le Pen
disputa as legislativas é a única de seu partido com grandes chances de
vitória. Ela concorre em um dos grandes bastiões da FN, no norte da França.
Gilbert
Collard, atual deputado da FN e uma das figuras mais importantes do partido,
corre o risco de não ser reeleito. A disputa é acirrada contra a toreadora
Marie Sara, da LREM, totalmente desconhecida na França. Collard teve apenas 48
votos a mais do que a toreadora no primeiro turno.
Após o
fracasso da extrema direita nas legislativas em relação às previsões iniciais
do partido, a FN estuda mudar de nome e terá de lidar com sérios rachas
internos em relação à linha ideológica do partido.
Alguns
membros acham que foi um erro Le Pen ter focado seu discurso em questões
econômicas e na saída da França da zona do euro.
Analistas
estimam que os eleitores que votaram em partidos radicais nas presidenciais
(que geralmente têm a maior taxa de particiapção eleitoral) se desmobilizaram
com a derrota de seus candidatos no pleito mais importante e não votaram nas
legislativas.
Le Pen e
o esquerdista radical Jean-Luc Mélenchon totalizaram 40% dos votos no primeiro
turno da eleições presidenciais. Mas seus partidos, caso obtenham o número
máximo indicado nas pesquisas, conquistarão menos de 5% das cadeiras do
Parlamento.
Conservadores racham
Os
conservadores, de Os Republicanos (LR), também correm o risco, como os
socialistas, de sofrerem uma derrota histórica nessas legislativas.
O LR
terá melhor desempenho do que o PS e outros partidos. Pesquisas indicam que ele
poderá conquistar de 60 a 100 cadeiras. Ou seja, terá no máximo a metade dos
200 deputados que possui na atual legislatura.
Se a
direita tradicional ficar abaixo de 100 cadeiras, como preveem algumas
projeções, será o menor número de deputados de sua história.
Os
conservadores enfrentam um racha entre políticos do partido que apoiam Macron e
fizeram campanha em nome da "maioria presidencial" e os que se
colocam na oposição ao governo.
Em razão
disso, alguns conservadores deverão se unir aos "macronistas" no
Parlamento e ficar fora do grupo de seu próprio partido.
Outros
conservadores querem criar um grupo intermediário entre a ala direita da
maioria presidencial e os Republicanos.
Essas
divisões enfraquecem o partido de direita tradicional - que alternou, com o PS,
o poder na França por décadas.
As
pesquisas indicam ainda que o LREM, de Macron, poderá obter sozinho, sem seu
aliado centrista MoDem, 380 cadeiras (o MoDem deve obter cerca de 50).
Além de
possivelmente conseguir um recorde para um único partido no Parlamento, a
agremiação do presidente poderá dispor, sem aliados, de ampla maioria absoluta.
Críticos
afirmam que a maioria esmagadora de mais de 400 cadeiras irá reduzir o debate
democrático no país.
O
segundo turno das eleições legislativas deve também ser marcado por um novo
recorde de abstenção, que pode chegar a 54%, segundo pesquisas.
Na
prática, se a alta abstenção se confirmar, significará que nunca um partido na
França terá conseguido eleger tantos deputados com tão poucos votos.
De Paris
para a BBC
Brasil
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